Capítulo 3

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    — Se ficarmos aqui esperando voltarem com tudo o que sacarem dessa casa, morreremos do mesmo jeito.

— Junior tem razão. Eu vou!

— Vai? Vai abrir a porta? Assim, sem nada para se defender?

— É a minha única opção.

— Eu... Eu te dou cobertura.

— Eu...

— A senhora fica aqui. Se não tiver ninguém atrás dessa porta, correremos para um lugar seguro.

— Mas e o meu marido?

— Senhora, saindo daqui, pedimos ajuda.

Heloísa olhava a pequena Victoria nos braços e pensava que "ela ainda era apenas um bebê". Com o máximo de silêncio, Fabrício abriu a porta da cozinha. O coração de Heloísa estava na mão. Parece que ouviria a qualquer momento um barulho de tiro. Ela tinha os olhos angustiados e a pequena Victoria junto a seu peito.

— Senhora McGarden?

Ela olhou assustada para eles.

— Vem! — chamando-a com a mão ainda presa — É agora ou nunca.

Dizendo isso os três começaram a andar em passos apressados em direção ao jardim. A pequena Victoria parecia entender o que acontecia, pois não chorou em um momento sequer desde a hora em que deixaram a cozinha. Atravessando o jardim, entrariam em um parque ecológico que havia ao lado da casa deles.

— Não me diga que esse mato todo aí na frente é o parque?
— Sim.

— Não temos luzes. Como vamos andar ali dentro?

— Daremos um jeito! Logo encontraremos um vizinho. O importante é sair dessa casa.

Estavam prestes a sair do jardim pelo portão lateral, quando ouviram um deles gritar da porta por onde saíram e logo dois deles corriam de encontro a eles.

— Droga! — adentrando o parque.

— Vem! — puxando Heloísa.

— Eu não conseguirei correr — chorando — Minha filha, leve-a.

Ele estava nervoso. Eles estavam se aproximando.

— Prometa que vai protegê-la!

— A senhora precisa vir também.

Ele continuava em silêncio.

— Prometa! — gritando.

Não havia alternativa, Heloísa já estava com Victória em sua direção.

— Eu prometo! — pegando-a como pode dos braços de Heloísa.

— Eu vou te buscar, minha vida!

Ele virou com a pequena Victoria nos braços e atravessando o portão lateral da casa, adentrou naquele bosque. O choro da pequena começou no momento em que Heloísa a colocou nos braços daquele homem, e fora ficando abafado conforme desapareciam naquela escuridão. As lagrimas insistiam em cair. Heloísa deixou que os joelhos dobrassem e encostassem ao chão. Eles chegaram até ela, e logo que a seguraram pelo braço, a mesma sentiu uma dor surreal em sua nuca. As palavras já não se formavam em sua boca, os olhos foram pesando, ela sentiu o corpo indo em direção ao chão. Sua última visão foi dois dos bandidos entrando em meio àquelas arvores atrás dos policiais e de sua bebê. Depois disso, não viu mais nada.

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