O Garoto Das Mensagens

11_ Você ta grávida?

Eu acho que nunca fiquri tão nervosa na minha vida. Queria que um raio caísse na minha cabeça para evitar que eu passasse por aquilo.

Eu não sabia o que fazer!

Será que eu falo com ele? Será que eu o comprimento? Será que coloco meus fones e o ignoro? Será que finjo um desmaio?

Estava um silêncio horrível entre nós, e eu definitivamente não sabia o que fazer.

Eu e Miguel já havíamos conversado bastante. No Whatsapp era como se fossemos super amigos. Não vai ser estranho se eu falar com ele agora. Relaxa Alice.

Respirei fundo e decidi que falaria com ele, nem que fosse apenas um oi.

Antes que eu tomasse a minha tão pensada atitude, Miguel se inclinou pra baixo, abriu sua mochila, tirou seus fones de ouvidos, daqueles grandes, colocou-os e fechou seus olhos. 

A música dele estava alta. Eu podia ouvir. E me parecia Beatles.

Toda a coragem que eu havia tomado sumiram quando sua postura reta com seus olhos fechados e fones deixavam claro que ele não queria ser incomodado.

Acabei bufando e resolvi pegar o livro para terminar de ler. O que não foi uma boa ideia.

No meio do caminho eu fiquei enjoada e comecei a ter dor de cabeça. Eu não sei porque eu ainda insisto em ler no ônibus, eu sempre passo mal.

Coloquei o livro de volta a mochila e me encostei no banco sentindo minha cabeça girar.

- Droga. - Resmunguei pra mim mesma e apertei a alça da minha mochila que eu segurava.

Eu respirei fundo algumas vezes até que tudo voltou ao normal. Minha cabeça parou de girar e meu estômago de embrulhar.

Não demorou muito e o ônibus parou. Miguel foi o primeiro a se levantar e logo saiu de perto de mim. Parecia até que estava fugindo de tão rápido.

Peguei minha mochila e já ia me levantar quando notei uma agenda média caída perto do meu pé.

Enquanto o pessoal saía do ônibus, eu a peguei e abri a primeira página encontrando uma folha em branco apenas escrito o ano e o nome de Miguel. Miguel Cooper.

Eu rapidamente me levantei e sai do ônibus sendo a última.

Olhei de um lado para o outro procurando por Miguel para devolver sua agenda, mas não o vi. Ele havia evaporado.

- Que foi Alice? Ta com essa cara por que? - Maria perguntou chamando minha atenção.

- É que o Miguel deixou isso cair. - Mostrei a agenda em minhas mãos enquanto ainda o procurava.

- Hmmm... É do Miguel é? Fica com você agora e usa de pretexto pra falar com ele mais tarde. - Ela sorriu maroto e saiu andando.

- Espera, o que?? - Maria apenas deu uma piscadela pra mim e continuou andando.

Acabei rindo dela e cheguei a conclusão que teria que fazer isso mesmo. Miguel havia desaparecido. Espero que ele não precise disso durante suas aulas de agora.

Guardei sua agenda em minha mochila e segui para minha aula.

[...]

Eu estava na aula de Ética. O professor estava explicando algo, mas eu não estava prestando atenção. Eu até estava antes, mas eu acabei vendo a agenda de Miguel dentro da minha mochila e a acabei a pegando.

Eu sabia que seria horrível da minha parte ler as coisas pessoais do Miguel, mas quando eu vi, meus olhos já estavam circulando pela página 1.

Eu fiquei surpresa de como a letra do Miguel era legível. Ta, não era bonita, parecia de uma criança, mas eu conseguia entender tudo.

Nas folhas de sua agenda tinham datas de provas, horários de exercícios, filmes que ele queria assistir, e tinha também uma página de metas. Aquela página eu não li. Achei que era pessoal demais. Ta, que tudo ali era pessoal, mas eu não consegui ler.

Me senti mal por estar lendo a agenda dele e logo a fechei. Quando eu fiz isso, minha cabeça começou a doer novamente e eu vi tudo girar.

Levantei minha mão pedindo ao professor para tomar um ar e ele permitiu.

Sai da sala passando a mão nos olhos e tentando respirar devagar. Parecia que eu ia desmaiar.

Estava andando encostada na parede quando senti uma tontura e logo vi tudo escurecer.

[...]

- Mas ela vai ficar bem? - Ouvi uma voz ao longe e abri meus olhos devagar.

De primeira minha visão estava bem embaçada, mas quando eu consegui enxergar, vi que eu estava na enfermaria.

- Vai sim. - Ouvi uma voz feminina e olhei pra frente vendo que estava deitada em uma das camas.

Ao meu lado estava uma das enfermeiras da faculdade e do outro estava .... Miguel.

- Acordou querida. - Ela sorriu pra mim e me ajudou a sentar.

- O que houve? - Perguntei confusa.

- Você desmaiou. Eu estava passando pelo corredor de psicanálise quando vi você escorada na parede. - Miguel respondeu me olhando com atenção.

- Você... me trouxe pra cá? - Perguntei.

- Sim. - Miguel assentiu e eu arregalei meus olhos.

Ta, Miguel havia me carregado até a engermaria. Eu estava desmaiada, então ele só pode ter me carregado no colo. Então.... eu fui carregada.... por Miguel. E não estava acordada para ver???

- Você comeu algo hoje de manhã? - A enfermeira perguntou me fazendo voltar a mim.

- Han? Não, eu só bebi um suco.

- Você está fraca Alice. Precisa se alimentar. - Ela falou enquanto media minha pressão. - Ou então está grávida.

- Que? - A encarei. Miguel também olhou pra mim e eu senti que ficaria vermelha. - Eu não to grávida.

A possibilidade de estar grávida nunca passaria pela minha cabeça, até porque sou virgem. Só se fosse do Espírito Santo.

- Então está se alimentando mal. - A mesma tirou o aparelho do meu braço. - Sua pressão deve ter caído. Fique aqui, vou buscar uma autorização para você ir embora mais cedo.

A mulher saiu dali me deixando apenas com Miguel.

- Você precisa de algo? Eu posso te trazer algo de sal. - Ele perguntou.

- Não, não precisa. - Sorri sem mostrar os dentes. - Ah... a sua agenda ficou comigo. - Ele me olhou estranho. - Digo, não exatamente. Você esqueceu no ônibus, então eu guardei.

- Ta.. ta com você? - Ele perguntou. Talvez tenha sido impressão minha, mas ele pareceu preocupado.

- Uhum. Mas vou te devolver não se preocupe. - Sorri da minha maneira ( tímida ) e ele assentiu. - Obrigada por me trazer pra cá.

- Não precisa agradecer. É o mínimo que eu podia fazer. - Miguel abriu um sorriso. Aquele sorriso. O sorriso que me fazia sorrir junto de tão lindo e contagiante que era. Eu era louca por ele. E não gostava disso.

●●●
Continua...