Capítulo 25

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''Ela não é adorável? Ela não é maravilhosa? Ela não é preciosa? Menos de um minuto de idade. Nunca imaginei que através do amor estaríamos fazendo alguém tão adorável quanto ela, mas, ela não é adoravelmente feita de amor?'' Isn't She Lovely (Stevie Wonder).

Arabella

- Ela não é bonita? Verdadeiramente a melhor dos anjos. Cara, estou tão feliz fomos celestialmente abençoados – a voz de Scott soou rouca enquanto cantava uma belíssima versão de Isn't She Lovely em sua guitarra sentando a minha frente na cama.

Sorri para ele enquanto abaixava um livro que estava lendo recostada em meio a milhares de travesseiros na cabeceira da cama. Amava quando tínhamos aqueles momentos quase todas as noites onde ele cantava Isn't She Lovely ou alguma canção do Queen dedicando a nossa bebê.

Era engraçado como conseguia sentir ela se remexer dentro de mim sempre que ouvia a sua voz catando ou quando ele inventava de se recostar sobre a minha barriga enorme e falar com ela e ficava ainda mais agitada quando eu o acompanhava na cantoria. Na primeira vez que sentimos seus pequenos chutes juntos eu não consegui me controlar e desabei a chorar de emoção enquanto Scott ria da minha cara.

Ele colocou a guitarra de lado enquanto eu fitava em meio a luz fraca das luminárias uma de cada lado da cama. Scott se aproximou de mim selando seus lábios nos meus e me deitou sobre o colchão se debruçando sobre o meu corpo e depositou um beijo sobre a minha barriga. Depois se voltou para o meu lado e eu me aninhei ao seu peito deixando que ele fizesse carinho no meu cabelo.

- O que acha de Kylie? – ele perguntou voltando seu olhos para mim.

Uma semana atrás ele tinha insistido que deveríamos começar a pensar de verdade em alguns nomes.

- Achei que já tinha decidido que seria Jane – olhei para ele com as sobrancelhas erguidas.

- Eu já não sei mais – ele bufou frustrado – Como é possível dar um nome a uma pessoa sem ter a visto pessoalmente? Tudo que temos são alguns borrões em forma de bebê em uma tela.

Deixei escapar uma risada me divertindo com sua irritação.

- O que acha de esperarmos até ela nascer? Então vamos olhar para sua carinha e descobri qual nome se encaixa melhor. – sugeri porque no fundo concordava com ele.

- Certo, isso é uma boa ideia – ele sorriu beijando o topo da minha cabeça.

Scott acabou adormecendo primeiro que eu porque nos últimos dias meu sono estava completamente desregulado, as vezes me sentia cansada, mas ainda assim não conseguia dormir direito. Naquele momento havia apenas cochilado por algumas poucas horas e ainda era de madrugada, peguei um copo de água ao lado da minha cama e tomei. Deitei sobre a cama mais uma vez inquieta tentando não acordar Scott ao meu lado até que notei um liquido transparente escorrer levemente em meio as minhas pernas.

Meu Deus.

Aquilo era um lembrete bem claro de que estava na hora de ir para o hospital.

Acordei Scott tentando não me desesperar e controlar o leve medo que rondava a minha cabeça naquele momento. Quando ele finalmente despertou e entendeu o que eu tinha dito em voz baixa porque simplesmente não conseguia falar mais alto praticamente saltou da cama as pressas não me dando tempo nem ao menos de tirar minha camisola e trocar de roupa.

Já estávamos a caminho do hospital e eu nunca vi Scott dirigir tão rápido, por sorte eu tinha arrumado duas bolsas com tudo que precisava antecipadamente.

Antes de nos levarem para a sala de parto, Scott ligou para o meu pai e seu para o seu melhor amigo para avisar que nossa pequena garotinha estava prestes a vir ao mundo. Ele insistiu em entrar na sala comigo mesmo que eu tivesse dito que tudo bem se ele quisesse esperar do lado de fora, mas, meu namorado estava determinado a fazer aquilo ao meu lado e mesmo que eu estivesse no meio de contrações horrorosas não deixei de notar o quanto ele tinha ficado lindo naquela roupa de hospital azul.

Scott segurou minha mão enquanto eu fazia o máximo de força possível como o médico vinha me instruindo, mas, eu não sabia mais ao certo se conseguia fazer aquilo. Deus. Era horrível e eu apenas queria que acabasse o mais rápido possível. A mão de Scott soava fria diante da minha e parecia tremer a cada grito meu, tinha certeza de que estava lutando tão forte quanto eu para não sair correndo daquela sala.

Deus.

Eu não sabia se seria capaz de ter outro filho de novo.

- Estamos quase lá – disse o médico animado me incentivando a não decidir de pressionar com mais força – Só mais um pouco.

Inspirei fundo concentrando todo o restante das minhas energias naquele momento. Você consegue, pensei me esforçando um pouco mais até sentir um alivio entorpecer cada centímetro dos meu átomos.

- Ai está você – ouvi a voz do médico ao longe tentando recuperar minha respiração ofegante e pude ouvir um choro em meio a sala que encheu meus pulmões de uma sensação inigualável.

Scott estava sorrindo como uma criança boba quando o médico se aproximou com um pequeno pacotinho em suas mãos entregando delicadamente aos seus braços e a aproximando da minha visão.

- Scott, ela é tão linda – senti um aperto no meu peito levando meus braços a ela, mas recuei ao sentir um aperto mais forte e praticamente perder o ar.

Minha vista parecia ficar enevoada enquanto uma lágrima de emoção escorria sobre o meu rosto, e então um outro aperto e o barulho da máquina que eu sabia que estava ligada aos meus batimentos cardíacos disparou. Olhei para Scott que já não estava mais sorrindo e a última coisa que pude ouvir foi meu nome em seus lábios ao longe e então mais uma vez sua voz dizendo algo que eu já não entendia mais em desespero enquanto nossa filha era tirada de seus braços e ele parecia cada vez mais distante de mim.

Tudo ficou branco e logo em seguida preto e já não podia mais ver ou ouvir qualquer coisa.

AS ARABELLAOnde histórias criam vida. Descubra agora