02 de dezembro - Parte 01

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Acordei com um novo cheiro que, aparentemente, havia tomado minha casa.

- Bacon e ovos – falei baixinho.

Tive que forçar a memória para entender o que havia acontecido na noite anterior. Flashes de Sean e eu na sala, vendo filme e lendo meus poemas, nós dois correndo dos paparazzi. Todas as imagens passaram rápido pela minha memória.

Coloquei a mão em meu rosto e senti que a situação não era a melhor. Havia um pouco de saliva seca perto da minha boca e meus olhos pareciam inchados por conta do álcool.

Droga, eu não me recuperava mais como antes.

Fiquei pensando que ele provavelmente estaria tão bem quanto se tivéssemos dormido muito cedo e consumido só suco verde.

Tracei uma estratégia para chegar ao banheiro sem ser vista, o que envolveu um momento de silencio total para identificar em qual parte da casa ele estava. Não que fosse muito difícil, meu apartamento era um ovo, mas eu precisava saber se ele estaria no fogão, o que me daria uma rota de fuga, ou se estaria na mesa, o que faria com que eu tentasse me arrumar um pouco no quarto, porque seria vista de qualquer maneira.

Ouvi o som da colher batendo no fundo da panela: fogão.

Abri a porta do armário com todo o cuidado possível – primeiro para que Sean não pudesse me ouvir, segundo porque toda a bagunça que joguei lá dentro ontem estaria me esperando para dar o bote hoje - e escolhi meu vestido azul claro com pequenas mandalas brancas. Confortável, mas arrumado. Eu sempre me sentia mais confiante com ele.

Separei também meu corretivo, pó, rímel e meu perfume. Já que o universo não colaborou, eu precisaria apelar para outras forças naquele momento. Santa Kylie Jenner, por favor me ajude.

Nas pontas dos pés, corri, da maneira mais silenciosa possível, até o banheiro. No espelho, confirmei o que eu já desconfiava. Agradeci mentalmente a mim mesma por ter trazido todas as maquiagens necessárias e fiz algo rápido e natural, como se eu tivesse acordado daquela maneira - quem me dera. Optei por não colocar o rímel, muito cedo para tudo isso.

Quando sai do banheiro, completamente revigorada, constatei pela segunda vez que minha imaginação estava correta, Sean parecia perfeitamente bem.

Ele estava sentado à mesa, com um dos pés em cima da cadeira, deixando seu joelho no peito. Continuava parecendo um garoto no corpo de um homem com aquela pose. Não pude evitar o sorriso e as lembranças da primeira vez que o vi. Sean ajeitou os cachos para trás, como já havia feito tantas vezes antes.

- Bom dia! – falei, genuinamente feliz, enquanto puxava minha cadeira. Senti que poderia viver uma vida inteira assim, leve.

- Oi, tudo bem? – Ele respondeu, como se estivesse se apresentando para mim pela primeira vez. Eu lembrava de todas as palavras que dissemos ontem à noite, e ele me olhava como quem dizia "prazer em te conhecer".

Oi, estátua.

Será que interpretei tudo errado?

Dei a primeira garfada e não sabia como reagir. Acho que encher a boca me proibindo de falar era a melhor opção no momento. Então o fiz.

Garfo. Comida. Boca. Mastiga. Engole. Garfo. Comida. Boca. Mastiga. Engole.

Enquanto meu ato era controlado e estruturado, meus pensamentos corriam para todos os lados, apavorados. Era como se eu tivesse entrado no meio de uma rodovia movimentada de ideias e tentasse parar todas elas, sem sucesso. Eu nem tinha tempo para finalizar uma teoria para aquele comportamento, e outra já estava surgindo no fundo da minha cabeça.

Será que era o vinho que o tornou tão legal? Mas já estávamos melhores antes!

Será que ele achou meus poemas muito ruins, mentiu na hora, mas agora sente culpado e acha que deve dizer a verdade?

Será que ele quebrou um copo e está com vergonha de assumir? Eu realmente gostaria que fosse isso.

Quando meu ritual chegou ao fim - porque não havia mais comida em meu prato - resolvi que tomaria uma atitude. Inspirei para tomar coragem, mas Sean falou antes que eu:

- Eu vou embora daqui a pouco.

Soltei todo o ar, perdida.

Era isso então? O distanciamento era a partida, e não algo de errado?

E mais! Então era isso, acabou nosso tempo.

Tinha um buraco no fundo do meu estomago - que praticamente estava se instalando por lá, mesmo ele estando cheio de comida.

- Eu não quero que você vá embora agora. – Falei rápido e sem pensar, porque esse era a verdade. Eu estava feliz com ele aqui, não queria que ele fosse embora agora. Eu não sabia o que isso significava e, para a falar a verdade, não estava preparada para definir. Só sabia que não era hora de Sean ir embora ainda.

- Você tem certeza? Quer que eu fique?

- Tenho, você quer ficar?

- Quero.

Ele se levantou e me deu um abraço, seguido de um beijo na testa. Foi nossa primeira grande interação.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now