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Ame supunha que Akumi tivesse voltado para a sala das máquinas, pois era lá que ela sempre podia ser encontrada, era provável que escolhesse o lugar para se reorganizar.

Chegando à sala, a teoria de Ame provou-se correta. Akumi, em forma humana, aparentava estar completamente recuperada de qualquer ferimento, contemplava a incubadora à frente, até perceber a chegada do grupo e lançar um olhar de completo desprezo por cima do ombro. Ela começou a falar:

-- Humanos e youkai compartilhavam o mundo, tal qual presas e predadores. As presas nos expulsaram para esta dimensão vazia e tomaram o mundo inteiro para si, criando desequilíbrio e caos na ordem natural. Sua missão era apenas assegurar o retorno dela, então por que a negou, Mikoto?

-- Você não quer ordem natural de nada, só deseja voltar a caçar humanos – Takako respondeu com igual desprezo, e jogou-se no chão quando uma bola de fogo laranja veio em sua direção. Akumi bufou.

-- Eu estou falando com a minha criação, não com uma humana.

-- Posso ser sua criação, mas acima disso sou uma humana, e uma miko também. Um dragão cedeu-me sua pérola porque me considerava digna dela, e eu farei valer sua confiança, desempenhando meu papel como miko e protegendo o mundo humano de você.

Com um leve ondular das caudas, Akumi retornou à forma de raposa.

-- Então eu destruirei minha falha.

Yukio atirou antes que ela pudesse agir, mas a nogitsune se antecipara, e a bala acertou uma barreira alaranjada quase invisível, que imediatamente se desfez para Akumi lançar uma onda de fogo. Todos se separaram e se abrigaram atrás das máquinas. Por toda parte chamas e raios voavam, procurando vítimas.

-- Todas as minhas criações, uma falha atrás da outra – ouviram Akumi exclamar, ainda ocultos pelo maquinário barulhento – Yasha estava fadada ao descarte desde o início, mas eu esperava tanto de você, Mikoto. Sua criação em meio a humanos foi o que te estragou, e você conseguiu corromper os gêmeos também.

Ao lado de onde Mikoto e Haku se escondiam, o que parecia um tanque de água explodiu, espalhando líquido para todo lado. Os dois se afastaram num pulo enquanto um raio estalava às suas costas e Akumi ria sadicamente.

Takako e Yukio podiam vê-la de onde estavam, embaixo de uma mesa. A jovem estava com o ofuda com kami de raio, mas não usara com medo de acertar Mikoto ou alguma das máquinas, que pareciam prestes a explodir. Agora, com Akumi poucos metros à frente, Takako apontou o talismã de papel.

A nogitsune olhava ao redor sem pressa, como se brincasse de esconde-esconde, e de repente se retesou, sentindo um leve, porém inconfundível cheiro de ozônio. Um átimo depois, um raio cortava o ar em sua direção.

E atingiu inofensivamente uma de suas caudas, como um pára-raio. Akumi só lançou um rápido olhar para trás antes de apontar com a cauda e disparar de volta na direção de onde viera.

A mesa explodiu, elevando-se dois metros no ar para desabar com um estrondo, partida ao meio e carbonizada. Akumi seguiu em frente satisfeita.

Sob os restos destruídos da mesa, Yukio e Takako se abraçavam, encolhidos e tremendo como folhas ao vento de uma tempestade, e se perguntando como ainda estavam vivos. Quando tiveram coragem de abrir os olhos, contemplaram uma fina e transparente parede acima de suas cabeças, cintilando verde-mar.

Yukio foi o primeiro a sair de baixo dos restos, e logo que Takako também se arrastou para fora, a barreira se desfez às suas costas.

Sayuri deixou o gohei e o suzu caírem de suas mãos e correu para abraçar os dois, pálida como um cadáver e com os olhos quase saltando das órbitas.

O Conto da Donzela do SantuárioWhere stories live. Discover now