19

124 16 122
                                    

Aqueles que não foram mortos fugiram em debandada. Haku gargalhava deliciado.

-- Corram, covardes!

Mikoto, entretanto, não compartilhava de sua empolgação, conjurar o kami da morte a deixara trêmula, com a cabeça girando.

-- Você espantou todos? – a voz de Yamatohime soou mais impressionada às suas costas.

-- Ainda há outros na cidade e no Santuário. Vamos para lá, Haku.

Ele a acompanhou numa trôpega corrida de volta ao Santuário Branco.

*

Takako não sabia há quanto tempo estavam lutando contra aquele gashadokuro, pareciam horas, ou minutos agonizantemente longos.

Nesses momentos ela queria ser tão empolgada e boa em magia combativa quanto Sayuri, que conjurava fogo, raios, neve, terra e o que mais viesse à mente contra o esqueleto gigante, enquanto Kurono, Yukio e todos os seguranças e guardas do templo descarregavam suas armas nele.

O monstro rugia ferozmente e produzia um horrível som de ossos se batendo ao mover-se, o que felizmente fazia mais devagar, sobrecarregado pelos ataques constantes, mas não desistia de chegar ao templo. Sayuri estava se saindo excepcionalmente bem em contê-lo com seus kami de barreira, o gashadokuro esbarrava nas paredes verdes cintilantes furiosamente.

A mão do esqueleto gigante se ergueu acima da cabeça e esmagou o chão à frente do templo, só não fazendo o mesmo com Yukio e Hiro porque os dois se jogaram para longe de seu alcance por pouco. Sayuri recuou para concentrar seu poder na conjuração de um kami mais potente.

O gashadokuro devia ter percebido, pois concentrou toda a sua atenção em ataca-la dali para frente. Kurono concentrou todos os homens em defesa da miko, mas o youkai agora atacava com muito mais vontade. Ele deitou o braço sobre o chão e varreu tudo e todos à sua frente.

Sayuri estava desprotegida, e ainda não terminara de conjurar o kami. Takako correu até a prima quando gashadokuro ergueu o punho e jogou seu corpo contra o dela, tirando-a do alcance dele.

A jovem lançou-se para o lado no instante em que o punho esquelético esmagava o chão, e ouviu um estalo ao mesmo tempo em que uma dor lancinante invadia sua perna. Seus olhos lacrimejaram e ela se viu incapaz de se levantar.

O gashadokuro já levantava o punho novamente, agora mirando Takako. Foi a vez de Sayuri vir em seu auxílio. Ela apontou um ofuda para o youkai e bradou:

-- Gravidade!

O esqueleto foi ao chão, empurrado para baixo por um peso invisível, e por mais que se contorcesse e grunhisse, de raiva, permanecia impotente. Sayuri se aproximou calmamente e colou o ofuda entre suas cavidades oculares vazias, falando de novo o kami, com mais raiva:

-- Gravidade!

O peso sobre o gashadokuro aumentou e o chão abaixo dele afundou. Completamente imobilizado, ele nada pôde fazer quando todos os guardas e seguranças avançaram como se fossem um só e terminaram de descarregar a munição nele.

Por fim seu corpo colapsou e se desfez em um amontoado gigante de ossos humanos, de tamanho normal. Todos suspiraram de alívio.

-- Ainda não acabou, ele pode se reconstruir – Takako sentou, ofegante pela dor – Precisa de um encantamento para não voltar. Sayuri, é com você.

-- Takako, sua perna! – ela, Yukio e Hiro se ajoelharam ao lado da jovem, que apenas bufou, irritada.

-- Isso pode esperar. Sayuri, faça o encantamento, depressa.

O Conto da Donzela do SantuárioWhere stories live. Discover now