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O balançar enjoativo do navio derrubou Mikoto assim que passou do rio para o mar. Felizmente, dessa vez ela teve com o que se concentrar: os dias que passara sem treinar com a naginata agora podiam ser compensados.

Sayuri também ficou interessada e novamente tentou manejá-la, e acabou se desequilibrando e deixando a naginata cair várias vezes comicamente, para o deleite de Takako, que se dobrava de tanto rir a cada falha da prima.

Conforme se aproximavam de Ao, no entanto, o clima tornou-se cada vez mais pesado. Sayuri não tentou mais usar a naginata e Takako mantinha o semblante sério quase o tempo inteiro, e as duas frequentemente conversavam aos sussurros. Mikoto se perguntava sobre o que elas falavam, e só tem sua resposta quando atracaram na capital.

-- É melhor você vir comigo ver Ayahito – Sayuri disse ao desembarcarem. Mikoto olhou para Takako.

-- E o que você vai fazer?

-- Ver qual é o estado do Santuário Azul. Se Yasha está em Ao há algum tempo, ela já deve ter feito algo contra os sacerdotes do templo principal.

-- Eu quero ir também.

-- Não queremos te expor a mais perigo – Sayuri argumentou – Você teve sorte que Yasha recuou logo antes de te esfaquear, mas não podemos contar com a sorte de novo. Nem sempre o inimigo vai ter uma enxaqueca na hora H.

-- Não vou contar com a sorte – ela indicou a naginata – Por favor, sei que posso ser mais útil se for para o templo.

Takako também não parecia inclinada a concordar, então Mikoto lançou seu melhor olhar que dizia com todas as letras "eu não vou mudar de ideia". Não faria diferença nenhuma ela estar presente ou não na audiência com Ayahito, mas no santuário, onde algo mais podia acontecer, ela queria estar lá.

Por fim, Takako revirou os olhos e aceitou, ainda que claramente relutante. Ela e Mikoto foram para o santuário, e Sayuri seguiu para o palácio governamental.

-- Segundo as informações que conseguimos, o Santuário Azul foi fechado pelo rei há cerca de dois meses, e os funcionários foram dispensados até as obras estarem terminadas – Kurono explicou enquanto andavam. Takako fechou a cara.

-- O rei não tem poder para fazer isso, não se dispensa clérigos simplesmente.

Passando pelo torii na escadaria, ela notou que os ofuda presos a ele eram velhos. Deviam ter sido trocados no ano novo, que fora um mês atrás, e a tal "reforma" começara há dois meses.

-- Mas o quê? – Kurono deixou escapar.

O prédio e toda a área em volta estavam cobertos por uma densa camada de poeira, e seu estado era de completo abandono. Pelo menos não havia cadáveres ali, Mikoto se apoiou nesse pensamento.

Ao se aproximar do templo, ela sentiu um calafrio desagradavelmente familiar. Takako deve ter sentido o mesmo, pois avisou à equipe:

-- Tem algo lá dentro, pode ser um youkai. Sejam cuidadosos.

Kurono entrou primeiro, acompanhado por outros três seguranças armados até os dentes, e Yukio e o resto aguardaram do lado de fora com as meninas. Poucos minutos depois, o homem voltou e pediu:

-- É melhor vocês verem, tem algo muito estranho aqui dentro.

Não era só estranho ter uma árvore no meio do templo, não fazia sentido que ela tivesse quase a altura do teto, se fora plantada na época em que o santuário foi fechado para a suposta reforma. E espalhados ao redor dela, havia o que pareciam troncos cinzentos e ressecados.

-- Isso não está certo – Takako murmurou, encarando a planta, intrigada. Um dos seguranças, um rapaz de vinte e poucos anos chamado Toki chegou mais perto para olhar – Não se aproxime!

O Conto da Donzela do SantuárioWhere stories live. Discover now