Capítulo 1

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Há aproximadamente dois anos atrás:

Querida, Victoria...

Hoje pensei em você. Pirulito de caramelo! Lembra-se? Como quando deixamos um no banco do carro do papai e juramos que não sabíamos de nada.

O seu cheirinho ainda está no seu quarto. Ainda te ouço a noite.

Seu pai e eu decidimos voltar ao Brasil à procura de alguma evidencia, de algo que talvez deixamos passar.

Eu te juro que os encontrarei.

Sinto sua falta, e é por essa falta, meu amor, que eu vou fazer justiça!

Mamãe Helô


Heloísa pegou o caderno e o guardou dentro de uma caixa aveludada; caixa essa que guardou uma das tantas joias que ganhara de seu marido, Antônio. Em uma gaveta na penteadeira onde um dia a pequena Victoria sentou-se para brincar de maquiar-se, ela o guardou. Em seguida, guardou a pequena chave que trancava a caixa de veludo em seu pescoço. Usava-a como pingente.

Com um vestido inteiramente negro, altura de pouco menos de um palmo acima do joelho, manga curta, e acompanhada de um belo salto alto, Heloísa desceu as escadas da sua bela casa, localizada em um bairro nobre em Madri, Espanha.

— Está linda, meu amor. Estaria mais ainda se parasse de usar essa cor.

Após ajudá-la a descer os últimos degraus, Antônio a contemplou com um delicioso e doce beijo na boca.

— Obrigada pelo conselho, mas por enquanto, essa é a cor que eu quero usar. Por favor.

— Tudo bem, a decisão é sua, você fica linda de qualquer jeito. Mas é que já se passaram seis meses e...

— Vincent já colocou as malas no carro?

— Já, só estávamos esperando você.

— Na empresa ficou tudo certo?

— Sim, pode ficar tranquila.

Ao entrarem no carro, Heloísa respirou fundo e em seguida recostou junto ao peito do marido.

— Está tudo bem? — indagou, acariciando os cabelos da esposa.

— Está.

— Você não precisa ir até lá.

— Para encontra-los eu estou disposta a passar por todos os lugares novamente.

Antônio deu um beijo nos cabelos dela e a apertou um pouco mais contra seu peito.

Um tempo depois, o motorista Vincent abriu a porta da luxuosa Mercedes Benz.

— Senhor e Senhora McGarden.

— Obrigada, Vincent.

— A seu dispor, senhora McGarden.

Heloísa segurou a mão do marido e depois que o mesmo deu as instruções necessárias para Vincent, seguiram até o aeroporto.

Depois da morte da pequena Victoria, Heloísa tornou-se fria. Quase nunca sorria. Lágrimas? Desde o enterro de um corpo que nunca fora encontrado, ela não derramara nenhuma.

As horas dentro daquele avião pareciam ter parado. A cada hora na verdade nada mais eram do que cinco minutos.

— Meu amor? Está bem? Está sentindo alguma coisa?

Memórias [Concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora