𝟒𝟒-𝑼𝒎𝒂 𝒏𝒐𝒗𝒂 𝒂𝒗𝒆𝒏𝒕𝒖𝒓𝒂

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       Ouvi as típicas três batidas na grande porta de carvalho da biblioteca.
-Entre-disse em tom de tédio, virando a próxima página da biografia de Van Gogh.
-Bom-dia flor do dia-Jess entrou dando pulinhos alegres em direção à poltrona em que eu estava sentado.
-Posso saber qual é o motivo de tanta felicidade?-Perguntei levantando o olhar de meu livro e dirigindo-o à ele, que agora estava sentado no braço de minha poltrona.
-Eu finalmente achei algo que irá te animar e te tirar deste lugar-disse ele alegremente.
-Qual é o problema da biblioteca?
-O problema não é a biblioteca, eu amo ela. Afinal, se eu não gostasse de ler, por que estaria cursando jornalismo? A biblioteca não é a questão, a questão é que você se recusa a sair daqui para fazer qualquer coisa além de cumprir suas necessidades básicas!-Ele parecia indignado.
-Você tem razão, este lugar poderia ter um banheiro-sorri debochadamente.
-Ao menos o seu senso de humor está de volta-ele mandou a língua para mim-mas o que eu tenho em mãos irá anima-lo com toda a certeza-Jess balançou um envelope em frente ao meu rosto.
-E como você tem tanta certeza?-Arqueei as sobrancelhas.
-Porque está em nome de uma certa Anne Shirley-ele sorriu.
-Anne? Por que você não disse antes?-Peguei o envelope de sua mão. Lá estava a caligrafia de dezenas de histórias que eu havia lido. Sorri enquanto abria-o, ansioso para ler.
-Jornalistas são dramáticos, sempre lembre-se disso-ele piscou para mim e observou-me por alguns segundos até finalmente seguir em direção da porta-fico feliz em ver você sorrindo novamente-disse com sinceridade, e então fechou a porta atrás de si.
Logo que abri o envelope uma pequena flor caiu de dentro do mesmo, então coloquei-a cuidadosamente em meu bolso e comecei a ler a carta.

Querido Cole,

Pode ter certeza de que a saudade está doendo em meu peito enquanto lhe escrevo. Fico feliz por você morar com Josephine, mas as vezes sinto sua falta. Queria que você estivesse por perto para que pudéssemos ir juntos até o bosque, onde passaríamos o dia conversando. Mas já que não podemos fazer isto, aqui estou eu, em uma tarde ensolarada, escrevendo para você. Espero que o clima esteja agradável, algo de que não tenho certeza por causa da demora das cartas à serem entregues e também das estranhas mudanças repentinas no clima.
A questão é a seguinte: a curiosidade sobre meu passado está corroendo-me cada vez mais, e eu já não sei o que fazer quanto a isto. Eu sempre fui um grande mistério, e sinto que continuarei a ser. Mas peço, por favor, que você me ajude com isso, da maneira que puder. Mesmo que não haja o que fazer, suas palavras de consolo seriam uma ótima ajuda para mim.
Mas agora diga-me, como você está? Espero que esteja tudo bem, sei como é difícil escrever seus sentimentos para que outra pessoa leia-os em uma carta, mas se estiver com problemas, estou aqui para o que você precisar. Como estão todos aí? Jess ainda está com vocês? Mande um beijo para Jô, e diga à Vincent que mandei um oi.

amo você, Anne

     As palavras de Anne foram como um refresco para a minha mente: eu estava a semanas dentro da biblioteca, apenas lendo livros atrás de livros, sem o propósito de pensar em algo que não estivesse gravado nos papéis. Mas, lendo a carta, minha cabeça sentiu vontade de funcionar novamente, de ter um propósito para achar a resposta de algo. Mas o que fazer quanto a isso? Mesmo rodeado de prateleiras e mais prateleiras que continham vasto conhecimento, nenhuma delas seria de grande ajuda. Porém, nessas ocasiões, fico feliz de morar com uma mulher incrivelmente sábia, e que sempre sabe o que fazer em todos os tipos de situações.
      Sai da biblioteca e fui em direção ao seu escritório, onde dei duas batidas na porta.
-Entre-disse ela, a voz aparentando cansaço. Logo que apareci por entre a porta ela abriu um grande sorriso.-Vejo que decidiu finalmente sair de seu exílio e conversar comigo.
-Deixe de exageros, eu fiquei lá por alguns dias apenas-me dirigi a uma das poltrona em frente à grande mesa de Jô.
-Dias demais, na minha opinião. Mas não cabia a mim lhe tirar de lá se você não fazia questão de falar comigo. Então, agora diga-me, a que devo o prazer da sua visita? Pois eu sinto que você ainda não está pronto para falar daquele assunto.
-E você está completamente certa-ela soltou um suspiro curto-ao menos, não agora. Anne mandou-me uma carta e quer ajuda para descobrir algo sobre sua família. Pensei que você poderia ter alguma ideia de por onde começar está busca.
-Bom, ela morou em um orfanato na Nova Escócia, não? Estes lugares guardam informações sobre as crianças, como onde nasceram, nome dos pais, coisas deste tipo. Talvez eles tenham alguma coisa sobre ela em seus arquivos. 
-Tudo isso a somente uma balsa de distância-sorri-obrigada pela ajuda-contornei a mesa e dei um beijo na bochecha dela.
-É bom vê-lo animado por algo-ela tinha um pequeno sorriso sincero em seus lábios.-Diga a Anne que mandei lembranças, e pergunte como Diana está, por favor.
-Farei isto-disse e me dirigi até a porta do escritório. 
-E mais uma coisa-Jô chamou a minha atenção-Espero que hoje tenha sido seu último dia dentro daquela biblioteca. Saia, veja o mundo, pinte, faça qualquer coisa mas não se prenda lá. Sei que o momento as coisas não estão fáceis, mas nada irá melhorar se você continuar escondido em meio aquelas quatro paredes.
-Eu sinceramente não estou com disposição para nada, mas farei esse esforço-forcei um meio-sorriso.
-Ótimo. E saiba que se você voltar para aquela biblioteca, Jess irá me informar.-Ela arqueou as sobrancelhas desafiadoramente.-E por Deus garoto, tome um banho, você cheira  como as ruas de Paris!-Ambos rimos, e eu fechei a porta atrás de mim.                                                                                          Sorri enquanto seguia para o meu quarto; eu estava genuinamente feliz. Talvez pelo fato e que eu estava fazendo algo de real importância em muito tempo, talvez porque animado com a ideia de fazer algo. A razão não importava, e mesmo que bem lá no fundo eu estivesse triste, isso importava menos ainda, pois uma nova aventura estava para começar.

My Beloved Redhead-Shirbert Where stories live. Discover now