Capítulo 5

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''There's a reason why I keep it all inside.'' - desconhecido.

Arabella

Acordei cedo perdida em pensamentos, sentei-me no sofá da sala me sentindo sufocada, eu ainda não havia conversado sobre aquilo com ninguém nem mesmo com o meu melhor amigo que acabava de acordar vestindo uma calça de corrida e uma regata.

- Bom dia – ele sorriu indo até a bancada da cozinha e pegou um copo térmico despejando o café que eu tinha feito a pouco tempo.

Esperava que não estivesse horrível, estava tentando aprender a como fazer um café decente, mas na maioria das vezes saia forte demais ou fraco demais.

- Posso ir correr com você hoje? – falei repentinamente chamando sua atenção.

Aaron me analisou com seus olhos. Ele sabia que eu não era de praticar exercícios físicos, no máximo gostava de fazer natação, mas tinha deixado aquilo para trás a alguns anos quando decidi que iria trabalhar ao mesmo tempo que estudava. Não tinha mais tempo para conciliar as coisas.

- Claro – ele deu de ombros colocando um pouco de açúcar dentro de seu copo depois de experimentar o café e notar que estava amargo.

Eu precisava colocar mais açúcar da próxima vez.

- Ok – sorri me levantando do sofá – Vou me trocar não demoro.

Depois de colocar uma legging e um moletom comprido saímos do nosso apartamento. No início caminhamos até começarmos a correr de verdade o que não nos dava espaço para conversar, era difícil manter uma conversa sem se cansar enquanto corríamos. O que de certa forma era bom para mim, não sabia ao certo se queria conversar muito com Aaron porque tinha medo de acabar lhe contando o que eu não me sentia pronta para contar.

Aquilo era novo para mim e embora fizesse apenas dois dias da confirmação do que eu já suspeitava estava ainda tentando digerir tudo ao meu redor.

Passei a correr mais rápido deixando Aaron para trás, não sabia o porquê fiz aquilo, mas senti a necessidade de correr o mais rápido que podia deixando que meus batimentos cardíacos se acelerassem e que meu pulmão implorasse por mais ar. Precisava extravasar toda aquela frustração que me consumia conforme os dias vinham se passando.

Só queria parar de pensar demais.

Queria um botão que me desligasse ou que nada daquilo estivesse acontecendo comigo.

Parei de correr quando minhas pernas vacilaram e eu já não aguentava mais em meio a um cruzamento. Apoiei minhas mãos em meus joelhos os curvando levemente tentando recuperar o folego que havia perdido deixando meus olhos viajarem até o outro lado da rua onde uma silhueta que eu conhecia foi deixando de acelerar.

Scott.

Seus olhos azuis permaneciam claros mesmo que a metros de distância e ele olhava diretamente para mim, seu cabelo estava preso, sua pele parecia brilhar de suor enquanto a camisa grudava em seu corpo. Eu provavelmente estava começando a delirar, a falta de café da manhã no meu organismo não combinava com corridas matinais. Mas ele estava ali e com ele a dor no meu peito.

Eu vinha evitando aquele encontro e mal tinha me dado conta que seria inevitável, nossos apartamentos não eram tão distantes assim um do outro.

Estávamos em uma encruzilhada.  

Meus olhos arderam e uma lágrima escorreu pelo meu rosto, eu vinha evitando o choro a dias. Ele estava prestes a vir até mim quando um dos faróis abriu e o carros o impediriam.

Meu estômago embrulhou.

Uma mão tocou o meu ombro.

- Arabella você está bem? – a voz de Aaron soou quase inaudível atrás de mim.

Notei seus olhos se voltarem para o outro lado da rua e seu maxilar enrijecer, ele se voltou para mim. Eu estava chorando sem mesmo querer e deixei que Aaron me envolvesse em seus braços.

- Me leve daqui – pedi.

- Vamos para casa – ele assentiu me tirando dali;

Não voltei a olhar para Scott, esperava que ele estivesse bem longe de mim.

Aaron não havia me questionada nada até que chegamos em casa. Arranquei o moletom suado do meu corpo e me sentei no sofá, eu não estava chorando, mas sabia que aquilo podia acontecer a qualquer momento de novo.

Ao ver Scott tudo que consegui pensar foi na criança dentro de mim. Nosso bebê e no quanto eu gostaria de atravessar aquela rua e contar a ele. Mas ele provavelmente nunca saberia da sua existência. Nós não estávamos juntos, ele não queria uma família e eu não o queria na minha vida de novo.

Aaron se sentou ao meu lado me entregando um copo de água com seu rosto voltado para mim com o cenho franzido e eu sabia que ele tinha um milhão de perguntas a me fazer que eu não sabia se estava pronta para responder.

- Então, você quer conversar? – ele se recostou no sofá ficando de lado e passou seu braço sobre o encosto.

Tomei um gole da água que ele havia me dado em silencio.

Aaron ficou à espera.

Respirei fundo e me afastei colocando o copo sobre a mesa de centro puxando uma caixa que ficava sobre ela e a abri tirando de dentro o papel do exame dobrado em milhões de partes.

Entreguei a ele.

Aaron me olhou desconfiado, e então desdobrou o papel com uma cara que em outra situação poderia ter me feito rir.

- Bem, eu não sou médico, então... – ele voltou sua atenção para mim – O que esse exame de sangue significa?

- Eu estou gravida – admiti pela primeira vez em voz alta.

Não havia outra maneira de dizer aquilo e o silencio que veio após eu ter dito não ajudava em nada.

- Você está falando sério? – ele me encarou como se ainda não acreditasse.

Assenti em silencio.

- Caramba. Eu... Eu não sei o que dizer – ele voltou seus olhos para mim com o papel ainda em mãos – Scott é o pai e... Merda!

Ficamos em silêncios por longos segundos, assim como ele eu também não sabia o que dizer.

- Você está pensando em contar a ele? – ele me encarou com preocupação.

Fiz um movimento em negativo com a cabeça e meus olhos começaram a arder me traindo mais uma vez.

- Ele não quer ter uma família – me adiantei antes que Aaron me questionasse sobre aquilo – Ele me disse, mais de uma vez...  E tem essa história dele e Emma... Eu apenas não quero fazer parte disso, não mais.

Aaron assentiu pensativo em silencio.

- Então o que você pretende fazer? Você não está pensando em... – ele não terminou o que queria dizer se aproximando de mim.

- Não, eu nunca seria capaz de fazer isso – uma lágrima escapou dos meus olhos – Eu quero esse bebe Aaron, digo eu não estava esperando por isso, não tenho a menor ideia do que é ser mãe e eu definitivamente não me sinto preparada, mas eu quero fazer isso. Quero que essa criança viva e tenha a melhor vida possível.

Aaron sorriu me puxando em um abraçado apertado respirando fundo junto a mim, ele se afastou um pouco e seus dedos passaram sobre o meu rosto e eu não tinha percebido o quanto chorava até ele secar as minhas lágrimas.

- Bem, eu nunca pensei em ser pai ainda mais com você, mas prometo que vou ser o melhor pai que esse bebê poderia ter – ele sorriu de maneira divertida e calorosa me fazendo soltar uma risada – Estarei com você, sempre.

Eu o abracei mais forte me sentindo aliviada como se um peso houvesse saído das minhas costas.

AS ARABELLAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt