Nosso Quarto

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- Então você apagou a memória dele.

O feiticeiro esfregou a testa. Durante todo seu relato, seu corpo foi cada vez mais adquirindo uma pose cansada. Seus cotovelos se apoiavam nos joelhos, e seus ombros se encolhiam como se algo pesasse neles. Com o canto dos olhos, ele observava Stiles, ainda dormindo na mesma posição aquele tempo todo.

- É. - foi sua resposta, que soou mais como um suspiro.

Derek se levantou, então. Seus passos se arrastavam enquanto dava voltas no quarto, mas não faziam muito para preencher o silêncio desconfortável que se seguiu. Repassou a conversa em sua cabeça, aquela data, e tentou se lembrar do que acontecera naquele dia. Havia sido na lua cheia do mês de julho. Derek fora até a casa do lago ajudar Malia com a transformação, e deixou Stiles no loft. No final, Malia nem sequer precisava de ajuda, e ele acabou não fazendo muita coisa.

Foi a noite que Stiles o ligou. Derek havia achado estranho, mas Stiles dissera que só estava tendo um momento ruim. E estava mesmo. Muito pior do que Derek podia imaginar, aparentemente.

Parou de andar para se apoiar na cômoda, de frente com a cama. O feiticeiro continuava em sua cadeira, ao lado de onde Stiles estava deitado.

- Ele não me contou. - disse, e se surpreendeu consigo mesmo. Essa foi a primeira conclusão que tirou daquilo tudo. Stiles mentiu.

- Ele não sabe. - o feiticeiro falou. - Eu apaguei a conversa da mente dele, também. Ele não sabe que está faltando uma memória.

- Isso não muda o fato de que ele fez isso pelas minhas costas.

O feiticeiro hesitou.

- Não. Eu suponho que não.

- Eu não me lembro de pagar nenhuma taxa extra. - Derek mudou de assunto, tentando ignorar a pontada dolorida em seu peito. Stiles mentiu para ele.

- Eu não cobrei. Me arrependi assim que acabou.

- Por quê? Por que isso é algo tão ruim? Você disse que avisou ele que era perigoso, mas como pode ser?

- Porque tudo o que somos é formado pelas coisas que vivemos. - ele se inclinou para trás, deitando as costas na cadeira. - E você não pode apagar parte de quem você é, por mais que queira. Ele tentou o jeito fácil para se livrar do passado, mas isso não existe. Ele sempre volta para você, de um jeito ou de outro. Traumas não vão embora sem consequências só porque você não pensa sobre eles.

- A sensação estranha. - Derek adivinhou. - É um resquício daquilo.

- Mais ou menos. Eu tenho certeza de que a psicologia moderna tem um nome para isso. Mas, basicamente, só porque você não se lembra de um trauma, não quer dizer que ele não te afeta.

- Ele sentiu o mesmo quando Donovan o atacou. É esse o gatilho? Estar em perigo?

- O bebê estar em perigo, mais especificamente.

- Ele usou os poderes da aura.

Derek havia sentido. Na verdade, quando Stiles empurrou Theo para longe, Derek suspeitava que todos naquele porão tivessem sentido. Foi como se uma onda de energia passasse por eles. Era tão parecida com o ar carregado na biblioteca, na noite que Donovan o atacara. Era o poder, e era uma sensação quase palpável.

- Eu achei que as cápsulas...

- Elas impedem que a aura tenha acesso a ele. - o feiticeiro explicou. - Não que ele tenha acesso a ela.

- Então... ele pode usar esses poderes?

- Eu... - houve uma pausa. - Eu não recomendaria.

- Por quê? O que vai acontecer?

Trust me || Sterek ||Where stories live. Discover now