01 de dezembro - Parte 02

3.5K 453 303
                                    

Mas não antes de quase ficarmos cegos com a onda de flashes que se seguiu. Devemos ter chegado no carro somente uns 30 segundos antes dos paparazzi nos alcançarem. Eu não fazia ideia de como havia conseguido correr tão rápido. Dessa vez, estava agradecida por ter trocado meus sapatos.

Enquanto tentava acelerar um pouco para garantir nossa saída, mas não a ponto de atropelar alguém, fiquei pensando em todas as fofocas que irão inventar. Principalmente pelo fato de que Sean fez todos os shows no Brasil no final de semana passado, e havia tirado esse para descansar por aqui.

Sean Hill vem ao Brasil para encontrar com seu verdadeiro amor!

Brasileira é a responsável por roubar o coração de Sean!

Serão as próximas músicas em português? Saiba tudo sobre Elena, o novo affair de Sean!

Eu sabia que eles eram capazes de tirar todas essas conclusões somente com a imagem de nós dois no carro. Haveriam fotos da gente fugindo também, para "manter nosso relacionamento em segredo". Mas, quer saber? Pelo menos eu ainda teria meu emprego. Talvez tivesse que me explicar para o Mateo? Provavelmente, mas quem não teria ciúme se ficasse sabendo de algo do tipo?

Então era isso? Olhei de canto de olho para Sean e ele parecia tão perdido no momento quanto eu. Não consegui segurar uma risada, nossa situação era, no mínimo, inesperada. Arrisquei um início de conversa, um pouco porque estava me sentindo mais confiante com minha pronúncia, mas também porque não fazia a menor ideia de para onde iríamos.

- Devo dar a volta e tentar a outra entrada?

- Não – disse ele enquanto digitava em seu celular – Já questionei a Amanda e eles estão lá também.

Revirei os olhos ao ouvir novamente o nome da acelerada que me levou para a sala da entrevista, a mesma que deu a ordem para me tirarem. Ainda estava entalada com toda aquela situação. Fiquei aguardando as próximas instruções, que não vieram. E tentei novamente:

- Onde fica seu próximo compromisso? Eu poderia te deixar lá, ou algo assim...                                

Eu sabia que deveria estar fazendo perguntas relevantes para possuir algum conteúdo para a entrevista, mas nós dois estávamos muito perdidos para que eu sequer formulasse ideias para retirar informações. De qualquer maneira, eu tinha o trajeto todo – até não sei onde - para voltar ao prumo e conseguir minha capa na revista.

- Na verdade, esse era meu último compromisso hoje. Claro, faltaram alguns jornalistas lá dentro, mas depois posso conceder as entrevistas por telefone, já que claramente não conseguimos voltar.

E foi quando, sem mais nem menos, Sean me perguntou:

- Não podemos aguardar um tempo na sua casa? Minha equipe enviará alguém para me buscar, assim que os paparazzi se dispersarem...

No mesmo momento, apertei o freio de maneira inesperada, fazendo com que nossos corpos fossem arremessados para frente.
Ainda bem que estávamos de cinto.

Mas o que ele queria que eu fizesse, depois dessa pergunta, do nada? Enquanto eu ajeitava o cabelo e retomava a direção ao som das buzinas ao fundo, tentei pensar numa desculpa para que a minha casa não fosse uma opção. Sean se arrumava novamente no cinto de segurança, muito sem graça com a minha reação.

Ao invés de desculpas, a única coisa que eu conseguia pensar era que eu havia deixado uma calcinha que estava apertada – mas limpa! em minha defesa – em cima do sofá. Eu havia a colocado antes de sair para a entrevista, mas notei que ela não estava nada confortável e troquei para outra logo antes de sair, e a famosa preguiça me fez não colocá-la no lugar certo. E agora uma celebridade queria passar um tempo na minha casa. Eu provavelmente não arrumei a cama também, pensando bem.

- Claro! Vamos para lá. – Respondi. A frase saiu sem que eu pudesse refletir muito sobre o assunto, já que fazia um tempinho que ele havia perguntado e eu não poderia voltar ao momento quando nos conhecemos e começar a economizar as palavras de novo.

