𝟒𝟐-𝑨𝒍𝒊𝒄𝒆

1.6K 181 23
                                    

》𝙉𝙖𝙧𝙧𝙖𝙙𝙤 𝙥𝙤𝙧 𝘼𝙣𝙣𝙚《
-Eu ainda não entendo o que ela tinha em mente quando fez aquilo!-Gilbert argumentou.
-Quem não perseguiria um coelho que corre por aí dizendo que está atrasado?
-Não me diga que já fez isto-ele riu franzindo o cenho.
-Já, e o não consigo nem contar nos dedos o número de coelhos que já segui tentando encontrar um país das maravilhosa onde pudesse me esconder de todo o mundo a minha volta-sorri ao lembrar das vezes que corri atrás de coelhos no jardim dos orfanatos.
      Estávamos no começo da primavera, e a floresta que nos cercava estava mais bela do que nunca. As flores já desabrochavam, a grama tinha os mais vivos tons de verde, as árvores pareciam cheias de vida. Com toda certeza março era meu mês predileto do ano. Fazer aniversário no mês das flores era sempre um presente para mim.
      No entanto, o clima estava estranho nas últimas semanas: diziam nos jornais que tempestades com fortes ventos aconteciam em diversos lugares da Ilha do Príncipe Eduardo, algo inesperado para a estação. Miss Stacey dizia ser algo normal, já que o clima pode ter variações que dependem de diversos fatores. Ou seja, tudo depende das vontades da Mãe Natureza.
        Em uma destas tempestades, nosso clube acabou literalmente indo por água abaixo. Mas isto não era motivo para que deixássemos de ler. E naquele momento Gilbert e eu estávamos sentados à sombra de uma árvore-na "nossa" árvore-discutindo sobre o livro Alice no País das Maravilhas-uma de minhas histórias prediletas durante minha infância.
-Tudo bem, você e Alice são completas malucas-ele riu.
-Somos aventureiras comandadas por nossa criatividade, simples-justifiquei-lembre-se de que meu relacionamento com a Aventura é muito mais longo do que o nosso.
-Ela é mais importante para você?-Ele perguntou, fingindo estar ofendido.
-A aventura não critica obras literárias que merecem admiração...
-É assim então?-Ele sorriu tendenciosamente e começou a me fazer cócegas até que eu deitasse na grama abaixo de nós de tanto rir. Ela é mais importante?-Perguntou novamente.
-A aventura não me faz cócegas-sentei-me e derrubei ele na grama, segurando seus braços. Ele conseguiria me derrubar facilmente, mas deixou-me ali mesmo assim.
-Mas ela também não faz isto-ele me beijou.
-Tenho que concordar que este é um ponto muito positivo-sorrimos e ele me puxou para o chão ao seu lado.
Ficamos deitados lado a lado na grama macia, olhando para os pássaros que sobrevoavam no lindo céu azul-anil enquanto eu traçava linhas invisíveis em seu braço com os dedos.
-Preciso ir, prometi para Marilla que ajudaria com o jantar-bufei. Queria poder ficar o resto da tarde deitada ali.
-E eu prometi que ajudaria Bash com Delphi e Lily-ele parecia ter esquecido.
Mary deu a luz dois dias após o Natal, e para a surpresa de todos, ela e Sebastian tiveram dois bebês ao invés de um: Delphine e Liliane. Para não confundi-las eles fazem uma marca com carvão no pé de Delphi, já que as duas são completamente idênticas.
-Vamos? Eu te acompanho até em casa-Ele levantou e ajudou-me a fazer o mesmo.
-Não, você sempre faz isto! E eu não gosto de lhe fazer caminhar tanto...-cruzei os braços.
-Não é problema nenhum andar até lá-ele deu de ombros, mas eu permaneci com uma expressão contrariada no rosto.
-Da próxima vez, quem vai lhe acompanhar em casa serei eu-disse decidida.
-Quem sou eu para dizer que não? Sei que não sou páreo contra a sua teimosia-ele entrelaçou nossas mãos e começamos a caminhar.
-Ei, eu não sou teimosa!-Defendi-me.
-Assim como a Alice não é mais maluca do que o próprio chapeleiro-ele provocou.
       Passamos o resto do caminho conversando sobre livros, incluindo o mais recentemente adicionado a minha lista de leituras, Sherlock Holmes.
     Chegamos a Green Gables, dei um beijo rápido na bochecha de Gilbert e entrei. Marilla deveria estar contando os segundos para que eu estivesse de chegar.
-Ei, não irei ganhar nem um beijinho?-Gilbert perguntou, pendurando-se sobre a madeira mais baixa da cerca. Revirei os olhos enquanto sorria e subi, ficando do lado oposto ao dele, e o beijei.
-Se Marilla me der uma bronca fique sabendo que usarei a desculpa de que você tentou me sequestrar no caminho para cá-ele bufou. 
-Por que eu não pensei nisto?-Rimos, e quando eu estava prestes a lhe dar outro beijo ouvimos um grito ao longe:
-Anne Shirley-Cuthbert!-Marilla gritou da porta.-Pare de namorar nesta cerca e venha me ajudar com o almoço!
-Até segunda-feira, Alice.
-De Julieta, para Alice?-Desci da cerca.
-As coisas mudam-ele desceu também.
-Até lá-lhe mandei um beijo no ar e ele piscou para mim.
      Corri para dentro, Marilla parecia realmente brava e era melhor que isto não piorasse.
-Você está atrasada-ela disse assim que pus meus pés para dentro. Olhei para o relógio: 16:03h
-Me desculpe Marilla-coloquei meu avental enquanto andava em direção a uma bacia com batatas que precisavam ser descascadas-mas foram somente três minutos-justifiquei.
-Se você não estivesse aos beijos em cima daquela cerca poderia ter chegado adianta-ela rebateu.-Imagine se fosse Matthew que tivesse lhes visto? Ele ficaria uma fera!
-Eu só estava me despedindo de Gilbert, e além do mais, aposto que Matthew não se importaria com isto. Ele realmente gosta de Gilbert-sorri pensando na semana anterior, quando os dois foram pescar enquanto Marilla e eu tomávamos chá com Mary. Matthew falou muito bem de Gilbert no dia seguinte.
-E o que vocês fizeram hoje?-Ela mudou de assunto percebendo que já havia repreendido-me o suficiente pelo meu gigantesco atraso (e provavelmente por eu estar certa sobre a opinião de Matthew, também).
-Nos sentamos na sombra de uma grande árvore, lemos, ele ficou com ciúmes do meu relacionamento com a Aventura e discutimos sobre Alice no País das Maravilhas.
-Eu prefiro o segundo livro-comentou ela-e como foi lidar com o ciúmes por causa da Aventura?
-Ele me fez cócegas, mas acho que percebeu que não havia o porquê de sentir ciúmes-ela sorriu para mim e voltou a cortar as cenouras.
      Marilla e eu tínhamos nossas discordâncias vez ou outra, mas nossa relação mãe-filha sempre supera qualquer desentendimento. Ela ficou muito feliz quando contei a ela sobre mim e Gilbert. Ela sempre carregou consigo a dor de ter perdido o senhor Blythe, e acho que ver-me ficar com alguém que eu realmente gosto alegrou-a. E ela se alegrou ainda mais com o aumento na nossa convivência com Sebastian e Mary, em grande parte porque ama ajudá-los com as garotas.
       Olhei pela janela, raios de sol iluminavam os campos lá fora, aquecendo Avonlea como os sentimentos que enchiam meu coração de calor. O clima não era a única coisa que mudara: minha vida estava diferente, tudo melhorou, e a cada dia que passa minha gratidão aumenta cada vez mais.

Não esqueçam de votar e comentara o que acharam!

My Beloved Redhead-Shirbert Where stories live. Discover now