02_ A realidade não é um clichê.

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Acordei com meu celular despertando e só ai percebi que eu havia dormido deixando a Maria no vácuo. Coisa que com certeza deve ter deixado ela com muita raiva.

Me levantei sentindo minhas costas doerem por ter dormido de mau jeito e passei a mão no rosto sentindo que o mesmo estava amassado.

A primeira coisa que fiz foi abrir as cortinas do meu quarto e ir em direção ao banheiro para escovar meus dentes.

Minhas manhãs eram sempre bem calmas, eu me arrumava, tomava café, arrumava meu material e ia pra faculdade.

Eu cursava psicologia e estava apenas no primeiro período. Isso acabava pegando muito do meu tempo, já que eu tinha muitos livros pra ler. Coisa que irritava Maria, que dizia que eu não tinha tempo pra ela.

Eu fiz o de sempre naquela manhã, tomei um banho, vesti um macacão jeans saia, uma blusa branca simples e nos pés o meu all star branco que eu usava pra quase tudo, era quase meu uniforme.

Peguei minha mochila e sai do meu apartamento o trancando.

Passei pela recepção comprimentando a dona Clara, uma senhorinha que tá sempre regando umas plantinhas que ficavam ali. Ela sempre me comprimentava de manhã, ela era a única que sempre lembrava do meu aniversário.

- Bom dia dona Clara! - Sorri para ela que olhou pra mim com seu sorriso simpático.

- Bom dia querida. - Ela falou e logo eu sai do apartamento já colocando meus fones.

Eu vou pra faculdade no ônibus universitário junto com a Maria, ou seja, eu estava me preparando mentalmente para ouvi-la brigar comigo o caminho inteiro por ter a deixado no vácuo ontem.

Não demorei muito a avistar o ponto de ônibus onde já tinham vários estudantes e uma certa pessoa de braços cruzados me encarando.

Maria era muito bonita e estilosa, coisa que a fazia se destacar de todos ali. E era óbvio que ela atraía muito a atenção dos garotos.

- Posso saber o porquê da querida não ter me respondido ontem? - Ela perguntou com as mãos na cintura e eu ri de sua expressão.

- Me desculpa Maria, eu acabei dormindo. - Dei de ombros sorrindo convencida e ela me encarou incrédula.

- Você está sendo sarcástica comigo a essa hora da manhã Alice? - Ela perguntou me fazendo rir. - Nunca mais faça isso.

- Desculpe querida. - Falei irônica e ele me deu um tapa leve no ombro. - Mas então, como foi sua noitada ontem?

- Maravilhosa. Teria sido mais maravilhosa ainda se eu não tivesse que voltar pra casa antes da meia noite porque teríamos que repor aula no sábado. - Ela falou com nojo na voz a última frase.

Maria havia odiado a ideia de repormos aulas nos sábados. Os sábados eram sagrados pra ela, ela acordava tarde, não tocava em livro algum e passava o dia na minha casa. Não vou negar que eu gostava, mas eu também amava estudar, então um dia a mais na faculdade não me incomodavam.

- Ei, olha só quem ta vindo. - Maria me catucou e apontou pra trás de mim. Eu olhei imediatamente e paralisei um pouco vendo Miguel caminhando calmamente na nkssa direção.

Sim, Miguel também estudava na minha faculdade, e aquilo era bom e ruim ao mesmo tempo. Era bom porque eu amava ficar olhando pra ele no pátio com seus amigos ou jogando futebol na quadra, mas também era ruim pois eu sabia que não rolaria nada entre a gente e eu sou me iludia.

Ele estava tão bonito. Eu ficava impressionada com a capacidade dele de ficar mais bonito a cada vez que eu o via.

- Quer que eu chame ele aqui? - Maria perguntou com um sorriso maroto.

- O que? Não! - A encarei. - Chama-lo pra que?? - Maria riu do meu desespero e me ignorou totalmente.

- Miguel! - Maria acenou para Miguel que olhou pra nós.

Eu o olhei com meu olhar de espanto e rapidamente me virei de costas sentindo meu rosto queimar.

- Ei, o que ta fazendo? - Maria me olhou. - Alice você ta vermelha igual um camarão! - Ela me encarou segurando meus ombros.

- Acha que eu não sei? - Perguntei baixo, não sabia se Miguel já estava perto de nós.

- Relaxa Alice. Seja natural. - Ela sorriu e se virou pra trás de mim. Ser natural, meu natural jamais falaria diretamente com Miguel. - Oi Miguel.

- Oi Maria. - Ouvi sua voz atrás de mim e me virei devagar encontrando com um sorriso.

Estar frente a frente com Miguel fez meu estômago revirar todo, meu coração saltar e eu quis vomitar.

- Ah, essa é a Alice. A amiga que te falei. - Maria me abraçou de lado e eu sorri tentando não transparecer o ataque cardíaco que eu estava tendo.

Me vendo naquela situação, eu me sentia de fato num dos filmes de romances que eu assistia. Eu sentia tudo, absolutamente tudo que as garotas dos filmes e livros diziam que sentiam, com a diferença que aquilo era a realidade, e a realidade nunca é como nos clichês que eu assistia.

Miguel estendeu sua mão pra mim e eu não cri de primeira. Maria com certeza diria que eu sou uma retardada já que era apenas um aperto de mão, mas pra mim que nunca sequer havia lhe tocado, era inacreditável que estava acontecendo.

Ta Alice, você já está exagerando, é só um aperto de mãos, nada além disso.

Abri outro sorriso e ergui minha mão para apertar a dele, porém Sara apareceu do nada e puxou a mão de Miguel para ela.

- Oi meu amor! - Sara segurou a mão dele e lhe deu um beijo... ali... na nossa frente.

Maria olhou pra mim e eu abaixei meu olhar. Como eu disse, a realidade é bem diferente dos clichês que eu via.

Eles pararam de se beijar e Sara se agarrou no braço de Miguel.

- Não vai me apresentar? - Ela sorriu pra ele e olhou para nós duas.

- Ah, essa é a Maria da festa ontem. E essa é... - Ele apontou para mim mas nitidamente havia esquecido do meu nome.

- Alice. - Maria falou em voz alta.

- Isso. - Miguel assentiu e eu acabei me sentindo muito mal com aquela situação. Era difícil pra mim ver que a pessoa que eu era apaixonada a muito tempo mal sabia o meu nome.

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Continua...

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