Estávamos seguindo meu caminho de sempre e eu continuava tentando pensar em como essa situação se formara. Há pouco tempo eu achei o cara um insuportável, por que raios aceitei leva-lo até minha casa? Por que eu não sugeri uma padaria desconhecida? Toda vez que estava lidando com um cara bonito, parece que minha capacidade de raciocinar diminuía. Sean poderia dizer: "Oh, não temos um carro, você me leva de cavalinho?" e eu sorriria e acenaria, sem mais nem menos, mas não antes de virar as costas e carrega-lo até seu destino.

Não mais.

Preciso começar a me comportar de acordo com a minha idade. Ele é só um menino, muito famoso, mas só um menino. E eu sou praticamente uma mulher formada. Ou deveria ser. É como diz aquele ditado, você precisa começar a agir como gostaria, para se tornar efetivamente daquela maneira. Para falar a verdade, não acho que seja um ditado, mas deveria ser.

Não sei a quem estou tentando enganar, mas o importante é tentar.

Ao entrarmos em minha garagem, prestei atenção, de maneira muito discreta (mesmo assim desrespeitosa da minha parte) enquanto Sean fazia uma ligação para sua mãe para avisá-la que estava tudo bem. Enquanto ele falava com ela, parecia ainda mais novo, mas também um pouco mais humano e acessível, e não aquela versão intocável a poucos segundos atrás. Eu não queria assumir, mas achei extremamente fofo o cuidado de avisar sua mãe para saber que ele estava bem. Quase que como um reflexo, olhei para a minha tatuagem no pulso, feita com minha mãe. Por um instante, Sean me fez lembrar a mim mesma.

- Hm, acho melhor você ligar para o seu noivo. – Sean me tirou de meu devaneio, levantei olhos da minha tatuagem quando notei que ele sabia sobre Mateo. Minha cara de interrogação fez com que ele explicasse o motivo. - O seu anel. Enfim, acabei de falar com minha mãe e ela me avisou que estamos em vários jornais ao redor do mundo, você supostamente é meu novo affair. Sinto muito por isso – Disse, com sua melhor expressão de coitadinho.

Durante todo esse dia, eu estava carregando no peito aquela sensação de que não deveria ter saído da cama hoje de manhã, e ela permanecia cada vez mais intensa. Mas, pelo menos, eu já havia imaginado que essa notícia se espalharia. Não fui totalmente pega de surpresa.

Não que isso tornasse a situação um pouco menos complicada. Mateo não fazia muito o tipo incompreensivo, mas imagino que nenhum homem goste de ver sua noiva sendo apontada como namorada de outra pessoa, principalmente mundialmente. Espero que eles não tenham conseguido uma foto do anel e entendam tudo de outra maneira. Me consolei imaginando que Mateo não veria essas notícias tão cedo, já que ele está preso em várias reuniões, eu poderia explicar tudo para ele pessoalmente depois, evitando conflitos desnecessários.

No elevador, o silêncio constrangedor dominava novamente, mas não era isso que estava em minha mente. Eu não sabia se estava mais incomodada com a calcinha, que com certeza estava me esperando no sofá, ou por todas as outras possíveis bagunças que eu não me lembrava, mas com certeza estariam ali.

- Será que você pode me esperar um pouquinho aqui fora? Preciso dar uma olhada na casa antes de você entrar. – Falei, muito sem graça, e Sean respondeu com um riso de quem entendia minha situação, dando de ombros e fazendo sinal para que eu entrasse.

Sai correndo e recolhendo tudo que encontrei pela frente, desde a famigerada peça intima, passando por algumas roupas que experimentei para o evento e não gostei, chegando até a lâmina de barbear que eu havia utilizado para depilar as pernas mais cedo. Joguei todas as coisas dentro do armário do quarto e fechei a porta sem pensar que teria que enfrentar toda a bagunça depois. Quem sabe, por um milagre, ela não acabaria indo para Nárnia?

Obrigada, universo, por ele não ter entrado comigo.

Quando terminei o que poderíamos chamar de "A Grande Recolhida", abri a porta para que Sean pudesse entrar e me sentei no sofá, seguida por ele.

Só depois de vê-lo ali, ao meu lado, consegui dimensionar a situação. O famoso Sean Hill estava aqui, na minha casa. Isso era real. Tirei a sorte grande e até o momento não estava sabendo aproveitar. Eu só precisava fazer as perguntas certas e esperar até que o dia acabe, com certeza o garoto não é tão ruim. E, quem sabe depois dessa reportagem, eu não consiga trabalhar com o que eu realmente quero e poderei parar de perseguir fofocas de famosos.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now