Capítulo 56

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Dois dias depois das cirurgias pelas quais Angelina passou, o inchaço na cabeça regrediu e ela foi retirada do coma induzido. Porém, há vinte dias ela continua desacordada. Sim, ela não despertou, apesar das funções vitais continuarem a funcionar. O neurologista que participou da operação junto do cirurgião geral, Kevin, conversou conosco sobre seu estado e ele disse que não há explicação para o que está acontecendo. Porém, nos alertou que a partir do primeiro mês, as chances de melhora do quadro diminuem. Ou seja: Angie vivia uma corrida contra o tempo.

Eu tentava me manter forte por Omar e Keenan. Meu noivo estava perdendo as esperanças gradualmente e o menino já não parecia mais confiar na minha versão de que sua mãe ainda tinha uma missão a cumprir antes de partir. Malik, coitado, vivia naquele hospital. Estava nitidamente mais magro e a barba e o cabelo estavam maiores. Mesmo não deixando que sua aflição atrapalhasse o desempenho de seu trabalho, os diretores do Presbiteriano deram alguns dias de licença para que ele tivesse um tempo para se dedicar apenas a mulher que ele já admitia para nós que amava.

Faltavam menos de três semanas para meu casamento e, graças a Deus, contava com o apoio de minha mãe, Melinda e Ellen para me ajudar com as últimas tarefas e escolhas, porque não teria cabeça para passar pela reta final dos preparativos sozinha.

Estava no meu horário de almoço e havia acabado de sair da última prova do meu vestido de noiva quando decidi passar no hospital para ver Angie. Sempre que posso, a visito, mesmo sem a companhia de Kee. Assim que sai do táxi, meu celular tocou na bolsa. Era minha mãe.

- Oi mamãe! Decidi me sentar em uma área de espera ao invés de me encaminhar para o leito.

- Olá Hazel. Está trabalhando?

- Não, vim visitar Angelina.

- Nada de novo?

- Nada. Isso é tão frustrante... — Bufei. — Sei que devemos orar e confiar, mas ela não reage, mesmo que esteja pedindo tanto por isso.

O silêncio que se instalou do outro lado da linha me fez, por um instante, achar que a ligação havia caído. Porém, Dona Janet continuava conectada a mim, só parecia estar pensando no que me dizer.

- Minha filha, você perdoou essa moça?

A pergunta me fez refletir em tudo que sofri nas mãos de Angelina. Sem nem me conhecer, me tornou sua inimiga. Fez com que eu duvidasse de mim e do meu relacionamento. Levou-me ao meu limite no dia que tentou agarrar Keenan à força, ao ponto de agredi-la fisicamente. Dificultou o início da relação de Omar conosco. Entretanto, ela estava mudando, eu podia sentir sinceridade em sua tentativa de melhorar enquanto pessoa. Ela não era a mesma, pelo menos desde o feriado de ação de graças. E se abriu comigo, buscando minha opinião inclusive, antes de toda essa tragédia acontecer. Ela merecia meu perdão. Só não tinha parado para pensar se era realmente o que eu queria fazer.

- Acho que sim. Porém, de que adianta isso agora, se não está acordada para que eu diga isso a ela?

- Hazel, diga isso a Deus nas suas orações. Se acha que Angie não pode te ouvir, te digo que Ele pode. Eu não conheço os planos Dele para a mãe do seu enteado, mas talvez essa seja a coisa certa a ser feita. Já parou para pensar que tanto Angelina, quanto o Senhor podem estar esperando por seu perdão para que enfim ela consiga seguir seu caminho?

- Mas mãe... — Minha voz afetada denunciava minha vontade de chorar — E se eu perdoá-la e ela se for?

- Oh, minha filhinha... — Seu tom era consolador — Não há uma folha que caia no chão sem o conhecimento e consentimento de Deus. Ele sabe o que faz.

Agradeci pelo conselho, mesmo temendo-o. Nos despedimos e passei no banheiro para lavar o rosto e me recompor, antes de seguir para a Unidade de Terapia Intensiva.

Hora de superarWhere stories live. Discover now