Monótono

Capítulo 4 : Canção de Ninar

Wangji não é atormentado por pesadelos como seu irmão. Se ele sonhasse, seriam as lembranças que desapareceriam assim que ele acordasse. Muitas vezes, ele sonhava com um rosto que não era claro, uma figura que ele tentava alcançar, mas escapulia entre os dedos. Muitas vezes, ele chamou Wei Ying e ele nunca respondeu. Nem sequer olhou na direção dele.

Agora que Wei Ying está de volta, o rosto está claro. Mas isso é tudo. Ele ainda não olha para Wangji. Ele não sorri, ele não o reconhece ou ouve quando Wangji pede seu nome. Seu rosto está vazio e ele está tão distante como sempre. Wangji nunca o alcançará.

Os sonhos Levam-no de volta a um dia que ele deseja esquecer. O banho de sangue da Cidade Sem Noite costumava torturá-lo todas as noites após a morte de Wei Ying. Culpou-se por não conseguir chegar ao Patriarca Yiling a tempo, nem mesmo impedir que sua amada irmã morresse. Com o passar dos anos, os detalhes ficaram borrados, mas o sentimento não. A dor em seu coração ainda está lá, tão forte quanto no dia em que ele estava diante de Wei Ying com os dedos tremendo em seu guqin. Wei Ying riu com mania inconfundível em seus olhos vermelhos. Ele olhou para Wangji como se o odiasse. Talvez ele o odiasse. Wangji deu muitas razões para ele.

Eu sabia desde o início que teríamos que lutar uma luta real como essa mais cedo ou mais tarde. Você sempre me achou desagradável, não importa o quê.

Quando Wangji tentou salvá-lo, Wei Ying apenas pensou que ele havia sido prejudicado. Mesmo quando Wangji empurrou e empurrou todo mundo para impedir que ele perdesse o controle, era tarde demais. Wangji não tentou o suficiente. Ele viu a dor nos olhos de Wei Ying e lutou para decidir o que fazer. Mas foi muito tarde.

É o mesmo, mesmo agora. Nos seus sonhos, ele vê Wei Ying à distância, encarando algo que Wangji não pode ver. Novamente, ele nem reconhece que Wangji está lá. Não importa o quanto Wangji tente alcançá-lo, ele está longe demais.

Ele quer alcançá-lo. Ele quer estar lá para ele neste momento, mas Wangji nem sabe por onde começar. Ele não sabe o que machuca Wei Ying, muito menos como ele pode ajudá-lo. Ele é inútil, como sempre, e tem medo de perdê-lo pela segunda vez.

Wangji não é atormentado por pesadelos como seu irmão, mas é atormentado por seus pensamentos. São emoções que ele nunca dirá em voz alta, palavras que manterá por dentro até que seu coração bata contra sua gaiola e continue a doer como tem sido nos últimos dois mil anos. Quando Wangji dorme, ele não tem pesadelos. Ele ganha a realidade, que ele era inútil, que ele continua sendo inútil. As noites são longas e ele acorda com um pavor repugnante de que nunca mudará e falhará com Wei Ying novamente.

A manhã chega. Os raios bêbados do sol atravessam suas cortinas e o corpo de Wangji é automático ao se vestir. Ele se move sem pensar, recusando-se a reconhecer os sonhos que circularam em sua mente a noite toda. Ele ouve o alarme de Sizhui tocando na sala ao lado dele, seguido pelo som do adolescente se levantando.

Hoje é um novo dia. Como todas as manhãs, Wangji empurra o passado para o fundo da mente e se concentra no dia seguinte. Ele se pergunta se verá Wei Ying, se eles falarão como nos velhos tempos. Juntamente com o desejo de vê-lo, Wangji, como sempre, espera um milagre que hoje trará uma mudança. Talvez hoje seja o dia em que ele se aproxima de Wei Ying.

Hoje é um novo dia, e Lan Wangji continua sendo um homem tolo apaixonado.

-X-

A semana está quase no fim e não há nenhuma melhoria com Jin Ling. Se aconteceu alguma coisa, foi que as coisas pioraram. Jin Ling torna muito óbvio que ele prefere pular de um penhasco do que tratar Wei Ying com qualquer aparência de respeito. O máximo que ele voluntariamente interage com ele é quando ele grunhe por presença. Outras vezes, ele diz ao professor para se irritar ou simplesmente foge como o pirralho maduro que ele claramente é.