VII - procura

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No bosque, a doce Ignis Elemental, guardiã do fogo, de intuição aguçada, terminava de colher o que faltava para fazer seus incensos. Ao dar seus primeiros passos em direção à velha estrada do bosque que a levaria novamente à cidade de Cracia, alguns elementais a cavalo passaram apressados a apenas alguns centímetros de Ignis, que assustada deixou cair seu cesto ao chão. Ela abaixou-se, enquanto juntava o que ficou espalhado, ouviu um estrondo, olhou o céu e avistou relâmpagos acompanhados de uma nuvem negra sobre o templo central. Isso era um sinal de que algo estava errado. Pressentindo o perigo, correu para a cidadezinha. Assim que entrou pelo corredor do templo central de Maltwood encontrou Notus caído ao chão quase transmutando. Ofegante e cansada, ajoelhou-se próximo ao corpo de Notus, ergueu suas mãos para o alto, respirou pausadamente com a finalidade de equilibrar suas energias e concentrou-se. Tendo fechado os olhos, começou a energizá-lo com o intuito de salvá-lo, mas os raios que liberava não eram fortes o bastante para ajudá-lo. Ignis, então, com a mão direita uniu seu dedo indicador ao polegar, em forma de um olho, e posicionou no centro de sua testa. Evocou Deleon, do clã do vento:

– Deleon, preciso de ajuda. Agora!

Deleon pairava como uma suave brisa:

– O que está acontecendo?

– Procure Arquia! Notus está transmutando!

No mesmo instante, Deleon circulou em forma de vento por todos os lugares, à procura de Arquia.

Ignis, com semblante triste, acariciava a face de Notus, que tentava sussurrar algumas palavras:

– Drac...

Ignis colocou seu ouvido próximo aos lábios de Notus que, com muito esforço, sussurrou novamente:

– Draco...

– Dracons! – Interveio Ignis, questionando-o, em seguida:         

– O que eles têm há ver com isso?

– Ignis, eu não encontro Arquia em lugar algum. – Deleon respondeu sôfrego.

– Notus sussurrou “Dracons”. – Disse Ignis espantada.

– É isso! Ele deve estar na zona draconiana, por isso não o encontro, mas sei quem pode encontrá-lo! – Disse Deleon. Então, ainda em forma de vento, ele emitiu um assobio:                   

– Aradia, Aradia, Aradia.

Aradia estava junto a Pandora, meditando em posição de ioga próxima ao rio dos sonhos. Aradia escutou dentro de sua mente o barulho do vento cantando seu nome e respondeu:

– Estou junto ao rio dos sonhos.

– Você precisa encontrar Arquia. Ele está com os Dracons. Notus esta transmutando!

Aradia continuou sua meditação junto ao rio dos sonhos. Utilizando-se do poder mental, fixou seu pensamento em Arquia e mentalmente entrou floresta adentro, percorrendo exatamente o mesmo caminho que Arquia e Alba fizeram. Andou sobre as folhas secas até cair no buraco escuro. Sem nada enxergar, Aradia respirou profundamente, e esfregou as mãos produzindo algumas faíscas. Antes mesmo de a chama acender, pulou sobre ela um Gray, transpassando-a, o que muito lhe assustou. O monstrinho havia saído da secreta entrada da gruta, o que facilitou a Aradia descobrir o local da entrada. Seu pensamento entrou na temível cratera dos Dracons, encontrando um ambiente claro e infestado de Grays farejadores, disputando um pedaço de carne. Enquanto caminhava entre inúmeros Dracons e Grays à procura do mestre, mentalmente chamava:

– Mestre! Mestre!

De repente, seu pensamento se deparou com um Dracom. Ela o olhava e, no mesmo instante, pensava na fisionomia de Arquia. Mas seus olhos apenas viam a figura de um Dracom, e sua mente insistia a revelar a fisionomia de Arquia. O ancião sentindo a presença de um Elemental, e vendo a imagem de Aradia em sua mente:      

– Aradia? 

– Mestre! – Mentalmente Aradia o respondeu, surpresa.

Enquanto Arquia e Alba caminhavam em direção a Crom, Aradia falava ao mestre:

– Notus está transmutando. Sua presença é necessária para a magia reversa. Não temos muito tempo! – Neste instante, o pensamento de Aradia voltou como um retrocesso rápido. A sua mente uniu-se novamente ao seu corpo. Encontrando relâmpagos ecoando sobre o rio dos sonhos.

– Arquia recebeu a notícia. É só aguardar! – Disse Aradia

Deleon, após receber a mensagem de Aradia, mentalmente avisou Ignis:

– Arquia já foi encontrado!

Enquanto isso, nas crateras, Arquia e Alba se aproximaram de Crom sem serem reconhecidos: – Como você está?    – Perguntou Arquia.

– Como eu poderia estar? Enjaulado, por vocês! – Respondeu Crom, bastante nervoso.

– O amigo não me reconhece? – Arquia redargüiu levantando sua mão direita e mostrando o anel em seu dedo, enquanto o apontava para o bracelete, quebrando-o e liberando os poderes de Crom, o que lhe permitia comunicar-se pelo pensamento:

– Arquia! Que bom vê-lo! Ele quem é?

– Não há tempo para apresentações, temos que sair daqui! Estou ficando fraco! – Advertiu Alba telepaticamente.

Dito isto, as verdadeiras identidades de Alba e Arquia começaram a aparecer e desaparecer, chamando a atenção dos Grays, que os olhavam sem entender o que acontecia enquanto retorciam suas caras.

– Junte-se a nós porque sairemos agora! – Disse Arquia. – Eles fizeram um círculo colocando as mãos um no ombro do outro. A face verdadeira de Arquia e de Alba se revelava por períodos mais longos. Os Grays já estavam circulando ao redor deles, e Arquia sussurrou um encantamento:

– EX DI MET, EX DI MET, EX DI MET.

Seus corpos vaporizaram, tornando-se uma luz que percorreu o corredor da cratera dos Dracons, enquanto os Grays a olhavam passar entre eles até encontrar a saída e se misturar à luz do dia. Os Grays, sem entenderem o que aconteceu, começaram a gritar com voz estridente:

– Crom sumiu! Crom sumiu! – Faziam o maior tumulto dentro da gruta, chamando a atenção dos Dracons e dos Reptilianos, que foram imediatamente ver o que estava acontecendo. Ao confirmarem que Crom havia sumido, um dos Reptilianos disse:

– Veja como ficou a máquina!

– Acho que só ficou essa peça fora do lugar. – Um dos Dracons exclamou, colocando a mão sobre a peça, empurrando-a para encaixá-la.

– Não faça isso! – Tentou avisar o Reptiliano, mas já era tarde demais. A máquina provocou uma hedionda explosão na gruta dos Dracons.

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