01 de dezembro - Parte 08

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Escolhi músicas que Sean precisava conhecer ao visitar o Brasil. Minha playlist começava com Partilhar, do Rubel. Mais para frente, passaríamos por Tiago Iorc, Ana e Vitória e até Caetano. Não pude evitar algumas perdidas em inglês também, afinal, eu não resisto a um bom e velho Nick Jonas.

- Você tem taças?

Ele me pegou de surpresa. Além do mais, fiquei pensando se ele já tinha idade para beber em seu próprio país, não seria eu a responsável por introduzir o menino à vida boêmia.

Peguei as taças, ainda em dúvida.

- Você já tem idade suficiente para beber, não é? – Não pude evitar a pergunta, mas por pura provocação. Eu já havia me lembrado que ele tinha sim idade para isso.

Sean revirou os olhos e tirou as taças de minhas mãos.

- Espero que goste de espumante – completou.

Eu sempre adorei. Fazia um tempinho que não jantava em casa, principalmente tomando uma taça de espumante. Por um instante, fiquei muito feliz por aquele momento, o sorriso brotando pelos cantinhos no meu rosto.

Dei o primeiro gole, o gosto frutado brincou pela minha boca, com suas pequenas bolhas.

Puxei uma cadeira para mais perto da cozinha, ele já havia dominado minhas panelas. Naquele momento, assim como na música, a vida era boa e eu estava feliz em partilha-la com Sean, que nem me parecia mais a mesma pessoa de antes. Ele estava feliz também, de um jeito simples, sincero.

Da sacada, era possível ver todas as luzes acessas dos prédios vizinhos. Esse foi um dos motivos para ter escolhido esse apartamento. Eu amo a vida nessa cidade. Quando era pequena e estava chegando de carro em São Paulo, adorava ver as luzes de longe, que me lembravam o Natal, minha data favorita.

- Eu gosto das luzes da cidade também. – Sean atrapalhou minhas lembranças, aparentemente minha expressão havia me dedurado. – Gosto de pensar que em todas essas luzes acessas tem alguém, vivendo uma vida que eu não conheço. Alguém que eu possa vir a conhecer, ou alguém que nunca sequer vai passar pela minha existência. Mas, de alguma maneira, eu não me sinto sozinho no mundo quando penso nisso. Mesmo quando eu não estiver mais aqui, na sua casa, nós estaremos existindo ao mesmo tempo e isso nos torna tão próximos, você entende?

Fiz que sim, movimentando a cabeça. Muito mais profundo que as luzes de natal.

- O que eu quero dizer é que estarmos vivos ao mesmo tempo significa que estamos compartilhando alguma coisa. Gosto de sentar e imaginar o que aquela moça do terceiro andar está fazendo no momento. Gosto de pensar que ontem eu nem sabia da que você existia, mas você e eu estávamos vivendo alguma coisa, nas mesmas horas.

- Assistindo a novela das oito.

- O que?

- Eu acho que é isso que a moça do terceiro andar está fazendo. Ela provavelmente tem um gato, que só come arroz com peixe. E ela gosta muito de novelas, não perde um capitulo. Mas não é velha, só tem um espirito mais idoso.

- E aquele casal, no outro prédio?

- Eles são recém-casados. Acabaram de voltar do Havaí. Está na moda, sabe? A casa deles é toda novinha, dá para sentir o cheiro do sofá que acabou de sair da loja. – Tomei um gole da bebida, enquanto pensava na continuação da história.

- É, eu posso sentir. É um sofá bonito, de couro preto, novinho.

- Exatamente!

- E o álbum do casamento ainda não ficou pronto.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant