02 de dezembro - Parte 05

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- Quer um pouco da minha água de coco? – Sean ofereceu, parecendo bem feliz com essa experiencia que ele chamou de "100% brasileira". Mesmo com as mil opções que eu havia trazido, ele ainda fez questão de comprar o coco da única pessoa que estava vendendo alguma coisa na praia. Quando digo ele comprou, na verdade quero dizer eu. Eu fui socializar com o moço da água, porque desconfiamos que ele e Sean não se comunicariam da melhor maneira.

- Eca, não. Odeio. Se depender de água de coco, sou 100% não brasileira – disse, enquanto virava as páginas da revista que estava lendo.

Nós estávamos sentados embaixo de uma árvore, para aproveitar a pouco da sombra que ele nos oferecia, mas também porque, naquele lugar, ficamos o mais distante possível das outras pessoas.

Eu estava certa, essa praia estava bem vazia. Só havia em torno de dez pessoas no local, e somente duas adolescentes. Passamos bem longe delas, só para constar. Sean havia recolocado todos os apetrechos, mas eu duvido que elas não o reconheceriam mesmo assim se fossem fãs.

- Olha, você aqui na revista! – exclamei com dificuldade, a boca cheia de cheetos de requeijão – com aquela pseudo namorada... Ammy ou Laura? Não sei dizer... A não, está aqui na legenda, definitivamente Ammy! – dobrei a página e apontei a foto para ele, enquanto revirava os olhos e fazia cara de nojinho.

- Ela não foi minha namorada – Sean me explicou enquanto roubava um salgadinho – Nossa, isso ficou ótimo com essa água de coco – ele acrescentou - enfim, nós só saímos juntos umas duas vezes, essa da foto provavelmente era a segunda.

- Impossível! Eu estudei você para a entrevista, lembra? Devo ter encontrado umas 15 fotos com ela.

- Sim, de ângulos diferentes, ou sei lá, estávamos na mesma festa e nos cumprimentamos, e alguém tirou a foto naquela hora e deu a entender que fomos juntos.

- Mesmo assim não acredito, você só quer parecer comportado para que eu não coloque nada disso na entrevista.

- Ainda estamos considerando a entrevista? Eu já até me esqueci esse tema. E é sério, fui tão namorado dela como sou seu.

Ai.

Anotação mental X (perdi a conta): refletir antes de falar o que vem a cabeça, Sean está respondão.

Fiquei completamente arrasada com aquele comentário. Quer dizer, sabia disso, nós não tínhamos nada, mas não precisava que ele jogasse isso na minha cara, me comparando com alguém que ele teve o que mesmo, dois encontros?

Por um instante, me questionei se Ammy se sentiria ofendida ao ser comparada à mim.

E então eu entendi, de um segundo para outro, como se um grande letreiro tivesse aparecido em minha frente: eu estava totalmente consumida por ciúme. Ele se virou para mim, me observando com seus grandes olhos escuros, como quem se questionava sobre o que eu estava pensando. Imaginei que minha expressão demonstrava confusão, no mínimo.

Ao encontrar seu olhar, só consegui pensar no quanto ele ficava bonitinho com as bochechas rosadas de sol. E foi aí que tive um estalo ainda maior, e assustador:

Eu gostava de Sean.

Muito, muito mais do que alguém que está noiva deveria gostar. Muito mais do que eu queria gostar, por sinal. Quer dizer, não sou uma tapada, vim negando essa sensação ao longo de ontem para hoje, mas não acho que seja possível fingir que nada está acontecendo. Eu senti todos os sintomas de alguém que está se apaixonando, mas tem um ponto chave nessa questão.

EU NÃO ESTOU SOLTEIRA.

E o que raios isso significava? Que eu estou errada sobre tudo até o momento? Que no fim, eu realmente sempre estrago tudo e só estou procurando um novo motivo para fugir de algo que vale a pena? Eu não amo Mateo o suficiente?

Não, eu tenho certeza que o amo.

