Prólogo

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Lisieux - França

Era de tarde. Os raios de sol não estavam muito fortes e estava agradável andar pela rua sem abrir minha sombrinha. Tinha acabado de sair de um minicurso de inglês intermediário, não que precisasse, mas já que estavam oferecendo gratuitamente, porque não aproveitar? Não precisaria me preocupar com os estudos, já terminei o lycèe mais cedo possível e com isso minha maior preocupação seria o resultado do baccalaurèat. O Baccalauréat é conhecido como uma qualificação acadêmica que nós franceses e estudantes internacionais consiga ingressar em uma universidade ao final do lycèe, também conhecido como ensino médio.

A melhor alternativa por enquanto é encontrar um emprego para ajudar minha tia. Minha maior preocupação agora é na possibilidade de ser aceito em uma boa universidade de Direito. Meu maior sonho é ser um brilhante advogado (e sim, se você não sonhar, ninguém vai por você). Se você não crer que é possível, sua mentalidade vai te limitar. Se você não declarar que irá alcançar e se esforçar para tal, seus passos não sairão do lugar! Pode até ser exagero, mas esse é meu sonho.

Já havia enviado vários e-mails sobre meus desempenhos escolares (não querendo me gabar, mas eu era um aluno exemplar, excelentes notas e bom desempenho). Lembro-me de uma vez que recebi cincos estrelas por tirar A+ em quase todas as matérias. Na escola que eu estudava, quem recebia essas estrelas era tachado de nerd. Esse tipo de cena ridícula lembrava filmes americanos em que mostravam o menino inteligente e nerd sem amigos, introspectivo e, em algumas situações, ingênuo e/ou bobo. E aqui não é muito diferente. Como eu era o estudante mais aplicado, brincadeiras como essa sempre foram presentes na minha vida. Não que me importasse muito, afinal, adorava ser reconhecido pela minha principal qualidade. Porém tinha horas que isso incomodava bastante, e quase não aguentava. Mas sempre colocava meu sonho e objetivo a frente de tudo, para que assim não me deixasse cair por pouca coisa ou por algo bobo.

Entretanto, eu tinha mandado meu currículo escolar desde a minha formatura e até agora nada de uma resposta. Não irei desistir tão fácil e, enquanto eu não recebo uma resposta, procuro um trabalho para ajudar minha família (ou que resta dela). Não falo isso por mal, falo porque não conheço meus pais. Fui deixado na porta da casa da minha tia quando eu tinha 9 meses de vida. Bom, foi essa a história que minha tia me contou quando eu perguntei pela primeira vez sobre eles.

Tia Diana me contou que meus pais eram muito irresponsáveis em relação a terem um filho, e que minha vinda foi inesperada, pois falavam que não teriam tempo para cuidar de uma criança. Posso admitir que eu me sentia naquela época uma criança solitária, uma criança sem seus pais para te ajudar na escola, sem um ombro amigo para auxiliar nos momentos difíceis de sua própria existência. Era complicada a situação. Mas agora eu não me preocupo mais. Sou adulto suficiente para entender que os fantasmas do passado não me ajudaram em nada com a minha história, e que ajudar minha tia, que me apoiou como uma verdadeira mãe, era a prioridade. O vibrar do celular interrompe meus pensamentos. Vejo que é tia Diana me ligano e atendo.

- Salut tante. (Oi tia.) - Falo ao atender.

- Lucas, viens en courant à l'hôpital! Son cousin a eu un accident sur le chemin du travail. (Lucas, vem correndo para o hospital! Seu primo sofreu um acidente no caminho do serviço.) - A voz da minha tia dava sinal que estava chorando a minutos antes. Minha expressão antes serena, agora é de total preocupação e aflição.

"O que meu primo fez para estar nessa situação?" Foi o meu primeiro pensamento. Minha relação com meu primo era tranquila, nada que um pudesse prejudicar o outro. Mesmo assim, ele era muito protetor quando se falava de mim, quase ninguém chegava perto de mim por causa dos seus instintos de irmão protetor, mesmo nós não sendo irmãos. Ele já era formando em enfermagem (ou seja, um enfermeiro brilhante), via alegria nos seus olhos quando ele ia e vinha do serviço. E agora recebo a notícia que ele se acidentou, fico ainda mais preocupado com ele.

A PropostaWhere stories live. Discover now