Capítulo 55

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Angelina's POV

Sinto uma brisa em meu rosto, similar a do sonho que tive em que eu estava grávida e a que me atingiu quando encontrei Malik. Não sinto mais dor. Abro os olhos e percebo que não estou deitada em um leito de hospital, onde esperava acordar, mas sim estou de pé, em um campo com muitas flores. Não consigo identificar a espécie, mas todas são brancas. Olho ao redor e vejo nada diferente no horizonte. Onde estou?

Começo a andar, sem direção específica e começo a reparar que estou com a mesma roupa que usava no momento do acidente, porém, ela estava intacta, como se nada tivesse acontecido. Será que estou sonhando ou estava antes? Paro e olho para os lados. Dessa vez, à esquerda, vejo uma silhueta. A pessoa, a qual não consigo identificar à distância, aparenta estar olhando para o céu incrivelmente azul, com poucas nuvens e estas, cortadas por raios solares. Dou um grito, tentando chamar sua atenção, porém, sem sucesso. Então decido caminhar ao seu encontro.

Chegando perto, paralisei. Não podia ser. De novo, não.

- Demorou, minha menina. Minha mãe girou o corpo e me olhou.

Ela aparentava serenidade e paz. Nunca a tinha visto com um semblante tão pleno e tranquilo. Trajava um leve vestido, claro, talvez na cor bege. O dia estava tão claro que mal conseguia identificar a cor exata. Ela sorria, estava com o cabelo solto, outra coisa rara de se ver em vida, porque mesmo insistindo, ela mantinha os cachos sempre presos. Em vida... Ei, espera!

- Eu estou morta? Disse antes de alcançá-la.

- Ainda não. – Ainda? – Agora venha, me dê um abraço!

Dei mais alguns passos e a abracei. Ela tinha o mesmo cheiro, seu toque era reconfortante. Foi bom, mas estranho.

- Como vim parar aqui? Olhei ao redor novamente, só estávamos nós ali.

- Você não se lembra? Ela acariciou meu rosto e fechei meus olhos. Eu lembrava o acidente no instante que acordei no campo, mas agora vi as imagens como se tivesse revivendo a cena. Visitei minha memória até o momento em que apaguei.

- Estava lá, comigo? Na ambulância?

- Sempre estive. Digamos que, se não posso mais cuidar de você pessoalmente, só me resta observá-la.

Eu não sentia mais as dores do atropelamento, mas isso não impediu que eu sentisse meu coração ser esmagado pela culpa.

- Nem depois da sua partida te dei descanso, não é? – Sorri fraco.

- Filhos nunca dão, Angelina. A diferença é que antes, muitas vezes, vocês não querem nos ouvir. Depois, não podem nos escutar.

O remorso me fez chorar.

- Perdão, mãe! – Eu a abracei de novo e, entre soluços, tentei dizer tudo que estava guardando no meu peito há um tempo – Errei tanto! A senhora merecia uma filha melhor que eu! Nunca ouvi seus conselhos, não considerei que estivesse falando aquilo para meu bem! E, após seu falecimento, cometi mais erros ainda! Me perdoa, por favor?!

- Filha, está tudo bem. Mães sempre perdoam e sei que é de coração. Posso sentir isso. Mas, me diga: Você se desculpou com quem errou? Ela se afastou um pouco e segurou meu rosto na linha do maxilar.

- Não tive a oportunidade. Mentira.

- Você não quis, na verdade, não é? Claro que sabia que era mentira. Ela esteve comigo todo o tempo.

Abaixei a cabeça, envergonhada.

- Eu tive inveja. Eu senti rancor, despeito. Depois, medo e por fim, arrependimento. Só que me arrepender não foi o suficiente para pedir desculpas. Meu orgulho não permitiu que eu pedisse perdão a quem eu machuquei.

Hora de superarWhere stories live. Discover now