Morta Para O Mundo

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Cheguei a casa, deitei-me na cama e chorei, chorei com pena de mim, del,  da vida que queríamos construir, Sam porquê Sam e assim fiquei até o cansaço me abater, quando acordei já era quase meio dia, olhei para o telemóvel nenhuma chamada de Sam, nenhuma chamada, apenas o tweter tinha notificações, não abri, não queria ver nada, só queria ficar ali a dormir para não mais acordar. Deixei-me dormir outra vez, acordei com a campainha da porta, em transe e ainda vestida com a roupa do dia anterior fui espreitar pelo óculo da porta, encostei-me a ela – será  que não consigo estar sozinha um só minuto? – era Ana, abri.
- Tia, o que se passou? Disse ela muito aflita a olhar para mim  e querendo agarrar-me, levantei os braços e com a cabeça baixa, para ela não ver o meu rosto que deveria estar deplorável, só lhe fiz um gesto negativo  com a cabeça, não conseguia encontrar a minha voz, ela agarrou-me nas mãos e na cintura e abraçou-me resisti um pouco, só um pouco, só eu sabia o quanto precisava do seu apoio, que veio sem mais questões  e sem forças caí no chão com ela junto a mim e chorei novamente, pensava que já não tinha mais lágrimas, pensava que tinha esgotado a minha tristeza, mas não, ainda tinha muito por o que chorar dali em diante.
-Oh tia, tenho pena, tenho tanta pena – disse-me beijando-me os cabelos. Levantou-me e levou-me para o quarto ajudou-me a despir e a vestir um pijama e deitou-me, deitando-se ao meu lado como que embalando-me como eu tantas vezes lhe fiz a ela, quando vinha triste por não ter conseguido os seus objectivos na escola, na sala de ensaios. E ali fiquei a ouvi-la traulitar a  melodia  de Bolero de Ravel. E perdi-me novamente em sonhos com loiras muitas loiras a correrem atrás de mim e eu saltava grande saltos, mas nunca me consegui afastar delas, precisava correr para mais longe e corri, corri tanto, até que caí por um buraco escuro e pensei que tinha morrido, enfim em paz.

A vida numa dança Where stories live. Discover now