29

75 12 56
                                    

-- Por que tem que ser uma delas? – Yukio questionou.

-- Além de nós, youkai, elas são as únicas aqui detentoras de alguma magia, e a delas é mais compatível por virem de pérolas celestiais. A pérola de Mikoto pode aceitar as suas sem vê-las como invasoras ou ameaças, como faria se Yasha ou algum youkai tentasse.

As duas primas se entreolharam, divididas entre o desejo de ajudar Mikoto a qualquer custo e a desconfiança que o nekomata despertava. Ikari percebeu o conflito das duas e argumentou:

-- Acatar minha última orientação ou não é escolha de vocês, mas sugiro que tomem uma decisão rápido. Deixei Yasha presa num poço, mas ela não vai demorar a voltar.

-- Vamos fazer isso. Pelo menos tentar – Sayuri falou baixinho. Takako assentiu.

-- Está bem, mas como?

-- Eu tenho uma ideia.

Ela mostrou algo que tirou do bolso; um papel ofuda, amassado e deformado pela água, mas ainda inteiro. Sayuri tirou uma caneta do bolso e escreveu uma palavra que fez Takako franzir a testa.

-- Foi o que o gato falou, e não pensei em nada melhor – ela deu de ombros e o estendeu.

-- Por que está me dando isso? Você não vai?

-- Eu achei que você ia.

-- Você é melhor em magia do que eu, Sayuri, é claro que você é quem deve ir.

-- Por que não vão as duas juntas? – a pergunta de Haku atraiu todos os olhares para ele, que adicionou, constrangido – Quero dizer, não podem?

Ikari pensou e respondeu:

-- Tal prática não é comum, mas acredito que não haja nada que as impeça.

-- Então vamos! – Sayuri exclamou.

Ela e Takako seguraram juntas o ofuda, apontaram-no para Mikoto e disseram em uníssono.

-- Mergulhar.

Mal terminaram de pronunciar a palavra e as duas desabaram inconscientes. Yukio destravou as pistolas sonoramente e bradou para Ikari, furioso:

-- O que houve com elas?! O que significa isso?!

-- Ora, elas entraram no interior da mente de Mikoto, não se pode esperar que fiquem acordadas e alertas. Não se preocupe, elas estarão de volta antes que você perceba, e trarão Mikoto junto – ele viu que Yukio não abaixou as armas – Minha forma original o incomoda, não é? Será que desse jeito é melhor?

Em poucos instantes o homem que eles viram digladiar-se com Yasha estava diante deles, mas seus olhos permaneciam iguais; amarelos, íris em formato de fenda, indiscutivelmente felinos.

A mudança de forma não agradou Yukio, que baixou as pistolas por outra razão. Um baque quebrou o silêncio do laboratório.

-- O que foi isso? – Haku olhou ao redor, preocupado. Ame indagou:

-- Ikari-sama, onde o senhor disse que deixou Yasha mesmo?

-- Eu a joguei no poço de dejetos do laboratório, mas acho que ela vai sair mais rápido do que eu previ. Estejam preparados.

*

Apesar do kami ser "mergulho", a sensação foi muito mais parecida com uma queda livre. Takako não conteve o grito ao se perceber caindo em direção a uma escuridão assustadoramente profunda, como um oceano de piche. Ao seu lado Sayuri gritava com igual energia.

Então de repente pararam. Não estavam mais caindo, mas suspensas no ar, e suavemente aterrissaram numa superfície lisa, porém invisível no escuro.

O Conto da Donzela do SantuárioDonde viven las historias. Descúbrelo ahora