Capítulo 54

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Chegamos do hospital e nosso apartamento estava vazio. Havia um bilhete na mesa, com a caligrafia de Melinda, informando que ela e Aidan haviam levado Omar para tomar café e passear pelo bairro, pedindo para avisarmos quando já estivéssemos em casa. Após ponderar com Keenan, enviei uma mensagem para minha melhor amiga dizendo que estaríamos esperando-os no apê para o almoço.

Fomos para o chuveiro juntos, mas nada de sexual rolou. Éramos apenas duas pessoas que se amam, desgastados física e emocionalmente, após uma noite difícil. Ensaboamos um as costas do outro, em silêncio. Estávamos para sair do banheiro, eu de roupão, Kee de toalha enrolada na cintura, quando ele me puxou para um abraço.

- Eu te amo e passar por tudo isso seria bem mais difícil sem você.

Respirei fundo. As últimas horas haviam sido uma montanha russa emocional. E ainda tinha algo desconcertante por vir.

- Eu também te amo. Bombom, temos que contar para Omar. Só não sei quando e como.

Nos separamos e fomos para o quarto nos trocar.

- Acho que podemos nos concentrar em almoçarmos primeiro. Assim, tornamos o ambiente confortável e ganhamos tempo. Se contarmos antes da refeição, talvez ele não queira comer. Quem sabe até lá já temos boas notícias sobre sua mãe? – Finalmente Kee estava se permitindo ter esperança, porém, tínhamos outras decisões a tomar e tarefas a realizar.

- Precisamos do contato da babá dele. Ainda que Angelina acorde logo, como nós esperamos, ela terá que ficar internada enquanto se recupera dos ferimentos e, com nossa rotina de trabalho, fica inviável passarmos o dia com ele. Temos que ver com a baby sitter uma nova dinâmica de horários que nos atenda provisoriamente. Devemos também ir ao mercado para abastecemos a geladeira e dispensa... — Em meio ao que estava dizendo, reparei que Keenan, já trajando uma bermuda de moletom e uma regata, me olhava sorrindo com os lábios selados. — O que foi?

- Você, cuidando assim do nosso menino... Não sei, acho me emocionei.

- Quero que ele esteja bem para quando a Angie acordar. No fundo, me sinto um pouco responsável pelo o que aconteceu... Ela se abriu comigo sobre ter conhecido Malik e me perguntou se devia ir atrás e eu dei apoio... Se ela não tivesse ido...

Só agora, de sangue mais frio, tive tempo de questionar minha parcela de culpa no acidente. Não pude evitar o choro.

- Pequena, não pense assim... Se há algum culpado nessa história, é o motorista que bebeu e pegou o carro sem condições de dirigir. Você teve boa intenção em motivá-la a ir atrás da sua felicidade. — Ele parou de frente para mim e segurou a linha do meu maxilar, fazendo com que meus olhos encontrassem os seus. — Nessa madrugada, você me motivou. É minha vez de fazer isso por você. Sejamos positivos, temos que acreditar que ela vai voltar.

Trocamos um selinho, me vesti e fomos para a cozinha, preparar a comida. Fizemos uma massa com queijo e tão logo meu enteado chegou com nosso casal de amigos. Enquanto banhava Omar, Keenan tratou de passar nosso posicionamento para Aidan e Mel, para que eles tivessem o cuidado para não mencionarem antes da hora sobre o acidente.

Já à mesa, o alimentamos e procuramos falar sobre assuntos leves enquanto comíamos. O desconforto só passava despercebido perante a inocência da criança. Ou não.

- O papai está estranho... – Nos entreolhamos. – A tia Hazel também. O olhinho dela está como o da mamãe.

- Como? Kee pigarreou e questionou o garoto.

- Quando a minha mãe chora... Está vermelho, olha! Os dedinhos gordinhos do menino apontaram para meu rosto e meu coração apertou.

Deus!

Hora de superarWhere stories live. Discover now