Capítulo 26

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''Eu encontrei o amor onde não deveria encontrar bem na minha frente, faça isso ter algum sentindo.'' – I Found (Amber Run).

Scott

Eu estava gritando como nunca antes e tentei lutar contra alguns enfermeiros que praticamente me arrancaram daquela sala. Tiraram minha filha de mim e ninguém me disse o porquê, o médico gritou para que alguém trouxesse outro médico e tudo era muito confuso. Arabella estava sorrindo, uma lágrima escorreu sobre seu rosto enquanto olhava para mim e de repente era como se todo o meu mundo tivesse desabado sobre as minhas costas de uma única vez. Seus batimentos cardíacos começaram o desespero tomou conta de mim e eu já não conseguia mais raciocinar direito.

Porra.

Cada segundo naquela sala maldita se passava na minha cabeça em um eterno looping. Bati minhas costas contra a parede do corredor, eu estava perdendo o amor da minha vida e eu simplesmente não podia fazer nada a respeito. Uma onda de angustia invadiu meus pulmões enquanto meu coração se espremia em uma dor lancinante. Aquilo não podia estar acontecendo comigo, com ela. Porra. Eu queria gritar e arrancar algo que eu nem sabia o que era de dentro de mim, mas, ao invés disso estava chorando uma gota de cada vez escorrendo pelos meus olhos que ardiam em dor, raiva, angustia, tristeza tudo que se podia sentir em uma escala dolorosa de remorso.

Eu não podia perder Arabella, não podia, a vida sem ela simplesmente já não fazia mais nenhuma porcaria de sentindo para mim.

Engoli em seco. Eu não acreditava em Deus, mas, se ele realmente existia em algum lugar da maldita terra eu estava implorando para que não tirasse Arabella de mim.

Eu nem ao menos tinha tido a chance de dizer as aquelas três malditas palavras. Quão estúpido eu era? Eu a amava com cada pedaço de mim e ela talvez nunca saberia por que poderia já não estar mais viva. Merda. As lágrimas não paravam nem por um só segundo, tentei afastar aqueles pensamentos, mas, eu estava vivendo um maldito de um pesadelo filho da puta.

Passos ressoaram em meio ao corredor parando a pouco metros na minha frente. Eu não queria ver ninguém, queria poder morrer naquele exato momento.

- O que está fazendo aqui? – Travis estava a minha frente e eu sabia que ele tinha sido o médico a entrar na sala as pressas quando me arrancaram de lá.

Ele deixou escapar um chiado profundo de sua respiração e eu me vi completamente apavorado com o que ele podia dizer para mim. Me encolhi feito um garotinho de cinco anos e não consegui encarar os seus olhos.

- Como você está? – ele perguntou me fazendo rir não porque tinha achado divertido ou algo do tipo.

Na verdade, eu não conseguia sentir nada.

- Que tipo de pergunta estúpida é essa – me levantei irritado o pegando pelo o colarinho da sua roupa azul muito parecida com a que eu vestia e o coloquei contra a parede – Onde está ela? Como ela está? E minha filha? Porra, me diga de uma vez por todas? Porque ninguém na porcaria desse hospital me diz nada.

Respirei fundo uma lágrima caindo sobre meu rosto mais uma vez enquanto Travis me encarava sem conseguir respirar. Apesar de ser mais velho que eu praticamente tínhamos a mesma estatura. O soltei não estava agindo racionalmente, não sabia nem se era possível.

- Consegui estabilizá-la por enquanto, mas, ela vai precisar entrar em uma cirurgia daqui alguns minutos – ele disse com a voz tremula enquanto ajeitava o óculos sobre o nariz – Ela perdeu mais sangue do que deveria logo após o parto e o coração ficou fraco.

- O que isso significa?

- Que ela tem poucas chances de sobreviver – Travis engoliu em seco apreensivo e eu pude notar em seus olhos que sentia tanto medo quanto eu.

Respirei fundo levando a mão aos meu cabelos sem saber mais o que fazer. Eu estava esgotado fisicamente e mentalmente em um nível que nem chorar poderia me tirar aquela dor dentro do peito.

- Você vai ser um dos médicos a participar da cirurgia, certo? – perguntei.

Ele assentiu.

- Então prometa para mim que vai dar tudo de si para que ela sobreviva – me aproximei mais uma vez dele a ultima lágrima escorrendo sobre o meu rosto – Porque agora eu estou praticamente entregando a minha vida nas suas mãos Travis. Minha vida está nas suas malditas mãos.

Mais lágrimas escaparam sobre o meu rosto. Porra, se algo acontecesse com ela não conseguiria suportar mais.

- Prometo que vou dar o melhor de mim Scott eu juro – ele disse com a voz firme como se estivesse tentando me tranquilizar e me abraçou.

Assenti me afastando dele ainda me sentindo completamente em pedaços. Eu estava confiando em suas palavras. Sabia que ele gostava de Arabella e daria o melhor de si para que tudo corresse bem.

- Alias, sua filha foi levada para a ala dos recém nascidos. Você deveria ir até lá ela precisa de você não se esqueça disso – ele disse antes de me deixar sozinho mais uma vez.

Ela precisa de você.

Aquelas palavras ressoaram na minha cabeça como um chicote dolorido. Eu não queria acreditar na possibilidade de sermos apenas nós dois, nem ao menos sabia se podia lidar com aquilo sozinho. Eu estava tão perdido e enterrado naquele pesadelo eterno que não sabia o que fazer e já não tinha mais certeza de absolutamente nada.

Eu não conseguiria ser um bom pai sem Arabella ao meu lado.

Demorei um tempo para conseguir caminhar e deixar que alguém além de Travis e uma enfermeira viesse até mim. Meu celular não parou por um só segundo com mensagens infinitas dos meus amigos e da minha família. Tive um breve momento com o pai de Arabella e ele estava tão instável quanto eu e eu temia que pudesse passar mal a qualquer momento por conta dos seus problemas de saúde. Meus amigos estavam todos ali e pensei que fosse despedaçar a cada abraço e palavra de apoio que recebia. O pior de tudo foi não conseguir me controlar no momento em que minha irmã veio até mim, eu estava chorando mais uma vez e quase implorando por um sedativo.

Agora eu havia me afastado de todos eles e estava sentado mais uma vez em meio a um corredor a espera de notícias. Tinha certeza de que estava começando a rezar por qualquer santo ou Deus que me trouxesse Arabella de volta aquele não poderia ser o fim.

Eu nem ao menos tinha tido coragem de ir até a minha filha, porque sabia que no momento em que a visse desabaria em desespero me lembrando de sua mãe. Porra. Desejei que eu pudesse ser mais forte do que aquilo, mas, simplesmente não conseguia.

Estava morto por dentro como se uma parte de mim tivesse sido arrancada de uma única vez sem misericórdia alguma.

AS ARABELLAOnde histórias criam vida. Descubra agora