XIX - O Rumo Inalterável das Coisas

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"Eu estou à beira do precipício, assista enquanto mergulho. Eu nunca vou tocar o chão. Caio através da água, onde eles não podem nos machucar. Estamos longe da superfície agora" -  Shallow - Lady Gaga, Bradley Cooper.

 Estamos longe da superfície agora" -  Shallow - Lady Gaga, Bradley Cooper

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As últimas semanas haviam sido de um rebuliço absurdo. John jamais houvera pensado que se tornaria um daqueles adultos cuja vida se resume a cumprir suas obrigações, e que, vez por outra, recebe uma ligação de alguém querido que não vê há muito tempo e tudo que pode fazer é culpar a tão famosa 'correria'.

– Tem tudo estado uma loucura vó – admitiu ao telefone. – É só isso.

Desde que iniciara o estágio no escritório de advocacia Rose & Jones tudo tinha se tornado ainda mais conturbado do que ele já estava acostumado a lidar. Tudo a que sua vida se resumia era em ir do hospital ao estágio, do estágio à faculdade, da faculdade ao hospital, e vez por outra, passar a noite na suíte de hotel que ele não tinha escolha, a não ser chamar de casa.

Havia noites em que simplesmente não tinha condição emocional de dormir, como havia sido a última delas.

O estado de saúde do seu pai havia piorado, aliás, tudo que fazia era piorar, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, como uma ampulheta contando o tempo que lhe restava.

Era como viver em um deja vu, John Rutherford já havia vivido aquilo antes.

Ele até chegou a pegar um cochilo sentado na poltrona desconfortável ao lado do leito de Frederick, mas não podia chamar aquilo de sono, muito menos de descanso.

O seu cansaço físico e emocional era tão evidente, que fez com que Alison Grace parecesse preocupar-se com ele logo pela manhã, e era a provável razão pela qual a garota decidira ligar para a avó Judith e pedir por uma espécie de intervenção.

– A Alison está fazendo uma tempestade em copo de água, você a conhece – ele protestou. – Não tem nada de errado comigo, tá bem? O papai está na internação, não resta escolha se não aguardar na fila pelo coração, e eu estou dando um jeito de descobrir como vamos pagar pela cirurgia quando isso acontecer. Vai ficar tudo bem, não é exatamente isso que a mamãe diria se estivesse aqui?

– É exatamente o que ela diria, John querido – a voz doce respondeu um pouco chiada vinda do lado oposto da linha.

John recostou-se sobre a porta de madeira do banheiro e esfregou as mãos pelos próprios fios de cabelos loiros, despenteando-os ainda mais. Tudo que ele queria era não causar mais preocupações à Judith, e Alison com sua teimosia houvera conseguido comprometer essa missão.

Sua vó houvera ficado na Geórgia, e mesmo que quisesse, não poderia fazer nada pra impedir o rumo inalterável das coisas.

Deus queria daquele jeito, era isso que o Frederick dizia ao filho todos os dias. Que Deus escreve certo por linhas tortas, e que ele tinha um plano pra tudo isso. Por mais que John parecesse concordar, e que acompanhasse as orações de seu pai toda manhã, ele sabia dentro de si que já não acreditava mais naquilo.

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