XVI - O vale das lágrimas

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Aradia foi a primeira a sair da gruta, e já ia descendo rumo à floresta quando Holls sinalizou advertindo-a:

– Não esqueceu o livro dos sábios? É por aqui! – Disse Holls apontando para o cume da montanha.              

– Devo descer à floresta! – Explicou Aradia seguindo adiante.

Holls ansioso aguardou os demais frente à gruta, com o grupo já reunido Arquia os instruiu:

– Respirem profundamente, porque a subida é exaustiva e ficará mais difícil respirar.

– Onde está Aradia? – Questionou Sam.

– Ela está em uma missão! – Explicou Arquia.

O grupo seguiu novamente a trilha escorregadia, rumo ao topo da montanha, e a cada passo ficavam mais admirados da exuberância do lugar. Era como se pudessem tocar o céu. O som das águas se parecia a uma orquestra da natureza, fazendo-os relaxar. Chegando ao topo da montanha, o grupo acreditou ter encontrado a nascente, que se dividia em  quatro rios.  Após alguns minutos de contemplação do lugar.

– Bem, aquele é o vale das lágrimas. Uma pequena parte da casa das Névoas. Teremos que atravessá-lo! –Disse Arquia , na tentativa inútil de chamar a atenção de Sam

           .O ancião Arquia, passou a mão por sobre os olhos da menina, fazendo-a retornar de seus pensamentos. As primeiras imagens a se refletirem nos olhos de Sam foram devastadoras. Do outro lado, na encosta da montanha, havia um gigantesco vale obscuro tomado por denso nevoeiro. Três homens saídos do vale, vestidos de túnica branca com capuzes cobrindo-lhes o rosto, subiam a montanha em direção ao grupo viajante. O primeiro sacudia um incensário em uma das mãos, cujo aroma era dos deuses, cheiros jamais sentidos pelos que estavam ali; o segundo segurava em suas mãos uma espada cravejada de pedras preciosas reluzentes; o terceiro trazia consigo um símbolo desconhecido entre os Elementais. Os três homens encapuzados se aproximaram do grupo de Arquia que os aguardava:

– Eles serão nossos guardiões na travessia do Vale, não toquem em nada, nem dêem ouvidos aos apelos que ouvirão! – Advertiu Arquia.

O guardião do incensário o levantou de frente para o grupo, produzindo uma fumaça que formou um invólucro ao redor. À medida que desciam a montanha, aproximavam-se do solo sagrado, conhecido como vale das lamentações ou das lágrimas. O clima tornava-se frio e, aos poucos, a visibilidade se perdia em alguns trechos do caminho. Alguns dos viajantes sentiam arrepios, mas a preocupação dos anciões era com a pequena Sam e com o jovem Elemental Elion, que não faziam à menor idéia do lugar em que estavam e dos acontecimentos que poderiam deixá-los apavorados. Não eram visíveis as coisas que passavam entre seus pés devido à névoa mais densa junto ao chão. Quando o mentor erguia o incensário, as coisas eram afugentadas. Nas partes em que a névoa era menos densa, o grupo podia contemplar alguns seres de roupas esfarrapadas e aparência anoréxica. Outros se rastejavam no chão, com rostos disformes parecendo-se com répteis; alguns infelizes estavam de frente para um chafariz bebendo água barrenta; enquanto outros comiam folhas secas... Essas visões deixaram Sam completamente estarrecida, e intrigada:

– Por que eles estão em um lugar tão ruim?

– Minha querida criança. Não existe efeito sem causa! – Explicou Arquia.

Sam agarrada ao manto de Arquia, e atenta aos acontecimentos do lugar: à súplica da mulher tomada pelo cansaço que chorava solicitando auxilio; outro ser suplicava socorro, enquanto era subjugado por seres de natureza maléfica, denunciados por sua aparência desfigurada e animalesca; outros sussurravam palavras lascivas; ouviu-se o barulho de uma manada, aproximando-se na direção do grupo, com a proximidade o barulho se intensificou. Fazendo crescer o medo de Sam, e segurar o manto do ancião, agora, com as duas mãos. Elion atento aos fatos cutucou a menina:

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