01 de dezembro - Parte 06

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- Sabe que nem foi tão difícil, mesmo sem entender nada da sua língua? Quero dizer, o tradutor me ajudou, mas deu para seguir as imagens também.  – Ouvi assim que abri a porta de casa – Agradeça sua amiga por mim e, aliás, avisa para ela que eu já paguei, ok? Cadastrei meu cartão no site para fazer a compra. Mas vamos aguardar antes de eu me gabar, certo? Vai que chega um lagarto no lugar do peixe. – Sean disse, enquanto fechava meu computador e saia da cadeira na qual estava com as pernas dobradas de uma maneira esquisita, quase como uma criança.

Esbocei um pequeno sorriso da brincadeira dele, mas a verdade é que eu não fazia ideia de como contar que ele deveria atender a porta sem fazer com que a Nina parecesse uma maluca. Passei um tempo encarando o piso de madeira de casa. Todos os veios e os pequenos detalhes. Eu gostava daquele tom.

Respirei fundo e comecei:

- Na verdade, preciso te contar uma coisa... Você lembra de quando ainda não era famoso? Talvez você tivesse vontade de conhecer uma atriz ou algo parecido, certo? Aquela sensação engraçada de ver ao vivo alguém que você só viu no Instagram, sabe? Então, é isso que está acontecendo com a responsável por buscar nossas sacolas. Acho que você terá que agradece-la pessoalmente. Eu fiquei pensando em um milhão de maneiras de te convencer a abrir a porta quando a campainha tocar, mas eu não acho que conseguiria inventar nada plausível. Queria muito que ela não parecesse louca por isso.... – Reparei em sua expressão, Sean parecia se esforçar para segurar o riso – Não é para rir! Ela duvida que seja realmente você, em carne e osso aqui, por isso me chantageou. Então, ou temos comida com você atendendo a porta, ou temos paparazzi comigo descendo para buscar. Obviamente eu escolhi a primeira opção.

Assim que terminei a frase, ele desatou a rir da minha cara.

- Então, basicamente você foi chantageada e cedeu?

-De tudo que eu falei, você só reparou na chantagem?

- Lena, sua pequena inocente.

- Eu não sou, não! Você não sabe como mulheres se tornam competitivas quando se trata de encontrar um menino bonito. – Levei a mão em direção a minha boca no momento que eu terminei a frase, como se eu tentasse recolher as palavras ditas, mas elas já haviam escapado e não havia como voltar atrás. Sabia que minha atitude era extremamente infantil. Eu não devia me preocupar por simplesmente chama-lo de bonito, mas eu não sabia como ele iria reagir a essa afirmação. Eu queria que ele achasse que não fazia nenhum efeito em mim, que eu não era como todas as outras milhares de garotas que possuem uma queda por ele.

Não, eu não era tão boba para cair na dele em menos de uma hora.

Aliás, eu nem era mais uma garota. Eu já estava muito velha para ter uma queda pela ilusão que eu criei de um artista que admiro.

- Menino? É assim que você me vê?

Ufa. Soltei o ar com tanta força que tenho certeza de que Sean pode notar. Pelo menos ele não havia reparado na parte do bonito.

- Quantas perguntas! Eu achei que esse era o meu papel, não? – Disse, na tentativa de deixar para lá de uma vez por todas esse tópico. O fantasma da frase dita sem pensar ainda estava me perseguindo. Além do mais, uma leve tenção poderia fazer com que ele se fechasse e eu não teria mais nenhuma resposta legal para minha matéria.

Foi só quando pensei na entrevista novamente, que pude notar a mudança de ordem em minhas prioridades. Naquele momento, eu estava mais preocupada com Sean magoado, do que com o final da entrevista.

Foco, Elena. Você não pode se perder, não tem tempo para isso.

- Mas só para confirmar, você topou abrir a porta para ela, certo?

- Certo.

- E o que teremos para jantar?

- Essa é a próxima pergunta para a entrevista?

Ai.

Dava para sentir o rancor em suas palavras afiadas, mas também em sua expressão. Seus olhos estavam carregados de sarcasmo e, por um instante, senti que estraguei tudo.

Mas também, como eu poderia estragar tudo só por assumir que o acho bonito?

Quero dizer, ele é aquele tipo de pessoa que, no instante em que sabe que faz efeito sobre o outro, perde o interesse completamente? Esse é o único motivo que eu consigo encontrar para esse comportamento.

Vai ver que Sean Hill não é nada além de um conquistador barato, que precisa saber que todas as mulheres do mundo estão na dele e, quando tem certeza, passa a acha-las extremamente descartáveis.

Agora era eu quem estava brava. Quem ele acha que ele é?

De que vale uma entrevista com um hiperfamoso, se ele também é um hiperbabaca? É por isso que eu preciso largar esse emprego e me dedicar ao que eu realmente gosto.

- Me desculpe por falar que te acho bonito. Eu retiro o que disse. Será que você pode não dar uma de garoto mimado para que possamos continuar a entrevista? – A frase saiu mais áspera do que eu gostaria, mas naquele instante eu nem ligava. EU o salvei do mar de paparazzi. Ele está na MINHA casa, MINHA amiga vai buscar nossa comida. Tudo bem, comida que ele vai cozinhar, mas porque ele QUIS! Será que ele poderia agir como um ser humano normal para que a gente pudesse acabar logo com isso? 

- Que? Não! Você entendeu tudo errado. Por que eu ficaria bravo por você me achar bonito? Não é nada disso e... Espera, você não me acha mais bonito? Não estou entendendo nada, Lena.

Eu também não estava.

Qual era a dele? E por que meu nível de braveza estava diminuindo?

Sean segurou na minha mão repentinamente, e eu senti meu estômago congelar. Na verdade, esse foi só o primeiro órgão, depois todos os outros o acompanharam.

Não consegui evitar e encarei sua mão na minha por um tempo. A temperatura da sua pele tocando meus dedos, de leve. Um arrepio subiu pelo meu braço, desde seu toque, até meu ombro.

Por favor, que ele não tenha notado.

- Podemos deixar isso de lado? Eu não queria te magoar, me desculpe. Vamos começar de novo?

Foi a primeira vez em algum tempo que eu percebi que não estávamos falando minha língua natal. O arrepio me fez sentir como se eu tivesse acordado, e a cena toda me pareceu distante, como num filme – e o inglês só aumentou essa sensação.

Quando voltei a me concentrar, notei que estava soltando meu segundo grande suspiro de alivio do dia. Apertei um pouco a mão dele e pude sentir que estava começando a suar. Soltei depressa e esfreguei as palmas em minha calça tentando ser discreta.

Por favor, que ele não tenha notado meu nervoso. Esse pensamento estava se tornando bastante comum.

- O que você me diz, Lena? Tudo certo? Ou vou ter que reclamar de você no Instagram? Ninguém vai querer ler sua reportagem, heim! – Sean provocou, levantando uma bandeira de paz. Senti seu olhar inseguro, como quem busca qualquer sinal no outro, mapeando meu rosto enquanto tentava encontrar algo que indicasse que está tudo bem.

Sorri de volta, e o terceiro suspiro de alívio não veio de mim.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