02 de dezembro - Parte 10

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- O que? Eu não entendi. Por que você falou em português?

- Nada – menti - eu disse para você não esquecer do limite de velocidade, esqueci de falar em inglês.

Não é porque eu finalmente assumi para mim que gosto de Sean, que estava pronta para dividir com ele meus sentimentos. Ao contrário, isso só traria ainda mais confusão a equação. Além do mais, eu nem sabia como ele se sentia em relação a mim. No entanto, foi bom abrir meu coração, mesmo que em português. 

Ri da situação e do quão patética eu havia me tornado. Quando você passou a ser tão medrosa, Elena?

Fechei meus olhos esperando abri-los novamente somente em São Paulo, e foi exatamente isso o que aconteceu.

De volta ao apartamento, eu era quase uma nova pessoa. O efeito do sol e da insegurança haviam passado, e finalmente me senti mais leve e mais no controle de meus próprios pensamentos.

- O que você quer fazer em sua última noite brasileira?

- Primeiro, quero que a gente pare de falar em tom de despedida – Sean disse, colocando alguns fios de cabelos rebeldes atrás de minha orelha - depois, quero experimentar sua comida favorita!

- Sushi! – declarei, já pegando o celular para fazer o pedido. Ignorei deliberadamente a parte da despedida, porque não estava disposta a chorar novamente. A última coisa que eu queria era que Sean se lembrasse de mim como uma Maria Chorona.

Notei que meu aparelho ainda estava desligado, provavelmente por um tempo recorde, e liguei o notebook para fazer o pedido.

- Posso escolher tudinho? Você realmente não quer opinar?

- Não, eu já opinei ontem. Hoje você tem o poder. Vou tomar um banho enquanto você escolhe, tudo bem?

Acenei que sim com a cabeça, aproveitando para selecionar todos os meus pratos favoritos – todos de salmão. Para falar a verdade, eu realmente precisava de um jantar japonês nesse momento.

Esfreguei meus braços e pernas, ainda cheios de areia. Eu deveria ter direito a tomar banho primeiro, depois do leve acidente na praia. Mas Sean era visita, e eu não iria pedir prioridade assumindo o real motivo.

- Vai chegar em 40 minutos! – gritei, enquanto ele já estava no chuveiro. Mal terminei a frase, quando a campainha tocou. – Nina! O que você está fazendo aqui? Não deveria estar no trabalho?

- É assim que você cumprimenta sua melhor amiga? – ela reclamou, enquanto se convidava para dentro do apartamento – Você sumiu Ena! O que raios passou pela sua cabeça? Sua mãe já me ligou, Sr. Perfeito já me ligou... Sabe quantas mentiras eu tive que inventar?

Eu nem havia pensado nisso! Minha mãe deveria estar possessa com o sumiço, assim como Mateo.

- Me desculpe, me desculpe, me desculpe. O que você disse para eles?

- Que você estava em casa, e ainda não havia ligado o telefone por conta dos paparazzi, óbvio. Ninguém desconfia que Sean ainda está com você. E aliás, é ele no chuveiro, certo? Me conte tudo! Se eu sequer desconfiar que você está me escondendo algo, vou vender suas fotos vergonhosas para revistas de fofoca! E olha que eu tenho muitas, viu?

- Não aconteceu nada, Nina. Não tenho nada para te contar. Nada além do fato de que eu, muito provavelmente, sou mais uma tiete apaixonada por Sean Hill.

- O QUE? – minha amiga falou, muito mais alto do que deveria, e eu fiz sinal para que abaixasse a voz – como você me conta algo assim e espera que eu controle meu tom de voz? O que você quer dizer como mais uma tiete apaixonada? Por acaso você beijou o famosão aí?

Contei tudo para Nina enquanto Sean ainda estava no banho. Desde meu ataque de choro no banheiro, até o segundo que notei minha paixonite aguda por ele.

- E é isso. Amanhã Sean vai embora e tudo vai voltar ao normal.

- Ah, tá. Você pretende ignorar tudo isso e seguir a vida, fingindo que nada aconteceu?

Fiz menção a me sentar no sofá, mas me lembrei da areia da praia ainda grudada ao corpo. Continuei a conversa em pé, e com coceira.

- Sim, esse é exatamente meu plano. Fico feliz que claramente você apoia a ideia.

- Ena, você está agindo como uma covarde! Eu te conheço, você nunca seguirá a vida agindo como se estivesse tudo bem. É um sentimento, não um corte de cabelo que deu errado! Isso muda tudo! Como você vai continuar noiva de Mateo após se sentir assim com outro cara? Por mais que eu não goste de Mateo, ele não merece ficar com você só pela metade.

Enquanto formulava uma resposta a altura, Sean saiu do banheiro e foi em direção à minha amiga.

Salva pelo gongo, amém.

Eu nunca conseguiria responder à Nina naquele momento, pois eu sabia que ela tinha razão. Mateo não merecia estar com alguém que se imaginava no Canadá, ele merecia alguém completa, pois era assim que ele era comigo. 100% entregue.

- Hoje você fica para jantar com a gente? Teremos a noite do sushi!

- Obrigada, Sean, mas estou atrasada para o trabalho de novo. Quem sabe uma próxima. Parece que eu só apareço nessas horas, não é?

Antes de fechar a porta, Nina olhou dentro de meus olhos e repetiu: não é só um corte de cabelo que deu errado.

- O que ela disse?

- Que você fica muito bem nessa camiseta – minhas traduções falsas saiam cada vez mais fáceis. Mas, aposto que não se tratava de uma completa mentira, com certeza esse pensamento passou pela mente de minha amiga.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora