Nicolly é uma princesa com uma personalidade forte de um passado difícil. Ela sofreu uma perda, mas descobre que nem tudo o que ela sabe sobre sua história é verdade...
Antologia de "Infelizmente Princesa"
Os dias não estavam passando como deveriam. Três dias estavam durando como um e eu tinha certeza que isso não era coisa da minha cabeça. Ok isto é mentira, com certeza isso tudo é coisa da minha cabeça, mas o que realmente importa é que só me faltavam dois dias para o casamento e eu não estava preparada.
- Princesa, a senhorita precisa ficar parada. - falou Jocelina ajustando meu vestido de noiva em meu corpo (ou será que seria Josefina? Não consigo me concentrar o suficiente para me lembrar).
- Desculpe. - falei descruzando os braços e tentando ficar parada.
- Sem problemas alteza.
Me olhei no reflexo, mas tudo o que vi foi uma garota desesperada dentro de um vestido de noiva azulado com detalhes de borboletas. Não via a garota de dezoito anos que eu deveria ser, mas sim uma pessoa amedrontada e louca de preocupação, um peso tão grande que nenhum jovem deveria carregar.
- Este é o último vestido que eu devo provar hoje? - perguntei virando a cabeça para enxergar minha criada que abria os fechos de meu vestido de noiva.
- Não minha senhorita, ainda temos que colocar o vestido do ensaio fotográfico. Falando nisso, estamos um tanto atrasadas e seu noivo já deveria estar aqui. - falou ela pensativa.
- Não se preocupe com ele. Com certeza chegará logo.
- Ele deve gostar muito da senhorita não é mesmo?
- Por que diz isso? - perguntei estranhando o comentário.
- Não que eu queira me meter em sua vida pessoal, mas... Bem. Da pra notar o brilho nos olhos dele quando fala com você ou se refere a senhorita.
- Você já teve conversas com meu noivo?
- Uma vez. Ele me perguntou onde você estava outro dia e eu lhe disse que não sabia.
- Ah. Certo. - olho ao redor da sala procurando pelo vestido escolhido, mas minha ajudante foi mais rápida trazendo-o até mim.
- Este alteza.
Assenti com a cabeça e após o sinal ela voltou a colocar o vestido em mim. Fiquei olhando como ele caía bem e imaginando como Natty ficaria adorável nele.
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- Essas fotos ficaram ótimas altezas, tenho certeza que darão um ótimo assunto para a boca do povo. - falou Pierre com seu jeito empolgado e um tanto afeminado gesticulando com as mãos.
- Confiamos em você Pierre. - Tobias já estava um pouco cansado de tirar fotos por duas horas, e eu também.
- Certo, certo. Agora iremos tirar uma foto bem... - eu já não estava escutando mais. É tão tedioso ficar posando como se fossemos dois animais em um zoológico sendo observados por um apreciador de criaturas exóticas. E ainda tinhamos uma longa hora pela frente, isso se tivermos sorte.
- Nick?
- Huh? - só então percebi que Tommy tinha se afastado em direção ao jardim e me coloquei a acompanhá-lo.
- Você anda um tanto distraída ultimamente não é mesmo?
- É só que o tempo está passando tão rápido, mas não que isso te interesse. - rebati contrariada. Ninguém tem o direito de apontar se estou distraída demais ou não.
- Calma aí estressadinha. Só queria saber se você estava bem, mas pelo visto está tudo sob controle. - usando sarcasmo. Que ótimo. Então é assim que vai ser .
- Sim, tudo sob controle. Vejo que posso dizer o mesmo de você, não parece estar roubando doces de crianças novamente. - ele entende a referência e posso ver um músculo em seu maxilar tensionar.
- Isso não me agrada mais. Arranjei o que fazer. - seu sorriso é desleixado como sequestrar pessoas fosse algo que se aprende na escola.
Reparo que Pierre já está muito adiante, então diminuo o passo e arrisco.
- Sei. Só espero que seu brinquedinho não perca a graça. - com essa última declaração ele segura em meu braço com força e me puxa para trás de uma árvore enorme onde o fotógrafo não conseguiria nos ver, machucando o local onde provavelmente aparecerá um hematoma depois.
- Você está malu... - ele tapa minha boca com a mão esquerda e me pressiona contra a árvore me deixando em estado de choque.
- Nunca mais, refira a si mesma deste jeito. Você não é apenas um meio de diversão para me entreter e depois ser descartada. - ele me solta devagar e então termina - É mais que isso. Entendeu?
- Não é o que me parece. - resmungo cruzando os braços. Estou cansada de seu comportamento infantil e de sua bipolaridade.
Ele parece estar se contendo para não esmurrar algo, seu peito sobe e desce de uma forma controlada, mas ainda assim irritada.
- Você pode até não acreditar, - ele respira fundo mais de uma vez antes de continuar. - mas eu estou tentando. Tentando muito... - sua voz treme. Ele fecha os olhos apoiando uma das mãos na árvore e meu coração se aperta. Burra, burra, burra! Ele só está tentando te fazer se aproximar. Mas mesmo sabendo disso o aproximo gentilmente para um abraço.
Não sei o que fazer, não sei o que sentir. Nunca experimentei uma sensação mista assim. É uma mistura de arrependimento, culpa e pena. Tommy pode até não ser o príncipe encantado de um conto de fadas, mas ainda assim, é o Tommy.
Sua respiração vacila, a máscara de rapaz indestrutível cai e em um abraço apertado ele começa a chorar, de início silenciosamente, mas então o choro discreto é invadido por soluços e fico com medo do fotógrafo nos encontrar aqui. Ele já deve ter sentido nossa falta.
O afasto e seco suas lágrimas.
- Venha, não queremos que ninguém nos veja assim. - passo um braço ao redor de sua cintura como um apoio e o guio para longe com dificuldade por conta do vestido longo e pesado, para o mesmo local onde eu e Danniel nos escondemos da última vez, no labirinto de arbustos.
