03 | Latinha Adorável

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14 de outubro de 2020

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14 de outubro de 2020

Eu já disse que não sou seu namorado! — ralhei com o boneco tecnológico que minha melhor amiga havia me presenteado. Poderia parecer irônico, já que se tratava de um robô, mas ele tinha uma personalidade engraçada. Por horas era tímido, e de repente se transformava em um tagarela sem noção. E pelos céus, psicólogos mal conseguem entender pessoas, quem dirá bonecos com inteligência artificial. — Você não pode falar essas coisas quando estamos em público, tudo bem? — murmurei, espiando para ver se alguém por acaso havia notado a cena.

Encontrava-me no ônibus, voltando para meu lar após mais um dia de estudos da faculdade. Deveria ter deixado Kook II em casa, mas fiquei com pena de abandoná-lo lá sozinho, afinal, ao que parecia, ele tinha sentimentos. Bom, era o que dizia no manual de instruções, e passei o resto do dia de ontem lendo e tentando entender como funcionava o meu novo amiguinho.

Percebi os olhos digitais do menor piscarem lentamente enquanto sua boca se curvava para baixo como se fosse um emoji: ('︵'). Acho que ele estava triste e isso cortou meu coração. É uma sensação estranha tentar decifrar as emoções de um robô, além de ser um desafio e tanto. Havia poucas "expressões" que podíamos captar e interpretar: apenas o formato e posição da sua boca e dos olhos.

— Tudo bem, não vou mais te chamar de namorado por enquanto... — Sua voz mecanizada soou um tanto melancólica a meu ver, e por mais que me sentisse um pouco envergonhado por publicamente estar conversando com um boneco, relevei. As pessoas pareciam não prestar atenção na gente e apenas mexiam em seus próprios celulares, entediados. — Posso te chamar de hyung? — O pequeno ser inclinou a cabeça para cima, para fitar meu rosto.

Ainda não éramos íntimos o suficiente para esse tipo de honorífico, porém o jeito que ele proferia essa palavra me fazia lembrar dele. Desde o momento em que abri a caixa de presente e vi o conteúdo, não consigo parar os flashes de memória que incendiavam minha mente, fazendo os sentimentos aflorarem em meu peito. Não podia negar que era triste; todavia, relembrar os momentos felizes era algo bom. Faziam tantos anos — oito para ser mais exato — que tudo parecia muito distante, quase como se tivesse sido apenas um sonho. Então, por mais que doesse, a dor era o que me fazia acreditar que tudo o que vivenciei com Jungkook em nossa infância e adolescência foi real. E eu precisava mantê-lo vivo dentro de mim para sempre. É uma promessa que fiz.

Talvez o robô fosse uma segunda chance.

— Sim. Pode me chamar de hyung — declarei antes de levantar-me, pronto para descer na próxima parada.

Em seguida, assim que o transporte coletivo se aproximou do ponto, pus-me de pé, encaixando a mochila nas costas e tentando segurar o meu novo amigo com apenas uma das mãos, o que era difícil, levando em consideração o seu peso. Assim que o ônibus estagnou, desembarquei em frente à minha casa. Caminhei até adentrar pela porta e fui recebido por Bultan se esfregando em minhas pernas.

(Ro)boyfriendOnde histórias criam vida. Descubra agora