Mas estou apaixonada por Sean também, e não faço a mínima ideia de como lidar com isso. Estar com ele em uma praia semi-vazia não facilita em nada para mim também. Além disso, não acredito que, no final, sou só mais uma que se apaixona pelo famosinho do momento.

Hey, Ammy, Laura e as demais mil garotas, estamos juntas nessa! Quem diria, hã?

De repente, tive uma grande vontade de vomitar. Joguei o saco de salgadinho no colo de Sean, e corri o mais rápido que pude para o mar – mas não rápido o suficiente para parecer uma doida. Eu precisava sair de perto dele o quanto antes, só não queria que ele soubesse disso.

Enquanto as ondas batiam em minhas pernas, o barulho da água acalmou um pouco meu estômago. Era isso então, desde a crise de choro no banheiro de casa. Meu corpo todo já sabia desde ontem – que mais me parece uma eternidade, e não o dia antes de hoje - e eu ainda não tinha me dado conta, cismei em fingir que não estava sendo uma grande filha da mãe esses dias. Fiquei agindo como se me importasse com uma droga de uma entrevista, para um trabalho que eu não dou a mínima, quando na verdade eu estava mesmo era me comportando como se eu não tivesse nenhum compromisso, como se tivesse quinze anos e Mateo fosse a minha quedinha do colégio, e não meu noivo depois de namorarmos por quatro anos.

Parabéns, Elena. Você merece todas as fake news que vão sair. Você merece ser taxada de traidora.

Mergulhei o corpo inteiro na água, preferindo checar no fundo do mar o que eu não conseguia verificar dentro de mim, uma resposta em meio a todo aquele tsunami que eu mesma criei. Olha, aqui no fundo, da quase para ver a notícia no trending topics do Twitter.

Mas e Mateo? Como eu pude fazer isso com ele? Me apaixonar assim, de uma maneira tão boba. Ainda por cima por um cara como Sean! Que tem uma lista de garotas atrás dele. Uma lista de CELEBRIDADES atrás dele. Um cara completamente exposto.

É isso, sociedade, eu gosto mesmo é de passar vergonha. Nem a Kris Jenner conseguiria me tirar desse vexame.

Mergulhei novamente, numa tentativa de que os pensamentos fossem levados pelo leve balanço das ondas. Dessa vez, quando voltei, estava um pouco mais decidida. As palavras de Mateo me dizendo que eu sempre tento estragar tudo por insegurança me vieram à cabeça e senti como se fosse um sinal do universo. Ele sempre esteve certo, e eu estou agindo como uma idiota, uma eufórica com medo.

Isso tudo vai passar.

Sean iria embora entre hoje e amanhã e minha vida voltaria ao normal, o resto eu decidiria depois. Agora, precisava voltar a agir como se nada tivesse acontecido, porque o que eu não preciso é lidar com Sean achando que sou louca por sentir tudo isso por ele em dois dias.

Não, eu não ia passar por mais essa humilhação. Para mim, já bastam as fake news, elas serão castigo suficiente. Eu, que odeio me expor, terei a vida aberta dessa maneira.

No entanto, a pior parte é que eu estava feliz. Completamente feliz. Até há cinco minutos atrás, eu consegui esconder todos esses sentimentos ruins em uma caixinha, lá no cantinho da alma, e fingir que nada disso estava acontecendo.

Isso era o me fazia sentir ainda mais culpada. Eu sabia que cedo ou tarde teria que olhar para dentro e tentar entender todas essas sensações.

Mas não hoje.

Hoje eu só queria sentir o vento salgado, o calor do sol em minha pele, e o cheiro da água de coco, mesmo não sendo meu cheiro favorito.

Passei a mão pelo meu cabelo, que estava completamente emaranhado pelo sal que vinha do mar, e tentei me distrair com outros pensamentos. Como, por exemplo, spray para cabelo. Eu nunca consegui entender aqueles produtos que imitam efeito praia. Ou as pessoas são loucas, ou meus fios claramente não compreendem como eles deveriam se portar.

- Tem certeza que não quer um gole da água? – Sean indagou, assim que me ajeitei novamente ao seu lado.

- 100% de certeza – disse, sorrindo.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن