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A cor dos olhos do menino foi um choque para todos, e logo até Takako especulava sobre uma possível ligação entre ele e Mikoto. Mas não passava de especulação, pois não havia como provar nada. E ainda havia muito com o que se ocupar, como os enterros de todos os mortos. Os dois dias seguintes foram dedicados quase exclusivamente a isso.

Na noite do terceiro dia, o Genbu chegou a Kuroi, e tanto o príncipe quanto os tripulantes não acreditaram na devastação que viam.

-- Ouvir o que aconteceu pelo noticiário não é nada quando está diante de seus olhos – o rapaz comentou para Mikoto ao desembarcar – Não acredito que meu pai fez isso.

-- Yasha fez isso – Sayuri corrigiu com a voz firme – O imperador está ciente dos atos dela.

-- Vocês têm alguma informação sobre Ao? – Takako perguntou – Desde o bombardeio, os sinais de televisão e Internet estão horríveis.

-- O país fechou as fronteiras, então não sabemos muito, mas podemos supor que estão se preparando para o próximo ataque – explicou o capitão – Como Aka ainda está com parte das tropas de Kuroi, então o clã teme que Shiro seja o próximo alvo. A rainha Yamatohime já começou a mobilizar uma defesa de fronteira também.

-- Só piora cada vez mais – a voz de Takako saiu abafada, as mãos cobrindo o rosto – Não conseguimos evitar uma tragédia dessas. Estamos falhando como miko.

Mikoto segurou seu braço.

-- Ei, calma, ficar em pânico não vai ajudar.

-- Ela está coberta de razão – Sayuri concordou – Se pensarmos bem, veremos que o próximo passo é encontrar Yasha antes que ela prejudique outro templo. Vamos avisar ao clã para colocar guardas armados e toda a sorte de proteções mágicas em volta do Santuário Branco.

Enquanto as duas mais velhas embarcavam no navio, Shin ficou com Mikoto e só então percebeu a presença do menino, que apesar de agora estar com os cabelos limpos e cortados e de roupa lavada, seu quimono ainda dava a impressão de ser um samurai sem espada.

-- Vocês dois lado a lado parecem tirados de um filme antigo – o príncipe não conteve o riso – Quem é ele?

-- Não sabemos direito – ela contou as estranhas circunstâncias de seu aparecimento e como se comportava – Ele só aprendeu umas palavras até agora, parece que sua mente é uma folha em branco. Então hoje de manhã achei que o nome que mais combinaria com ele seria Haku.

-- Haku – repetiu o menino.

-- E você, Shin? Como está?

-- Quero falar com o imperador, ajudar no que puder. Foi o meu país que começou tudo isso, afinal.

O imperador se reunia provisoriamente com os ministros na ala leste do palácio desde que fora declarada estável pelos bombeiros. Mikoto levou Shin até lá e o príncipe ofereceu seu conhecimento do território de Ao, dos armamentos e estratégias utilizadas pelo exército.

-- Farei o que for necessário para devolver a paz à minha terra – ele se comprometeu. Um ministro estreitou os olhos para o rapaz.

-- Você não seria de melhor ajuda como refém? O rei não voltará a nos atacar se seu único filho estiver em nosso poder.

-- Ministro Sasagawa! – o imperador exclamou – O príncipe Shin veio prestar-nos seus serviços! Nunca utilizaremos esses métodos medievais.

-- E mesmo que usassem, não daria certo. Meu pai me expulsou de casa por eu não concordar com o que ele fazia – Shin balançou a cabeça.

Mikoto ficou aliviada que Mutsuhito tivesse respondido depressa à ideia absurda do ministro, senão ela mesma teria respondido, mas não podia garantir que seria tão formal. Nunca esperaria ouvir uma proposta como aquela de alguém em um cargo de tal importância.

O Conto da Donzela do SantuárioWhere stories live. Discover now