IV - a escola

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Sam desistiu de tentar entrar no salão. Após a porta fechar batendo na ponta do seu nariz, deu meia-volta e seguiu pelo corredor, observando esculpido nas paredes o relevo de homens com cara de animais, cujos olhos pareciam lhe acompanhar. No final do corredor, Sam se deparou com uma porta imensa feita de troncos de um velho carvalho contendo inúmeros desenhos, carruagens de fogo puxadas por animais alados. Antes que tocasse a porta, ela se abriu. Seus olhos ofuscaram com a luz, e ela deu os primeiros passos em direção à cidadezinha, que estava repleta de Elementais transitando, entre alguns lindos e outros horríveis, aos olhos dela, é claro.  A movimentação do comércio chamou a sua atenção ela parou em frente a uma loja, enquanto observava os potes com aranhas, lagartixas, minhocas e até cobras vivas e outras substâncias não identificáveis, ramos de plantas amarrados em um galho, pendurados nas paredes parecendo uma vassoura, daquelas de bruxa. O cheiro era de variadas misturas de ervas gerando um aroma surpreendente, e o vendedor gritava em frente à loja:     

– Mandrágora, narciso, verbena, brionia, carvalho, romã, anis estrelado.

A menina continuou seu passeio de reconhecimento, quando uma velha Elemental jogou-se na sua frente, impedindo-a de caminhar:

– Deixe-me ver, menina! – Disse a rouca velha senhora de rosto enrugado, cabelos brancos e corpo encurvado puxou a mão direita de Sam, que abismada com as unhas enroscadas da mão da velha. Disse:

– Não, obrigada! – Retirando imediatamente sua mão do contato da mão da velha, que insistiu:

– Deixe-me ver seu destino?! – A velha pegou, agora, lentamente na mão da menina, encarando-a nos olhos. Sam, por instantes, ficou hipnotizada com o brilho dos olhos daquela velha Elemental do clã de Belial. A velha de dentes escurecidos sorriu e completou, dizendo:

– És a escolhida. Grande luta travará contra o mal.

Antes que a velha terminasse a frase, Sam inspirou profundamente, saindo do estado hipnótico com cara descrente. Convicta, puxou a mão de volta para si, e falou:

– Não, obrigada! 

 A velha fez cara de espanto ao ver a mancha no punho da menina, e saiu falando:

– Eu vi! Eu vi!

Sam continuou seu passeio na rua principal de Cracia. Mais adiante, avistou uma senhora Elemental que lhe trouxe uma doce lembrança da vovó Clara. A senhora acendia as lamparinas de outros seres Elementais, que lhe davam em troca mechas de cabelo, ervas e potes. Ela os colocava em um cesto que já estava abarrotado. Um sino soou duas vezes, crianças vinham de todos os lados e seguiam todas em uma só direção, vestiam túnicas de diversas cores; enquanto algumas brincavam pelo caminho, outros o percorriam sisudo. Sam lembrou-se do conselho do professor Acro, e seguiu as crianças com andar apressado por uma estrada de chão de terra mal desenhado, que os levou à entrada de uma grande colina parcialmente coberta de neve. As crianças à sua frente entravam e as tochas se acendiam por alguns instantes, iluminando a entrada da caverna, que logo retornava à escuridão, fazendo Sam sentir receio de nela entrar.

           Um jovem retardatário, apressado esbarrou na menina que estava sozinha em frente a entrada da caverna, e disse:

– Ei, você não vai entrar?

Encorajada, entrou com o menino. Ao darem seus primeiros passos, as tochas foram acendendo e revelando a beleza das paredes da caverna com pedras de diferentes cores e brilhos. Ate chegarem a um local mais amplo, uma espécie de câmara, que dava inicio a diversos túneis, cujo teto era mais alto. Nele, havia coisas penduradas, as quais Sam não pôde distinguir. Então, ela questionou o adolescente franzino que andava apressado logo a sua frente:

Devas os mensageirosWhere stories live. Discover now