01 de dezembro - Parte 01

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Conseguia ouvir o barulhinho do ar condicionado em cima da minha cabeça, o zum zum zum que produzia enquanto eu estava cada vez mais nervosa naquela salinha de espera. Uma gota d'água caiu diretamente em minha franja, dividindo o cabelo ao meio, alguns fios molhados e o restante seco. Pelo menos não sentei de frente para ele e fiquei morrendo de frio, pensei enquanto tentava dar forma a franja novamente. Passei os olhos por todas as outras pessoas naquele ambiente. Algumas eu já conhecia de outras reportagens, outras eram totalmente novas, mas todas estavam absortas em suas anotações.

É engraçado pensar que estamos todos aqui pela mesma pessoa, mas sairemos daqui com diferentes matérias. Alguém, com sorte, se daria muito bem e venderia milhares de cópias a que os demais.

Por favor, universo, faça com que esse alguém seja eu.

Finalmente eu seria a garota a escrever a reportagem da capa. Me esforcei muito por isso durante os últimos meses. Quer dizer, sei que não é isso que quero fazer para o resto da minha vida, mas é o que faço no momento. É preciso se esforçar para ser a sua melhor versão hoje, certo?

Depois de notar como os outros jornalistas estavam vestidos, comecei a questionar meu próprio visual. Talvez uma calça preta desbotada e uma blusinha - também preta - não fossem a melhor escolha quando se vai entrevistar a celebridade do momento, Sean Hill. Pelo menos meu cabelo está ok. As outras mulheres estavam todas de vestidos e saias, uma delas em especial usou uma grande saia azul, na qual ela parecia extremamente confortável com si mesma. Eu nunca usaria essa peça para a ocasião, teria medo de me vestir além do necessário e fazer papel de ridícula, mas claramente não era o caso dela.

Fui invadida por lembranças de meus últimos dias e instintivamente procurei pela mão esquerda da mulher muito-bem-vestida-mas-não-exagerada. Ela também tinha uma aliança de noivado, mas nem se comparava a beleza da minha. Me peguei relembrando o momento de meu pedido de casamento enquanto encarava o anel em minha mão.Quanta sorte eu tenho? 26 anos e eu já encontrei uma pessoa tão boa, que se importa tanto comigo.

Talvez eu precisasse revisar minhas anotações como todos os outros, mas a ansiedade estava me consumindo no momento. Era minha primeira grande entrevista, e tenho certeza que grande parte do motivo de eu ter sido designada para ela foi por terem descoberto a influência de Mateo. Sim, eu me esforcei bastante, mas ninguém recebe uma capa em tão pouco tempo de empresa.

"Você não poderia ter escolhido melhor!" – Resolvo mandar uma mensagem para ele, tentando me distrair. Aproveito para incluir uma foto do meu dedo com o anel, em frente ao meu sorriso gigantesco. Tenho dificuldade em tirar selfies em público, mas achei que ele merecia saber o quanto eu estava feliz, mais uma vez.

"Que bom que você gostou (: Logo estarei de volta e podemos ficar juntos por mais tempo" – Mateo me responde quase instantaneamente

"Que rápido! Que horas são aí na Itália?"

- Eleeena Amaral! – Pude ouvir gritarem meu nome com um sotaque americano. Provavelmente a empresária de Sean, com quem eu havia falado anteriormente para agendar a entrevista.

"Sou eu agora! Me deseje sorte e um possível furo 😉" – acrescento na última mensagem.

Enquanto caminhávamos juntas para a sala que ele estava nos esperando - eu caminhava, ela basicamente corria, tentando acelerar meu ritmo a todo momento - recebi algumas instruções dos temas que eu poderia e não poderia abordar:

· Não perguntar sobre o término do namoro com Ammy – Droga, lá se vai minha primeira pergunta pelo ralo.

· Não perguntar sobre o término do namoro com Laura – OK.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt