50_ Roseta Dias, 1980.

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- Como é?? - Fui a primeira a questionar.

- Morte de sua filha?? - Maria perguntou em seguida.

- Alzheimer?? - Miguel perguntou também.

- Sim. Não sabiam? - O doutor perguntou ajeitando seus óculos no rosto.

- Não, não sabemos de nada. - Dei um passo a frente já sentindo o meu coração pulsando aceleradamente. - Por favor, doutor. Nos conte exatamente tudo o que sabe.

- Bem... - Ele olhou para a dona Clara. - A Clara teve uma filha com seu falecido marido. Me lembro que a mesma estava muito feliz pois seu sonho era ser mãe. Ela só teve sua filha depois de uma certa idade, o que foi literalmente um milagre na vida dela. Filha cujo ela chamou de Roseta. - Olhei para Maria na hora e ela assentiu. Maria também estava roendo suas unhas àquela altura. - Roseta cresceu e aos seus 21 anos ficou grávida de um rapaz. A mesma ia corretamente as consultas e me lembro que Clara estava empolgada com a ideia de ser avó. Infelizmente Roseta teve que passar por um parto de risco e a mesma não sobreviveu deixando assim um bebê órfão.

- E o pai da criança? - Maria perguntou.

- Eu não tenho como responder a essa pergunta, senhorita. Eu sou apenas o médico da família. Mas... a Roseta sempre dizia que seria mãe solteira. Mas o motivo eu desconheço.

- Ta, e o que aconteceu com a dona Clara? Por que ela não se lembra da Roseta? - Perguntei atraindo a atenção do doutor nova mente.

- Depois que sua filha morreu, Clara desenvolveu um trauma tão profundo que acabou contribuindo para que ela viesse a sofrer um Alzheimer pós traumático. - Minhas mãos foram parar na minha boca. Eu não podia acreditar que alguém tão boa poderia ter sofrido tanto. - O cérebro de Clara simplesmente apagou tudo da mente dela que tinha relação com Roseta.

- E não contaram pra ela? - Maria perguntou.

- Nós não tínhamos permissão para dizer nada sem algum consentimento da família. O marido de Clara já havia falecido e o único parente que conseguimos entrar em contato foi um sobrinho dela. O mesmo disse que era melhor para ela viver sem a  sombra de seu passado. Até hoje ela não cogitou nada sobre a filha.

- Não, não, não... - O interrompi. - Desde ontem que a dona Clara tem falado da Roseta. - Ele arregalou os olhos.

- O que? Você tem certeza do que está dizendo??

- Tenho! Ela me chamou de Roseta ontem e hoje estava falando o nome dela dormindo. - O doutor tirou seus óculos parecendo confuso. - Ela está se lembrando?

- Seria quase impossível. Não teria motivos para ela se lembrar assim da filha do nada. - O doutor voltou a encara-la e Maria puxou o meu braço para um canto.

- Alice... - Ela me olhou séria. - Talvez eu seja louca ou esteja paranóica demais pensando algo assim, mas... e se você for a neta da dona Clara? E se Roseta for sua mãe? E se você for parecida com a Roseta e isso acabou despertando a memória dela?

- O que? - Passei as mãos no meu rosto. Minha cabeça parecia que iria explodir com tanta informação.

- Pensa comigo, Alice. Faz todo sentido. - Maria segurou minhas mãos. - Doutor? O que aconteceu com o bebê da Roseta?

- Bem, com a dona Clara fora de condições para cuida-la e o único parente não querer a guarda, a menina foi enviada para um orfanato.

- Menina? - Perguntei sentindo meus olhos marejarem.

- Sim. Roseta teve um menina. - O doutor falou olhando pra mim.

Miguel que estava apenas olhando pra mim com um olhar preocupado se aproximou de mim e tocou o meu ombro.

Eu sabia que aquilo não resolveria os meus problemas, mas era nos braços dele que eu me sentia melhor. Então foi pra eles que eu fui.

Abracei Miguel com todas as minhas forças e ele me devolveu o abraço apertado.

Eu não conseguia raciocinar direito, a possibilitar de dona Clara ser minha avó agora era grande e mais do que nunca eu senti um medo enorme do que aconteceria com ela.

Naquele instante, dona Clara começou a tocir muito e até a se engasgar.

O doutor ligou para alguém pedindo para que mandassem uma ambulância urgentemente e correu até a mesma a ajudando.

Eu não sabia o que fazer. Minha respiração estava pesada e eu não conseguia mover os meus pés do chão.

Dona Clara acordou naquele momento e o doutor começou a tentar acalma-la.

- Calma Clara, vai ficar tudo bem. Sou eu, o Josef. - Ele tentou conduzi-la a respirar profudamente.

- Precisamos ver aquela caixa. - Maria falou perto de mim. - É o único jeito Alice!

Naquele momento minha última preocupação era com a tal caixa. Dona Clara estava muito mal e eu só consegui correr até ela e me abaixar a sua frente.

- Dona Clara? Vai ficar tudo bem. - Minha voz transparecia choro, mas eu não conseguia disfarçar.

- Ro... Roseta? - Foi a primeira coisa que ela falou. - Roseta, é você?

O doutor olhou pra mim espantado e arregalou seus olhos lentamente.

Maria disse algo para Miguel e o mesmo saiu do apartamento a passos largos.

- Nã... não dona Clara, é a Alice. - Falei tentando parecer o mais calma e segurei a mão dela. - A senhora vai ficar bem.

- Roseta... - Ela sussurrou.

O doutor continuava me olhando com o mesmo olhar de espanto. Quando o mesmo iria dizer algo, Miguel voltou ao quarto acompanhado de uns paramédicos.

O doutor acabou não dizendo nada, apenas ajudou eles a apegarem ela e a sair com ela do apartamento.

- Alice, você pode ir junto e quiser. - Ele falou antes de sair dali.

Eu até iria, mas queria acabar com aquela dor da incerteza que eu sentia antes disso.

- Eu vou depois. - Falei decidida.

Eles saíram dali deixando apenas eu, Miguel e Maria naquele apartamento.

Eu fui em direção a cama da dona Clara e peguei aquela caixa sem pensar muito. Eu me conheço, se eu ficasse pensando, eu não iria fazer nada. Então achei melhor agir de uma vez.

Eu peguei a caixa e me virei para eles dois que apenas me encaravam.

- Abre. - Maria me encorajou e eu passei a mão em cima da tampa empoeirada com o nome Roseta estampado.

Respirei fundo uma vez e abri a caixa.

O que eu vi, fez minha respiração pesar e minhas pernas amolerecem.

Eu me sentei na cama dela ainda segurando a caixa aberta em mãos e Maria e Miguel se aproximaram de mim rapidamente.

Maria e Miguel tiveram a mesma reação que eu quando viram a foto presente ali dentro.

- Alice... - Maria se pronunciou. - Ela é exatamente igual a você.

Senti uma lagrima escorrer quando olhei novamente para a foto em minhas mãos.

●●●Continua

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Continua...

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