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Ainda estava escuro quando Mikoto acordou, e ela estava de volta ao Genbu. Um pouco trêmula, ela foi para o convés, onde Takako e Sayuri conversavam com um grupo do que pareciam policiais e guardas do palácio.

Mikoto esperou que terminassem para aparecer na frente das primas. Assim que a viu, Sayuri a puxou num abraço e Takako alisou seu cabelo, ambas igualmente aliviadas por vê-la de pé.

-- Ficamos tão preocupadas quando recebemos aquela ligação.

-- Que bom que você não se feriu.

-- O que aconteceu? Só me lembro de Yasha quase me apunhalar – sua voz falhou ao pronunciar a última palavra, e ela recomeçou a tremer com a lembrança.

-- Ela recuou, e os youkai fugiram com ela – Sayuri apressou-se em responder, e uma sombra caiu sobre seu rosto – Mas fizeram muito estrago.

Mikoto pôs a mão sobre a boca aberta.

-- Toda aquela gente...

-- E não só isso – Takako falou sombriamente – O jinja estava destruído por dentro, talvez tivesse sido demolido se ninguém tivesse ido até lá.

-- Parece que Mikoto nos prestou um favor sem querer – Sayuri também acariciou seu cabelo – Também sabemos agora que Yasha é nossa inimiga. Se atacou um templo, atacou nosso clã. Agora nenhum rei vai auxiliá-la, os outros já foram avisados. Ela agora é uma criminosa procurada.

Era um alívio ouvir isso.

-- Mas ei, como foi que eu voltei para o navio? – Mikoto indagou. Sayuri respondeu com um sorriso contido.

-- Yukio te carregou no colo o caminho inteiro de volta.

Mikoto sentiu-se corar, constrangida, ao imaginar a cena, além do desconforto agravado pela expressão de Sayuri. Felizmente Takako percebeu isso e aconselhou:

-- É melhor todas nós dormirmos agora, temos muito para resolver daqui para frente.

O "muito para resolver" não foi o que Mikoto imaginou que seria. Depois das autópsias e na ausência de qualquer miko ou sacerdote, coube às meninas fazer o enterro dos funcionários do santuário.

Takako conduziu a cerimônia, e Mikoto e Sayuri foram suas auxiliares. Ao todo, dez mortos, e Mikoto percebeu com uma pontada de tristeza no peito, que um deles era uma moça mais ou menos da sua idade. Os pais dela choravam abraçados, visivelmente lutando para não desabar.

Antes dos caixões serem baixados, Sayuri notou que Mikoto se abaixara junto de um deles, e ao se aproximar, viu que havia um ofuda preso a ele. No talismã estava escrito "Paz".

Depois de todos os mortos serem enterrados, as três voltaram para o Santuário Vermelho, sempre acompanhadas por um grupo de seguranças. A área estava cercada por uma faixa de "cena de crime", que foi ultrapassada por Sayuri como se não estivesse ali. A jovem voltou-se para Takako com as sobrancelhas franzidas:

-- Agora, por que aqueles youkai entraram aqui?

-- Sim, a barreira ainda está ativa, não teria como um youkai entrar aqui. Então como puderam? – Takako coçava o queixo. Mikoto não entendeu.

-- Como assim?

-- Quando os youkai foram banidos do mundo, o clã Kairiku cercou os templos que guardavam os pergaminhos sagrados com feitiços de proteção. Uma barreira que se mantém através dos séculos também graças ao uso do ofuda – ela apontou para os talismãs pregados no torii – Esses kami de proteção estão aí para prevenir que youkai se aproximem, caso algum conseguisse escapar para cá. Por isso não faz sentido que tenham entrado aqui.

O Conto da Donzela do SantuárioWhere stories live. Discover now