Eu não conseguia raciocínio direito.
Meu peito doía como nunca, meus olhos transbordavam lágrimas sem o meu consentimento e meu corpo inteiro tremia.
Durante toda a minha infância e adolescência eu me perguntava: o que eu havia feito para merecer aquilo? Por que os meus pais não me quiseram? Por que eu fui abandonada?
E agora a resposta estava ali, nas minhas mãos.
Minha mãe não havia me abandonado. Ela morreu para que eu viesse ao mundo.
Eu deixei a caixa cair no chão junto com muitas outras fotos e dirigi minhas mãos até minha boca.
Ali, naquele momento, eu finalmente chorei por vontade própria.
Apertei meus olhos com força e chorei, desabei, desmoronei. Eu estava com uma dor imensa no peito e nada podia tirar aquilo de dentro de mim.
Miguel que me olhava também com os olhos marejados me puxou pra ele me abraçando o mais forte que conseguiu.
Eu chorei. Chorei. Chorei até ficar desidratada.
Maria também estava com umas lagrimas nos olhos, mas a mesma tentou a todo custo permanecer forte na minha frente.
Eu chorei pensando no quanto a dona Clara havia sofrido, no quanto a minha mãe havia sofrido, no quanto eu estava sofrendo. Eu não tinha forças nem pra andar naquele momento.
Mas chorar não adiantaria mais nada. O que estava feito, estava feito.
- Alice? - A voz de Maria soou me fazendo olhar pra ela. - A gente precisa ir pro hospital. - Eu assenti e sequei o meu rosto. - Eu vou chamar o uber.
Maria saiu do quarto e Miguel segurou o meu rosto me fazendo olhar pra ele.
- Eu to aqui com você, ta bom? - Sua voz de alguma forma conseguiu diminuir um pouco da grande pressão que eu estava em meu peito.
Maria nos chamou dizendo que já havia chamado e antes de sair do quarto eu peguei a caixa do chão.
Eu precisava daquilo.
Sai do apartamento junto de Maria e Miguel e logo entramos no carro que nos aguardava.
No caminho eu não sabia o que pensar, eu só queria que a dona Clara... a minha avó estivesse bem. Estivesse em boas mãos e que tudo desse certo. Eu não podia perde-la agora.
Quando finalmente chegamos ao hospital, Maria e Miguel me ajudaram com tudo e logo fomos para um lugar onde pudéssemos aguardar o médico que estava com ela.
Eu me sentei junto deles numa das cadeiras e Maria se levantou dizendo que pegaria um pouco de água pra mim.
- Meu amor? Como você ta? - Miguel perguntou enquanto eu encarava a caixa em minhas mãos.
- Eu... eu to... você estava certo o tempo inteiro né? - O encarei sorrindo triste e ele me olhou confuso.
- Do que ta falando?
- Você percebeu muito antes de mim que a dona Clara era minha... minha avó. - Eu ainda não havia me acostumado com aquilo. - Você e a Maria sempre respeitaram mas eu, burra, nunca notei.
- Ei ei. - Miguel pegou na minha mão. - Não se chame assim. Eu só dei um palpite. Não tinha como você saber, a probabilidade era curta, era mais fácil você ganhar na mega sena do que isso ser verdade. Não se chame desse jeito.
- Mas...
- Sem mas. Não quero você com esse tipo de pensamento. Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço e é por isso que vai ficar calma agora. A... sua avó precisa de você. - Eu me senti grata. Miguel e Maria estavam comigo nos melhores e piores momentos. Eles eram a minha família.
- Eu te amo. - Falei olhando pra ele e Miguel me abraçou dando também um beijo na minha cabeça.
- Eu também te amo meu amor, muito.
Maria apareceu segurando uma garrafinha de água. A mesma abriu a garrafa e me estendeu.
- Obrigada. - Tomei um pouco da água, mas parei assim que o doutor Josef apareceu ali. Dessa vez vestindo seu jaleco branco. - Doutor? Como ela está?
Todos nós nos levantamos e paramos a frente dela.
- Bem, nós conseguimos chegar a tempo e agora ela está estabilizada e consegue respirar bem. - Ele falou tirando um peso enorme que estava sobre meus ombros.
- Ai graças a Deus. - Suspirei aliviada e Miguel me abraçou de lado.
- Então ela vai ficar bem? - Maria perguntou.
- Sendo completamente realista? Ela pode sim. Mas agora não está mais em nossas mãos. Ela pode se recuperar e ter alta rapidamente como também pode piorar. Isso teremos que ver com tempo. - Ele respondeu.
- Obrigado, doutor. - Miguel falou em seguida e o doutor assentiu.
- É Alice, correto? - O doutor perguntou apontando para mim.
- Sim senhor.
- Eu posso ter com a senhorita um instante? - Ele perguntou e eu olhei para Miguel que assentiu.
Eu segui o doutor até um corredor branco onde ele tirou os seus óculos e olhou pra mim.
- Desculpe minha indiscrição, mas você é a filha da Roseta? Você é a neta da Clara? - Ele perguntou parecendo meio nervoso e eu abracei meus próprios braços.
- Si-sim. - Respondi olhando pra baixo.
- Oh meu Deus. - Ele dirigiu suas mãos até sua boca com um sorriso e um brilho nos olhos. - Mas é claro! Como não notei a semelhança antes? Bem que você não me foi estranha.
- O que?
- Alice, eu estava na sala quando sua mãe teve você. - Ele sorriu pra mim. - Eu vi todo o sofrimento da Clara quando perdeu sua mãe. Não faz ideia do quanto eu tentei ajudar a te encontrar todo esse tempo.
- É sério? Mas... mas como soube que era eu?
- Eu não soube. - Ele cruzou seus braços. - Mas quando você tentou acalmar a Clara e ela te chamou de Roseta, era... era como se a própria Roseta estivesse ali! Você... Você é a cara de sua mãe. - Ele falou sorrindo. - Isso explica o porquê da Clara estar começando a se recordar da filha.
- Acha que ela pode se lembrar?
- Eu não sei. Gostaria de saber mas, não sei. E talvez... seja até melhor que ela não se lembre. - O encarei. - A Clara sofreu muito com a morte de sua filha, talvez ela não aguente ter que passar por essa dor novamente.
Olhei pra baixo entendendo que era verdade. Por mais que eu quisesse poder chama-la de vó e finalmente ter uma família, ele estava certo. Talvez passar pela dor de perder a filha novamente não a faça nada bem.
- O senhor... conhecia bem a minha mãe?
- Sim. - Ele sorriu. - Ela era uma ótima moça. E tenho certeza que teria muito orgulho da filha. - Eu sorri, pela primeira vez sorri de verdade naquele dia.
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Continua...
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O Garoto Das Mensagens
RomanceAlice tem 19 anos, se formou recentemente na escola e atualmente mora sozinha em um apartamento no centro de sua cidade. A garota é apaixonada por romance de todos os tipos, comediantes, dramáticos e é claro, os tão sonhados clichês. Alice é só...