17_ Eu sinto algo por ela?

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Tê-la em meus braços enquanto a ouvia soluçar me fazia sentir muito mal. Eu não a conhecia direito, não sabia quase nada sobre ela, mas naquele momento senti algo doer no meu peito como se a conhecesse a anos.

Alice se afastou de mim aos poucos. Eu não queria que ela fizesse isso. Eu não soube porquê. Mas eu gostava do calor que o corpo dela me passava.

Ela parou a minha frente e limpou suas lágrimas.

- Desculpa. Eu não... - Ela começou a falar com a voz rouca.

- Alice, eu posso fazer algo por você? Algo para compensar o que a Sara fez? - Foi a única coisa que eu perguntei. Eu realmente estava me sentindo péssimo pelo que ela havia passado e não estava aguentando vê-la sofrer daquele jeito.

- Não. Não... há nada. Eu só... preciso de um tempo. Vou ficar bem. - Ela falou entre suspiros.

- Tem certeza que não há nada que eu possa fazer? Eu não quero... - Ela me interrompeu.

- Não se preocupe. Só de você ter vindo aqui, eu... já agradeço. Você não tem culpa do que aconteceu. - Alice tentou disfarçar o seu olhar triste e eu acabei passando os olhos por meu relógio de pulso vendo que estava super atrasado.

- Eu preciso ir. - Falei baixo e ela apenas assentiu. - Se precisar de qualquer coisa... fala comigo. Eu vou estar do seu lado para o que quiser. - A olhei com esperanças de que ela me pedisse algo, mas ela apenas forçou um sorriso.

Eu acabei saindo de seu apartamento sentindo um aperto no peito. Eu nunca havia sentido aquilo antes.

A sensação de ver Alice triste me destruiu mais por dentro do que quando eu descobri que a Sara me traía.

Será que eu sinto algo por ela?

Não. Isso não é possível. Eu nem a conheço. Mal trocamos palavras. Nunca havia reparado nela direito. Não posso estar sentindo algo por ela.

Eu sai de seu prédio ainda sentindo aquele aperto e acabei tendo que correr quando vi que ônibus já estava no ponto e parecia prestes a sair.

Eu corri até o mesmo e respirei aliviado por não ter perdido.

Assim que entrei no mesmo, vi os mesmo rostos que vejo todos os dias. Isso inclui Sara, que nem olhou pra mim.

Eu também notei Maria olhando pra mim com um olhar preocupado. Provavelmente porque Alice não estava presente.

Maria estava sentada sozinha, então eu me sentei ao lado dela.

Nós dois ficamos em silêncio até o ônibus começar a andar. Maria abriu a boca para dizer algo mas eu falei antes.

- Maria, eu preciso arrumar um jeito de ajudar a Alice. - A mesma ficou surpresa com o que eu disse e ao mesmo tempo confusa.

- Do que você ta falando? A Alice precisa de ajuda? Por que ela não veio hoje? Por que ela não atendeu minhas ligações? Miguel o que aconteceu com ela?? - Maria começou a ficar nervosa e eu olhei pra frente.

- Ela ainda não te contou? - Maria negou com a cabeça e eu respirei fundo antes de lhe contar. Eu não sabia se deveria, talvez Alice é quem devia lhe dizer isso, já que são melhores amigas, mas eu queria arrumar um jeito de ajuda-la. E Maria era a única que saberia como.

Eu contei o que aconteceu resumidamente e assim que terminei ela se levantou totalmente revoltada.

Eu não sabia o que ela pretendia, mas ela estava com muita raiva.

- Sai da minha frente! - Maria empurrou um dos garotos que estava em pé no meio do ônibus e parou na frente do banco onde estava Sara.

- O que você quer? - Pude ouvir Sara.

- Você vai ver o que eu quero! - Maria num segundo puxou Sara pelos cabelos a fazendo levantar e parar a sua frente.

- AII! Meu cabelo. - Sara resmungou tirando a mão de Maria de sua cabeça.

- O QUE VOCÊ TEM NO LUGAR DO CÉREBRO?? PEDRA? PALHA? ESTRUME?? - Maria gritou nervosa.

- O que ta rolando? - Uma garota perguntou.

- Cala a boca! - Maria respondeu com raiva. - VOCÊ É UMA SONSA, RIDÍCULA! NÃO TEM RESPEITO POR NINGUÉM! É UMA DOENTE QUE SE DEDICA A INFERNIZAR A VIDA DOS OUTROS! - Maria gritou com raiva enquanto Sara a encarava.

Sara estava com medo de Maria, eu podia notar. Mas a mesma forçou um olhar debochado.

Sara olhou para o lado e no momento seguinte ergueu sua mão para dar um tapa em Maria, mas Maria segurou seu braço e ergueu sua mão para lhe bater.

Sara abaixou o rosto já esperando a bofetada, mas Maria não o fez.

- Você é baixa Sara. Ser você, se olhar no espelho todos os dias, acordar de manhã e ver a pessoa horrível que você é... já é o seu pior castigo. - Maria a empurrou fazendo cair na poltrona do ônibus.

Maria saiu de perto dela e voltou a se sentar ao meu lado.

Eu também estava com raiva da Sara. Com muita raiva. Eu não entendia como uma pessoa poderia ser capaz de tamanha crueldade.

- Olha Miguel... - Maria chamou minha atenção. - Eu não sei o que você pode fazer. Alice já sofreu muito. Ela é órfã sabia? - Me surpreendi. Eu realmente não a conhecia. - Alice não conhece ninguém de sua família. A mesma não tem muitos amigos e eu nunca a vi chorar por isso. Alice é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Ela não merecia passar por isso.

- Eu sei que não.

- Eu entendo que não é sua culpa. E quero que entenda que ela só se iludiu dessa forma porque realmente gosta muito de você. - Abaixei meu olhar. - Eu sei que não sente o mesmo por ela, até porque acabou de sair de um relacionamento. Mas saiba que o seu apoio vai contar muito pra ela. Não sabe como ela ficou feliz só de pensar que vocês poderiam ser amigos.

Eu entendia o lado da Maria. Mas... ela não sabia de tudo.

Eu realmente não sentia o mesmo? Se eu não sentia, o que é isso então que eu to sentindo agora? O que é isso que não queria que a Alice se afastasse dos meus braços mais cedo? O que é isso que me faz querer estar com ela agora e abraça-la até que a mesma fique bem?

Eu acabei deixando esse pensamento de lado quando chegamos na faculdade.

Eu me separei de Maria e me juntei aos meus colegas. Hoje nossa aula seria prática no campo. Apesar de que eu não estava com humor algum para tal.

- Ei, cara? Ta tudo bem? Você ta péssimo. - Davi perguntou enquanto caminhávamos em direção ao vestiário.

- Han? Ta. To bem. - Assenti forçando um sorriso.

Entrei no vestiário junto com os outros caras e me sentei no banco entre os armários.

O barulho de armários batendo, cadeados abrindo, gente conversando e rindo entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Meus pensamentos estavam totalmente focados em uma pessoa: Alice.

Mas por que? Por que diabos eu não consigo tira-la da minha cabeça??

Eu acabei pegando o celular da Sara na minha mochila e abri o Whatsapp encontrando um perfil com o nome trouxa.

A foto do perfil era da Alice. Ela com um sorriso extremamente fofo que me fez sentir ainda mais ódio da Sara por ter feito a mesma parar de sorrir.

Eu entrei na conversa e subi até a primeira mensagem.

Acho que... esse vai ser o meu modo de conhece-la.

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Continua...

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