XXIX - Vultos de Memórias

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"Você vai me amar quando as batidas do meu coração pararem? Quando meu coração parar você ainda será meu?  Você promete que vai procurar por nós? Você vai me encontrar depois da vida?" Afterlife - Hailee Steinfeld

Quando Alison Grace abriu os olhos, não fazia a menor ideia de onde estava ou de como houvera chegado ali. Tudo que ela via eram luzes e sombras, o mundo todo estava embaçado e ela sentia cansaço. Muito cansaço. Precisou piscar algumas vezes até que a sua visão pudesse se focar em alguma coisa.

Não fazia ideia de que houveram se passado três dias desde a última vez que as suas íris azuis entraram em contato a luz do dia. Não fazia ideia de nada. Não se lembrava do acidente, da viagem, ou de qualquer coisa daquele último dia em que decidiu que fugiria para Geórgia com John.

Se lembrasse, olharia para trás e diria que fora uma decisão idiota, assim como John.

Ele sim se lembrava, mas fora tanta adrenalina correndo em suas veias, que tudo que restou foram vultos de memórias embaçadas e turbulentas, como se houvesse vivido aqueles momentos de terror em um corpo que não fosse o seu.

De repente o silêncio da madrugada fora quebrado por barulhos: Sirenes altas, vozes, o bipar constante do eletrocardiógrafo enquanto as linhas se desenhavam, subindo e descendo, indicando que Alison Grace ainda estava viva. Isso era tudo que ele queria escutar. Tudo que precisava saber.

As lembranças estavam bagunçadas dentro de sua cabeça, como estavam os sentimentos no seu coração.

Ao contrário de Alison, fazia três longos dias que não dormia. Quando o cansaço o vencia, ele o vencia de volta com cochilos breves na sala de espera, sendo desperto por pesadelos em que ele não conseguia tirar Alison Grace do carro antes que o mesmo entrasse em combustão.

Eram apenas sonhos tenebrosos. Ele houvera sim feito aquela proeza. Houvera salvado a vida da garota que amava e feito isso mais de uma vez.

Teve algumas queimaduras de segundo grau no braço, mas tirou-a dali intacta, ou quase isso.

Uma concussão cerebral, esse foi o diagnóstico médico. Foi o que levou a garota ao coma por três dias, e fora também o que prejudicou sua memória. Também houvera fraturado alguns ossos, e conseguido alguns cortes fundos na pele. Perdeu muito sangue, mas o pior já houvera passado.

— Foi um milagre — disse o médico abrindo mão de protocolos.

E aquela era a única explicação viável.

O sangue de Alison era O-, o qual só pode receber doação do mesmo tipo sanguíneo. O tipo mais raro.

Bennet possuía o mesmo sangue que a filha e poderia doar, mas, dada a gravidade do acidente, cada minuto contava, e não havia tempo hábil para esperar sua chegada.

John se prontificou, claro, e teve o sangue testado.

O milagre estava ali. O milagre era ele. John Rutherford e Alison Grace compartilhavam o mesmo tipo sanguíneo e graças a ele a vida de Alison fora salva outra vez.

Embora o seu ceticismo insistisse em dizer que um suposto milagre não contava vindo logo depois de um desastre, seu lado mais esperançoso se agarrava ao filete de fé que sobrou no seu corpo. Às vezes ele ainda gostava de se apegar às palavras, que fora tudo o que restou de seu pai.

Tudo se resolve no tempo de deus.

Foi isso que o pastor Frederick disse olhando nos olhos do filho na noite em que precedeu a sua morte.

O tempo divino, entretanto, poderia ser três dias ou três vidas inteiras. John não era tão paciente, precisava das coisas resolvidas no tempo dos homens.

Alison Grace poderia até ser tida como a "controladora" entre eles, sempre tentando traçar planos para tudo, entretanto, John Rutherford também não se conformava quando as coisas não saiam conforme o esperado.

Eles tinham muito mais em comum do que só o sangue correndo em suas veias.

Se compartilhavam DNA, não sabiam ainda, mas a essa altura Alison era sim sangue do sangue dele. Fato este que, ao acordar, ela própria desconhecia.

Quando o médico levou a notícia aos familiares, foi uma comoção coletiva. Christina Rose estava tremendo, como nunca houvera tremido antes. Naquele momento, julgava a si própria por todas as vezes que foi dura demais com Alison. Quis tanto educar a filha para ser forte, que acabou enfraquecendo a sua relação com ela.

Houvera valido a pena?

Naquele momento, tinha certeza absoluta de que não. Quando o médico disse que Alison houvera acordado, tudo que Christina queria fazer era abraçar a filha o mais forte que pudesse e dizer que a amava.

Já Bennet e a vovó Judith estavam tão emocionados que não conseguiam manter as lágrimas dentro dos olhos.

John Rutherford, por sua vez, até poderia estar chorando, mas não chorava. Pelo contrário, ele sorria, e ria, e não conseguiria demonstrar em palavras o tamanho da alegria que sentia.

Mais tarde, naquela mesma noite, não contaria para ninguém, mas iria até a capela do hospital, e se ajoelharia para agradecer. Deus, se é que existia, houvera lhe tirado muitas coisas, mas ao invés de sofrer pelas perdas, ele preferiu sentir-se grato por aquilo que ganhara.

Ele amava Alison Grace.

Ela, entretanto, não entendia porque todos pareciam tão felizes e emocionados por revê-la. Não entendia o motivo para as flores e as mensagens de carinho. Não sabia que era um milagre estar ali, e estar viva.

As lembranças dos três dias que passou desacordada eram recobertas por uma nuvem de fumaça, que aos poucos iria se esvaecer. Com o tempo, a garota se lembraria das vozes que ouvia como um eco no fundo da sua cabeça.

John Rutherford chorara ao seu lado por dias, vendo a última pessoa que amava definhando bem diante dos seus olhos. Não aguentava vê-la naquele estado. Ver seu corpo funcionando através de máquinas era doloroso demais.

Ele pensou que a perderia, mas aquela não era a sua hora.

No momento, os três últimos dias eram um branco, mas com o tempo Alison se lembraria de tudo o que vira e que vivenciara.

Enquanto seu corpo permaneceu preso àquele leito de hospital, seu espirito solto viajou livremente. Vagou pelas ruas da Geórgia, visitou a praia onde ela e John deram o seu primeiro beijo, viu flores e viu estrelas, e viu o amor que nem sabia que a cercava.

Mudou.

Ao acordar naquela noite, Alison Grace não fazia ideia, mas era uma nova pessoa. Alison não sabia, mas houvera renascido aquele dia.

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Volto em breve, obrigada por me acompanharem até aqui!

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Todas as Estrelas da GeórgiaWhere stories live. Discover now