AS ARABELLA

Capítulo 7

''People come and go, that's life.'' - desconhecido.

Arabella

Aquela manhã eu tinha uma consulta marcada com um ginecologista obstetra e não sabia se estava nervosa por estar ali naquele hospital sozinha ou se pelo fato de que passaria a frequentar aquele lugar com certa frequência. Não gostava muito de hospitais, desde que era pequena por muitas razões. E a primeira delas se dava por as notícias dentro de um hospital quase que sempre não serem nada animadoras.

Uma enfermeira veio até mim para avisar que o médico havia tido problemas no trânsito e iria se atrasar um pouco. Eu decidi esperar mesmo sabendo que aquilo significava perder algumas horas de trabalho, mas estava começando a achar que aquela tinha sido uma péssima ideia já que meu estomago estava começando a roncar o que significava que eu precisaria me alimentar o mais rápido possível ou acabaria saindo da ala da obstetrícia direto para a emergência.

Me levantei da cadeira em que estava e me encaminhei para a porta me livrando dos olhares de algumas mulheres que também estavam à espera de suas consultas em maioria acompanhadas. Aparentemente ser mãe solteira ainda era um maldito tabu que eu teria que lidar ao decorrer da minha gestação.

Assim que sai dali me deparei com alguém que eu particularmente não sabia muito bem se queria encontrar naquele momento. Travis. A última vez que o vi tinha praticamente fugido em meio a um corredor daquele hospital para que ele não chegasse até mim e sabia que ele tinha me visto.

Agora ele estava muito mais perto do que antes vestido em seu jaleco branco que carregava seu nome e óculos no rosto que ele tirou os colocando no bolso.

- Oi – ele sorriu como de costume deixando aparente um leve franzir no canto dos seus lábios, algo que eu particularmente achava que o deixava atraente.

- Olá – sorri de volta.

- Não esperava te ver por aqui hoje – ele comentou.

- Eu tenho uma consulta marcada – dei de ombros – Mas o médico está atrasado.

Travis pareceu analisar onde estávamos e suas sobrancelhas se ergueram como se ele tivesse acabado de pensar algo que o tinha deixado confuso e de alguma maneira surpresa.

- Estamos na ala dos médicos obstetras – ele comentou olhando para a sala de espera atrás de mim – Tem certeza que sua consulta é aqui?

- Sim – assenti sem saber ao certo o que se passava em sua cabeça naquele exato momento ou no que eu teria que dizer em seguida.

Ele ficou em silencio voltando sua atenção para mim.

- Você não está esperando um bebê, está? – ele me perguntou com as sobrancelhas erguidas em surpresa absoluta e como uma expectativa estranha.

- Sim, eu estou – aquela era a segunda vez que eu admitia para alguém além de mim mesma e ainda soava estranho e quase uma inverdade.

Algo em suas feições mudou e eu não sabia muito bem se ele estava surpreso ou desapontado, ainda assim Travis sorriu gentil.

- Parabéns eu acho – ele sorriu de novo um pouco sem graça.

- Obrigada eu acho – fiz o mesmo não sabendo muito bem como lidar com aquela situação em que nos encontrávamos – Bem, eu estava indo procurar algo para comer então...

- Por que não almoça comigo? – ele sugeriu espontâneo – Eu estava indo ao restaurante do hospital, meu plantão acabou agora e podíamos fazer companhia um para o outro.

- Ok – dei de ombros.

Travis assentiu e caminhamos juntos em meio ao corredor.

O cardápio não possuía muitas opções, mas o frango defumado com purê de batatas e ervas havia me atraído bastante. Fizemos nossos pedidos que não demoraram para chegar e quando vi estávamos em meio a uma conversa que mudava de assunto a cada cinco minutos sem que eu percebesse. Eu nunca havia me permitido sair com Travis o máximo que havíamos estado juntos tinha sido em alguma festa da revista em que ele estava a pedidos de sua mãe e eu porque Aaron me obrigava a ir e socializar.

Sabia que seria inevitável chegarmos ao assunto da minha gravides novamente e simplesmente deixei fluir, me sentia confortável com ele por incrível que parecesse e aquilo era bom.

- Então Scott é o pai, certo? – ele fez aquela pergunta despreocupado e era estranho perceber que por mais que tivesse mantido aquela relação distante de todos era tão obvio para as pessoas que estávamos realmente juntos.

- Sim – assenti em meio a um suspiro longo tentando expelir o aperto no meu peito ao ouvir seu nome – Mas não estamos mais juntos.

Travis tomou um gole de seu suco voltando seus olhos castanho acinzentados na minha direção com as sobrancelhas erguidas mais uma vez.

- Ele sabe sobre isso?

Balancei minha cabeça levemente em negativa levando um pouco do purê a boca para evitar dizer algo que me arrependesse. Ele parecia respeitar o meu silencio, mas ainda assim não tirou seus olhos de mim como se estivesse pensando em algo que queria dizer.

- E você não pretende que ele saiba – ele comentou como se lesse meus pensamentos sem ao menos me conhecer de verdade.

- Eu passei tempo suficiente com Scott para saber que ele não queria construir uma família, por que as coisas seriam diferentes agora? – as palavras saíram mais ríspidas e com mágoa do que eu desejei que elas tivessem.

Ele permaneceu em silencio pensativo.

- Desculpe eu não deveria ter falado desse jeito – me recostei na cadeira voltando minha atenção para ele – É só que... Nós terminamos o que tínhamos se é que um dia realmente tivemos algo e ele tem essa vida de guitarrista e mulheres. Eu apenas quero paz, ter esse bebê e dar todo o amor do mundo para ele.

Travis assentiu em meio a um sorriso reconfortante debruçando seus braços sobre a mesa e olhou para mim.

- Você contou para alguém mais sobre?

- Aaron, contando com ele você é a segunda pessoa a saber.

- Seu segredo está a salvo comigo.

Sorri em agradecimento.

Travis de alguma maneira manteve seu olhar sobre mim mesmo quando se afastou recostando as costas em sua cadeira e eu notei que ele conteve uma risada repentina.

- O que foi? – olhei para ele confusa.

- Nada é só que... É estranho saber que a mulher por quem você tem uma leve atração está gravida de outro e ainda assim você continua atraído por ela – ele me olhou estranhamente tímido e fez uma careta – Desculpa eu não deveria ter dito isso.

Eu o encarei e não consegui conter uma gargalhada um pouco sem graça.

- De qualquer maneira vou estar aqui se precisar de ajuda.

- Obrigada.