01 de dezembro - Parte 04

2.7K 372 185
                                    

Em poucos instantes, fui cegada pela luz de todos os flashes em minha direção.

Então era esse o barulho que estávamos ouvindo!

Antes, eu só conseguia imaginar como aquele som era semelhante a milhares de insetos voando, mas, depois do que vi, fazia todo sentido. Ainda incapaz de processar todo aquele momento, acabei derrubando meu celular em cima do tapete, e fechei a cortina o mais rápido que pude. Recolhi o aparelho do chão e retomei a ligação dizendo, de maneira categórica:

- Não sei do que você está falando, não me ligue novamente!

Olhei de volta para Sean, procurando a resposta para toda a situação em seu rosto, minha boca ainda aberta, surpresa por tudo que acabara de acontecer. Nesse meio tempo, notei que passei a receber mensagens de desconhecidos no whatsapp também. Minha cabeça ainda lutava para compreender os últimos segundos. Levei a mão em minha testa, como se pressioná-la pudesse me fazer acelerar o processamento em meu cérebro.

Sean estava em uma ligação, pelo pouco que pude ouvir, solicitando a Amanda que não aparecessem por aqui, para não dar ainda mais história aos paparazzi.

Decidi que o melhor a fazer era desligar meu celular. Eu conhecia bem a obrigação de se cobrir uma notícia, meus colegas de profissão não desistiriam tão fácil, muito menos tão cedo.

"Precisarei desligar o telefone por conta do trabalho. Está tudo bem, te mandarei notícias dentro de algumas horas, ok? Avisa minha mãe também, por favor? Eu te amo – Ena."

Encaminhei a mensagem ao Mateo e apertei o botão para desligar o aparelho o mais rápido possível. A tela preta que surgiu me fez lembrar de minhas cortinas, talvez um bom paliativo para essa situação.

Desci o pano que tinha instalado por toda a varanda agradecendo ao meu sono leve, que me fez optar por uma casa o mais escura possível. Depois dessas pequenas alterações, o ambiente parecia tão calmo quanto há cinco minutos atrás. Ainda era possível notar os fotógrafos do outro lado, pois, no período da noite, a cortina só bloqueava a visão de fora para dentro. Mas, já que eles não conseguiam ver mais nada, os flashes pararam.

- Sinto muito mesmo, eu não imaginei que nos seguiriam até aqui. Estava falando com a Amanda e pedi que não enviassem um carro ainda, se não tiver problema por você...

- Isso não é culpa sua, eu também não imaginava que conseguiriam nos encontrar. Não vi ninguém nos seguindo. Mas, como você já sabe, eu conheço a profissão, deveria ter antecipado essa situação. – Deixei de comentar com Sean minha maior desconfiança, provavelmente meu próprio local de trabalho divulgou minha localização aos demais jornalistas. Para eles, quanto mais eu estivesse envolvida nesta situação, mais a revista venderia. Sean já não possuía uma boa impressão dos jornalistas, eu não queria tornar tudo ainda pior. - Enfim, claro que não é um problema! Você pode ficar por aqui o tempo que precisar.

- Obrigado – Ele abriu um sorriso realmente genuíno. Não pude evitar sorrir também. Senti minhas bochechas corarem novamente. Droga, será que eu não era capaz de controlar minha própria timidez? Eu nunca tive esse problema antes, preciso parar de corar antes que o garoto pense que estou flertando com ele, ou algo parecido. Não sou só mais uma na lista de apaixonadas por Sean Hill, e não iria permitir que ele achasse isso.

- Já que não estou indo embora tão depressa, poderia te agradecer pela estadia fazendo o jantar? Estou com um pouco de fome.

O comentário de Sean surgiu como um tapa na cara. Enquanto eu estava preocupada se ele achava ou não que eu era mais uma pseudo tiete por conta de minhas bochechas insistirem em corarem, o garoto me colocou de volta em meu lugar, me mostrando que nem sequer havia notado essa situação e que, além de tudo, eu era uma péssima anfitriã.

- Meu deus! Como eu pude não te oferecer nada? – Enquanto a última palavra saiu de minha boca, me lembrei o porquê de não ter oferecido nada. Eu não tinha nada em meu apartamento para comermos! Como estava sempre no Mateo, minha casa parecia mais com um quarto de hotel do que com um lar onde refeições são realizadas.

- Não precisa fazer o jantar. – Completei rapidamente, pensando que, se ele quisesse cozinhar, teria que fazer um miojo. – Podemos pedir em algum restaurante legal.

- Na verdade, eu adoro cozinhar. Seria um prazer e eu faria como um agradecimento pela estadia, tudo bem?

- Tudo bem, vou adorar. – Abri um sorriso amarelo, enquanto pensava em como eu compartilharia a notícia de que o jantar teria que ser macarrão instantâneo. No meio do caminho, pensei em uma solução - Vamos fazer o seguinte então, peça tudo que você precisar para nosso jantar nesse site, eu vou solicitar a entrega para minha vizinha, assim nenhum de nós precisará descer, ok? – Abri o site de entregas em meu computador, para não termos que enfrentar a enxurrada de ligações caso utilizássemos meu celular.

- Combinado! Isso será interessante, nunca usei um site antes sem entender uma só palavra sequer.

Eu estava falando inglês há um tempo tão maior que o usual, e já soava como algo tão natural, que nem me toquei que Sean, obviamente, não saberia ler em português. Depois de algum período nossa comunicação parecia fácil, quase como se ele falasse minha língua.

Ajustei o endereço para o número do apartamento de minha vizinha:

- Me desculpe! Eu não tinha pensado nisso. Pode me falar o que você precisa e eu vou colocando no carrinho.

- Fique tranquila, eu vou usar o tradutor. Além disso, será um jantar surpresa!

- Hm, um jantar surpresa? – Pensei na lista de coisas que eu não comia. Por favor, que ele não resolva colocar muito tomate. Por que eu precisava ter nascido com um paladar tão chato? – OK então! Se você precisar de algo, estou aqui ao lado. – Pude ouvi-lo concordar, enquanto eu já fechava a porta de casa.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now