31 - Nomes

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   Eles me fizeram falar com ele. Me obrigaram a falar com Tobias.

   Ouvir sua voz rouca e fragilizada me abalou muito. Vomitei três vezes depois da ligação sem ter conseguido comer nada.

   Eu quis muito poder ter contado tudo o que sabia sobre os Zyphr, mas eles o ameaçaram de várias maneiras indiretas, então não pude arriscar. Tudo o que está me mantendo viva são os toques medicinais de curandeiras exóticas que mais parecem fantasmas - de cabelos brancos e olhos de um azul pálido.

   Não vejo Uttara desde o primeiro dia, mas tenho certeza de que ela é uma das responsáveis pelo chá de frutas silvestres que me enviam em toda refeição - o que me faz questionar se ela realmente me odeia e se realmente não se lembra de nada, pois chá de frutas silvestres era o que eu mais gostava, nós sempre pedíamos para as criadas fazerem em dias chuvosos, ou quando não estávamos bem - tenho certeza também de que é ela a responsável por deixar Sabella responsável em tomar conta de mim.

   Sabella é a garota ruiva pálida que se estressa muito facilmente, a mesma que recebeu uma almofada no rosto dias atrás - e isso me faz perceber que Uttara não gosta nem de mim, nem de Sabella.

   Ela parece não gostar de mim também, e acredite, o sentimento é mútuo.

   Tudo o que aprendi nesses últimos dias sobre meus raptores é que eles são os chefes de uma mega organização que treina adolescentes super dotados e os prepara para trabalharem em prol a uma causa. Causa essa que estou tentando descobrir qual é.

   "Você logo entenderá que tudo o que fazemos aqui é por uma boa razão." É o que eles sempre me diziam. 

   Levei o copo de plástico com chá aos lábios - aparentemente eles não confiam mais em mim para deixar que eu utilize xícaras, que surpresa - o líquido de dentro da xícara deu um solavanco e parte entrou em meu nariz, outra sujou minha roupa. Enquanto eu engasgava discretamente e secava o rosto com a manga do moletom que me emprestaram, reparei que Sabella me encarava de canto de olho enquanto ria de minha situação humilhante. 

   - Você devia sorrir mais vezes. - comentei colocando o copo no criado-mudo.

   Ela ficou vermelha e virou o rosto emburrada outra vez. Revirei os olhos e olhei para a estreita janela atrás de mim. O dia estava no fim e o sol começava a se por, nada de excepcional olhando daqui de dentro, mas tenho certeza de que lá fora isso seria muito diferente.

   - Você é a única filha de sangue de Zennith, não é? 

   Fui ignorada novamente.

   - A, qual é? Vou ter que ficar falando sozinha agora? - continuei sem respostas, então pensei: o que Sofly faria? É claro que ela ficaria falando sem parar até receber respostas. - E então qual o seu dote? - isso pareceu atrair sua atenção, mas me ignorou novamente. - Deve ser horrível ter que dividir seu pai com outras pessoas que nem tem o seu sangue. Pelo que vi vocês nem se dão bem. Mas você vai assumir tudo no final das contas né? Assim não vai ter que...

   - Ok agora chega! Cala essa matraca, você é muito insuportável. Minha vida não é da sua conta e, se quer mesmo saber, eu não me dou bem mesmo com aqueles bastardos e não, não é assim que funciona, meu sangue não influencia nesse negócio. Zennith é quem escolhe, sou apenas mais uma no meio de tantas.

   - Isso é um tanto injusto... Você ainda não me respondeu uma coisa. 

   - E por que deveria?

   - Porque sei que não sou a única que fica entediada presa aqui o dia inteiro sem fazer nada a não ser tomar chá e contar as ripas de madeira do chão. A questão é: o que são estes super dotados? Vocês parecem levar isso muito a sério já que tem até um negócio por detrás disso tudo.

Uma Rainha Em ApurosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora