I - Premonição

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I – Premonição


A mulher embalava-se na antiga cadeira de balanço do terraço. Dali contemplava a multidão de luzes fugidas das janelas das casas e dos prédios ao redor. Mesmo entre tantas luzes podia admirar as estrelas. O olhar distante acendeu a nostalgia que lhe trouxe lembranças de velhas histórias.

Por um instante parou de balançar, levantou-se cantarolando uma canção antiga e caminhou em direção a uma sala, enfeitada com potes de ervas, flores, incensos sobre as prateleiras e mensageiro do vento pendurado. Sentou-se junto à antiga mesa que se projetava do tronco de um carvalho vetusto. Nela repousava o antigo livro de capa vermelha aveludada, empoeirado. Ela o limpou espalhando a poeira no ar, revelando os desenhos dourados dos símbolos Deva. Abrindo-o na primeira página preparou-se para escrever:


Hoje completo 30 anos. Na terra mágica há que também pertenço um ciclo completo de lua, equivale a sete anos dos humanos. Contudo, me é impossível deixar para trás ou esquecer ensinamentos e amizades que fiz durante essa existência, o mais importante do meu aprendizado foi descobrir que sou apenas uma partícula da criação, mas que no meu DNA estão gravadas todas as informações necessárias para vencer basta querer acessá-las. Compreendi ainda, que mais importante do que atingir um objetivo importa a forma escolhida para atingi-lo. Assimilei que tenho uma missão que deve ser cumprida e que não estou só, pois há milhares, como eu.

Nasci em Belmont, cidadezinha cercada por montanhas, na qual quase todos se conhecem. Até que completasse seis anos de idade, vivi normalmente com minha família, meu pai Julius e minha mãe Maria. Porém, sempre tive visões de coisas que estão por acontecer, mas como era só uma criança não tinha idéia do que realmente acontecia comigo.                                                                                                           

A primeira vez que senti medo de uma visão foi quando mamãe e eu estávamos passando no caixa de um supermercado. Tive uma sensação estranha, olhei para a rua e vi uma placa gigante cair em cima de um automóvel. Chamei minha mãe diversas vezes puxei sua saia, contudo, antes que ela me atendesse, um estrondo veio da rua e todos olharam assustados: a placa havia caído. No carro, voltando para casa, fiquei pensativa e mamãe passou a conversar comigo:

           – Está pensando no acidente? Ninguém se machucou!

Mesmo sabendo disso chorei. Ela parou o carro e segurou minha mão enquanto com a outra alisava meus cabelos:

– O que está acontecendo?

Expliquei que minutos antes de acontecer o acidente em frente ao mercado, eu já o havia previsto, e não sabia o que estava acontecendo comigo. Ainda lembro o jeito doce com que ela me olhou.   

Chegando a casa, mamãe me pediu que subisse para meu quarto. Em seguida, ligou para meu pai pedindo que chegasse mais cedo. Antes do anoitecer meu pai chegou do trabalho, e assim que sentou no sofá para relaxar, mamãe aproveitou para conversar com ele, eu estava no quarto, terminando de arrumar alguns brinquedos. Olhei da janela e vi o carro de meu pai estacionado em frente a casa. Desci correndo as escadas para abraçá-lo, mas antes de entrar na sala ouvi que estavam falando sobre mim. Então sentei quietinha no corredor e escutei cada palavra da conversa. Haviam me visto várias vezes conversando sozinha, caminhando e falando enquanto dormia e que seria melhor que tivesse um acompanhamento médico; e poderia estar com problemas.

Devas os mensageirosWhere stories live. Discover now