XVIII - Os tempos não voltam

739 121 69
                                    

"Botões de elevador e ar da manhã, o silêncio estranho me faz querer pegar as escadas, se você estivesse aqui nós riríamos dos olhares vagos" - Ours, Taylor Swift

***

Seria mentira se John Rutherford tentasse convencer alguém de que não estava se sentindo nervoso. Suas mãos transpiravam em excesso, e ele sentia como se a gravata justa em seu pescoço, pudesse sufocá-lo a qualquer momento.

Passou a mão pelo paletó cinza que houvera pegado emprestado do pai, afastando com cuidado o pouco de poeira que se acumulou ali. Aquele costumava ser o traje favorito do pastor para usar aos domingos, e agora estava daquele jeito, empoeirado no fundo de um guarda-roupa velho, no quartinho de um hotel barato que John teve que aprender a chamar de lar.

Sentia falta da fazenda, da praia, da caminhonete, de tudo que envolvia a vida que levou na Geórgia. Mas sabia que não podia se lamentar. John já não era mais um garoto, e, embora ainda sentisse falta da mãe, sabia que precisava ser forte pelo seu pai, assim como Frederick foi forte por ele primeiro.

Ele detestava o cheiro de álcool 70 impregnado no ar, o barulho dos aparelhos funcionando, a cor das cortinas azuis que separavam um leito do outro, tudo isso lhe causava uma terrível sensação de desconforto, e lhe faziam lembrar, inevitavelmente, da perda. Mesmo assim, naquela manhã, assim como fazia em todas as outras, passou pelo hospital antes de seguir para sua rotina diária.

– Você está muito elegante – Frederick disse quando a mão do filho repousou sobre a sua. – Sua mãe estaria orgulhosa.

John sorriu com o elogio, ainda que, no fundo, não tivesse vontade alguma de sorrir. Ver seu pai naquela situação, acamado, assistindo enquanto seu estado de saúde apenas regredia a cada dia, exatamente como aconteceu com sua mãe, às vezes lhe dava vontade de desistir de viver.

Então respirou fundo e contou mentalmente até dez.

Judith estava certa. Era bom ele fazer a faculdade, começar o estágio, precisava manter a mente ocupada. Às vezes parecia que a própria vida era peso de mais pra carregar sobre as costas.

– O senhor Jones perguntou de você – contou e isso arrancou um sorriso do pai.

– Como vai o grande Ben?

– Bem, eu aposto – o garoto disse com tom de sarcasmo. – Como poderia não estar? Ele tem tudo. A vida perfeita, a carreira perfeita, o escritório perfeito, a filha perfeita.

– Alison? – Ele arqueou a sobrancelha e John assentiu. – Já faz algum tempo, mas ela é uma boa garota. Vocês costumavam ser próximos.

– É costumávamos. – Ele sacudiu os ombros. – Depois o verão acabou.

John nunca entendera o motivo pelo qual Alison houvera se afastado, e, mesmo assim, não estava magoado. Ele achava que essa era a lei da vida, pessoas estranhas de repente se tornavam grandes amigas, e pessoas próximas de repente tornavam-se estranhas.

Essa, em sua opinião, era a maneira mais fácil de perder alguém. Ele já houvera tido perdas mais dolorosas.

Ficou mais alguns minutos ali conversando com o seu pai à beira do leito, ouvindo a máquina apitar de segundo em segundo. Aquele maldito apito que lhe causava imenso desespero, como se, a qualquer momento, ele pudesse tornar-se um silvo longo e então os médicos entrariam correndo cheios de máquinas, o afastariam dali a força, e ele ficaria no corredor por horas em pé esperando notícias.

Ele se lembrava daquela sensação com detalhes, talvez por isso tenha saído dali o mais rápido que pode. Mas também porque precisava pegar o transporte público para o trabalho.

Todas as Estrelas da GeórgiaWhere stories live. Discover now