35- Ritual parte 1

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   - Ou você pula ou eu te empurro. - Sabella falou dando um passo para frente se aproximando de mim.

   Onde eu estou? Bem, estou na ponta de um precipício relativamente pequeno mas que causaria danos gravíssimos a minha pessoa.

   - Você ficou louca?! São pelo menos vinte metros até atingir a água! Um ser humano só consegue no máximo 15 sem se machucar.

   - Na verdade são trinta, e você vai dar um jeito. Se der sorte a água não vai ser seu maior problema, Laso Schaller sobreviveu a cinquenta e oito metros. Preocupe-se em sobreviver, aquelas rochas no fundo parecem perigosas. - ela admirou o local de onde seria o final da queda e voltou a falar - E aí, como vai ser? Empurrãozinho ou por vontade própria?

   Me virei bruscamente irritada com sua teimosia.

   - Está maluca se acha que vou acreditar que faria...

   Foi falar isso e ela me deu um empurrão que me fez dar três passos para trás, ou melhor, dei dois passos e no terceiro já não havia mais chão para pisar. Senti a resistência do ar tentando me impedir de cair, mas eu caí depressa perdendo o ar dos pulmões até mesmo para gritar. Desesperada bati os braços e me contorci, mas nada consegui.

   Quando me faltavam menos de um metro para a queda algo me pegou no ar. Não sentia as partes do meu corpo, estava dormente por inteiro.

Abrindo meus olhos vi a curandeira pálida me carregando para cima com se eu não pesasse nada, em suas costas um belo par de asas brancas que nos erguiam no ar. Senti que iria desmaiar, mas logo aterrissamos no topo do penhasco.

   Ela tentou me colocar em pé, mas me joguei o mais longe da beirada o possível e me agarrei no chão co medo de cair novamente. Meu coração estava tão acelerado que pude sentir que minha cabeça explodiria.

Não conseguia raciocinar, tudo girava e estava com uma sensação estranha de que meu estômago estava vazio e dando voltas em minha barriga. Virei o rosto e coloquei pra fora meu almoço ali mesmo no topo do penhasco.

   - Devia ter deixado ela cair! - Urrou Sabella.

   - Ela não conseguiria. Sinto que algo muito ruim aconteceria. - respondeu a curandeira. A maioria dos curandeiros são chamados de "anjos da cura" pois possuem asas e se parecem com anjos de várias maneiras, os mais experientes podem até sentir se uma pessoa está correndo grande risco de morte.

   - Vocês e essas precauções ridículas. - a curandeira olhou furiosa para Sabella. - O que? Vai dizer que sentiu que alguém morreria. - isso pareceu despertar algo nela, seus olhos arregalaram e se virou para mim.

   - Bella... A sensação não passou. 

   Olhei para cima ainda com o coração a mil, sentia o sangue voltar ao meu rosto e uma raiva imensa se apoderar de mim. Me levantei com as pernas tremendo. O céu passou de um azul turquesa para um preto fumaça. Minhas forças voltaram e corri em direção a Sabella determinada a derrubá-la do precipício.

   - Quem você pensa que é sua imbecil?! - lágrimas de raiva rolaram de meus olhos e quando a empurrei um trovão ressoou no céu como se o mundo sentisse o mesmo que eu. Em choque ela caiu sem entender de primeira o que acontecia. 

   - Sabella! - a curandeira mergulhou para pegá-la.

   Um raio atingiu a água. Ela pode controlar a água, mas sobreviveria a ser eletrocutada? Só então me dei conta do que estava acontecendo. Eu havia feito isso a ela, eu havia causado a tempestade. Mas como pude fazer isso involuntariamente?

   Me debrucei na beirada e vi que as duas subiam. Sabella tremia, mas não de medo, ela estava em choque. Isso não me deixou nem um pouco culpada depois do que fez comigo, mas sei que deveria sentir uma pontinha de peso na consciência. Quando chegaram ao solo permaneceram abraçadas por um longo tempo enquanto a tempestade se desfazia.

Uma Rainha Em ApurosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora