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Mikoto parecia não estar em lugar nenhum, Haku começava a se desesperar. Seu irmão também estava preocupado, mas repetia o tempo inteiro como um mantra para se acalmar:

-- Ela estava com Akumi-sama, então deve estar bem.

A intuição de Haku dizia o contrário. Tudo naquele lugar exalava perigo, como fora idiota em ignorar seus instintos para satisfazer a própria curiosidade, e agora Mikoto desaparecera, e não podia culpar ninguém além de si mesmo.

Haku afastou esses pensamentos, haveria tempo para se culpar depois, o mais importante agora era encontrar Mikoto para saírem dali. Ele olhou para seu gêmeo.

-- Você conhece esse lugar melhor do que eu. Já olhamos várias salas, onde mais ela poderia estar?

-- Ainda tem a ala leste, mas sou proibido de ir lá. Ikari-sama não admite que ninguém entre no laboratório dele sem convite.

-- Se Mikoto pode estar lá, eu quero ver. Não importa se é proibido – vendo que o rapaz hesitava, Haku argumentou – Vamos furtivamente. Se ela não estiver na ala leste, nós voltamos, eu juro. Só quero ter certeza que Mikoto está bem.

-- Certo – ele respondeu após uma pausa.

-- Obrigado... Você não tem nome, não é?

-- Não era necessário para minha função.

-- Mikoto me deu um nome, acho que eu podia te dar um também – infelizmente não havia muito tempo para pensar no assunto. Haku deu uma rápida olhada no irmão e se deteve em sua característica mais marcante: os olhos cinzentos como nuvens de chuva – Ame. Esse é o seu nome.

Os dois atravessaram os corredores da ala leste tão rápido quando conseguiam enquanto tentavam fazer o mínimo de barulho. Olharam dentro de várias salas, algumas vazias, outras ocupadas por armas, livros, pergaminhos, mas em nenhuma encontraram o que procuravam.

-- O laboratório de Ikari-sama fica no fim do próximo corredor à direita. Podemos olhar lá rapidinho – Ame sugeriu ao ver a preocupação tomar Haku de novo.

-- Sim, vamos.

Mal andaram três metros e uma porta adiante se abriu. Cinco mulheres aparentemente humanas saíram da sala, mas ao ver a dupla de desconhecidos, a expressão de todas ficou feroz e seus cabelos começaram a se mover sozinhos, como tentáculos.

-- Corra – Ame exclamou e disparou a toda velocidade na direção oposta. Haku sequer pôde ficar surpreso porque teve que desviar de um golpe de cabelo vivo, e seguiu Ame para longe.

-- O que elas são?! – exclamou ao alcança-lo e os dois pararam. Pareciam tê-las despistado.

-- Harionna. São assistentes de Akumi-sama, e sabem que não podemos vir para esta ala desacompanhados, mas nunca reagiram daquela forma. O que mais podíamos fazer?

-- Enfrentá-los. Lutar contra youkai é o que tenho feito a vida toda. O que nós temos feito.

-- Aqueles eram youkai selvagens que serviam Yasha. Os que habitam este castelo são seres esclarecidos que há séculos dedicam-se à luta para voltar para casa.

Haku olhou incrédulo para Ame.

-- Se os youkai voltarem ao mundo humano, vão matar as pessoas. Eu vi do que são capazes.

-- Essa é a ordem natural. Youkai sempre devoraram humanos, não é? – ele falava como se fosse uma gravação sendo reproduzida.

Haku teria contestado, mas ouviu passos. Três tengus se aproximavam, murmurando palavras incompreensíveis que mais pareciam o crocitar de corvos, e a suposta conversa era pontuada pelo movimento nervoso das asas negras em suas costas. Aqueles não eram tão esclarecidos, e sem dúvida atacariam no instante em que pusessem os olhos nos dois.

O Conto da Donzela do SantuárioWo Geschichten leben. Entdecke jetzt