Dia 1 De Julho

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Tudo na vida me sabia a Sam, tudo me fazia lembrar Sam, Hofesh chamou-me para uma reunião, ao que parecia o responsável pela parte da dança clássica do conservatoire queria falar comigo. Vesti-me com esmero, umas calças pretas com uma túnica vermelha e sandálias de salto pretas com duas tirinhas vermelhas, Inglaterra no Verão era fria da mesma forma, mas já me tinha habituado, e agora a Escócia, que ia eu fazer para a Escócia agora, Hofesh iria ficar aborrecido comigo com toda a certeza, mas eu não iria para Glasgow agora, jamais. Cheguei, bati à porta e recebi um cordial – entra. Coloquei o meu melhor sorriso e lá entrei. Estavam sentados dois homens e uma senhora gorducha com um ar muito simpático e Hofesh, os senhores levantaram-se e cumprimentaram-me efusivamente.
-Helena, a primma ballerina do Reino Unido, é uma honra.
- Agradeço – disse - mas já não sou mais, agora sou apenas uma professora.
-Que é isso para mim será sempre a minha primma ballerina a melhor de entre as melhores já Balashnikov***o diz  e eu concordo em absoluto – disse o homem mais novo, teria uns 40 anos, talvez, e olhava para mim como se me quisesse comer ali na mesa de reuniões, sentei-me não fazendo caso dos olhares que me deitava, parecia vesgo o homem, bem mas apesar disso vi que era muito atraente. Mas aquelas formas de estar davam-me com os nervos. Sentei-me e Hofesh iniciou a reunião falando de que eu seria a melhor aquisição para o conservatoire iria elevar em muito o seu status, e que seria bom porque eu iria viver ali durante um bom tempo, não conseguia abrir a minha boca para o contrariar, vi que ele estava empenhado em que eles me aceitassem
-Bem mas tenho uma condição – disse eu interrompendo—só irei começar as aulas em Outubro, não antes, tenho o meu último espectáculo no Japão este mês a 27 e em seguida irei para Portugal. Só volto em Outubro e nunca antes. Quero que o conservatoire me arranje um pequeno apartamento, nada ostensivo, perto, para não ter de andar de táxi porque como sabem não conduzo aqui no Reino Unido – como sempre fui uma naba, só sabia conduzir em Portugal ou em qualquer país onde as regras de trânsito fossem a de um país normal, o Reino Unido com os volantes do lado contrário e conduzir do lado esquerdo da estrada, não era para mim. – concordam?
-Bem, esperávamos que iniciasse as aulas em Setembro, é o início do ano lectivo, mas visto ser essa a condição primária, pois concordaremos, não é assim? – olharam-se entre uns e outros e concordaram. Assentámos os restantes pontos como o vencimento a auferir  e horários e terminamos a reunião já depois do horário de almoço. Quando saí à porta da sala de reuniões, vi Ana com Marcelino em clima de conspiração—o que foi? – perguntei
-Ah nada tia, nada. Disse Ana cutucando a barriga de Marcelino que parecia que estava engasgado.
-Diz! – apontei eu.
-Bem, estávamos aqui a ver umas notificações do Tweeter .
-Ah! Não quero saber de nada disso. MESMO!
-Mas é bonito, deverias ver Lena. – disse Marcelino. Bem mal não faria. Cruzei os braços e numa atitude mal disfarçada de pouca curiosidade disse-lhe:
-OK, mostra lá então. – Ana riu e veio para ao pé de mim, para ver também. E então quando abriu o aplicativo era Sam, Sam tão lindo, com um ar decidido  e um olhar, meu Deus um olhar como se estivesse ali a olhar para mim, quase me senti nua e tive um escalafrio, Ana passou o braço por mim, era uma story que dizia apenas, “tens de me ouvir” e em efeito boomerang levantava o dedo indicador e baixava.
- É para ti, tia. Olha que lindo.
- Eu, não quero ouvir nada, ele estava com outra Ana, com outra agarrado a ela, prometeu que passava a noite com ela.. Ela disse, e ele não desmentiu.
- Imagino, nem deve ter tido ordem de dizer nada. Tu ás vezes quando estás zangada não deixas falar ninguém, esqueces-te que te conheço como a palma da minha mão?
- E ele quer falar contigo-disse Marcelino.
- Pois sim, nem me ligou, por isso não deve ter muito a dizer.
- Ele ligou, ontem mas eu  disse-lhe como tu estavas e que estavas a dormir, que te desse tempo para acalmares – disse Ana num tom de voz baixo.- olhei para ela de boca aberta.
-E, e… fizeste muito bem! Vou para casa arrumar as coisas, daqui a 5 dias vou para o Japão, e depois vou para Portugal, provavelmente nem virei aqui.
- Não vais ter com Sam amanhã? Ele tem aquele evento na universidade de Glasgow dia 3, disseste que ias com ele.
- Pois não vou, ele que leve a loira. – e fui-me embora. Saí com toda a pressa.. Já chegava por hoje, já tinha tido a minha dose de Sam, chamei um táxi e assim que entrei nele procurei pelo meu telemóvel na mala e abri o Tweeter, e lá estava a story dele, tão lindo, cheguei o telemóvel aos meu lábios – ah Sam, que merda foste fazer - e beijei-o, tinha tantas saudades dele, tantas.

A vida numa dança Where stories live. Discover now