Capítulo 14

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Heloísa absorvia aos poucos as informações. Olhou calmamente todo o quarto. Sabia onde estava e o porquê de estar ali. Mas não queria lembrar. Reparou também que não havia ninguém no quarto, que apenas os aparelhos faziam- lhe companhia. Será que pela segunda vez foi abandonada para morrer? Será?

Olhou para o lado e viu o botão de emergência. Mesmo com toda a dificuldade que sentiu devido aos fios dos aparelhos, ela virou-se para aperta-lo, e o apertaria com mais força se não fosse a dor intensa que sentiu em seu peito.
Logo médicos entraram no quarto de Heloísa. Não imaginaram que fora a própria paciente que os chamou.
— Senhora McGarden.
Ele aproximou e começou a fazer os exames necessários. Depois de alguns minutos o mesmo completou:
— Está ótima. Só precisamos prestar muita atenção no lugar da cirurgia. Você se lembra do que aconteceu? Do porquê está aqui?
— Nunca irei esquecer. Como ele está?
— Ele? Ele quem?
O médico mal podia acreditar. Ela ficou entre a vida e a morte por dias, e quer saber como outra pessoa está?
— Rodrigo.
— Rodrigo? Rodrigo... — o médico precisou de um tempo para ligar o nome à pessoa — Ah Rodrigo, sei. Ele está ótimo.
Ela não pode disfarçar o sorriso que se formou em seus lábios ao ouvir aquilo.
— Mas antes de se preocupar com os outros, precisa se preocupar com você. Inclusive eu não disse que você podia se sentar desta forma.
— Mas eu estou bem.
— E isso também sou eu que decido, senhora.
O médico sorria tão docemente para ela, que a mesma jamais ousaria a contrariá-lo. Porque afinal, para falar daquela maneira com a mesma, só mesmo tendo muita audácia ou nenhuma ideia de com quem estava falando.
— Deve estar com fome...
— Na verdade não, mas eu...

— Ainda não pode comer tudo, e provavelmente se sentirá enjoada por esses dias, mas pedirei que te mandem algo. Precisa colocar vitamina em seu corpo.

Ela gostou do jeito daquele médico. O mesmo a olhava de forma engraçada, e aquela preocupação toda a deixava confortável.
— Mas antes, irei lá fora. Tem alguém que quer muito te ver e que quase morou nesse hospital por você.
A voz dela ainda era um tanto baixa. Ainda estava com o soro, mas a vontade que teve foi de sair correndo e gritando em direção aos braços de Rodrigo. Sim, era ele. Ela tinha certeza disso.
O médico não disse mais nada, apenas saiu em direção a sala de espera, onde Rodrigo conversava com Julia. O homem estava visivelmente afobado, como se as notícias fossem pular de sua boca a qualquer momento. Rodrigo estava conversando com Julia. A mesma chegou com o suco para ninguém.
— Mas ela...
— Teve uma emergência. Não deu tempo de avisar.
O médico chegou quase que correndo e praticamente junto com Julia.
— Doutor, aconteceu alguma coisa?

Rodrigo já pensara no pior, afinal, a expressão do médico era literalmente confusa.
— Aconteceu. Ela acordou e está bem. Precisamos de muitos exames para ter certeza, mas aparentemente está tudo bem.
Parecia que era o médico quem esperou todo esse tempo.
— Mas que ótima notícia!
— Podem vê-la. Mas somente um de cada vez.
— Acho que nem precisamos pensar. Vou logo depois de você, Rodrigo.
— Eu? — afastando-se.
— Claro, ou você quer ir depois? — estranhando.
— Eu acho que...
Rodrigo ia afastando-se. A ideia de que ela estava bem já o confortava, mas algo dentro dele brigava para que ele continuasse aquela denúncia. E como iria olhá-la nos olhos depois de tudo? Sua última palavra foi
"Eu não posso". Depois disso ele saiu daquele hospital e foi para o único lugar que poderia refugiar-se
Enquanto isso, Heloísa aguardava a chegada de Rodrigo. Tinha certeza de que era ele, de que ele esteve com ela todo esse tempo. Ela sentia isso. Mas seu sorriso eufórico inevitavelmente desfez-se ao ver Julia entrar no quarto.
— Nossa, podia ao menos disfarçar — aproximando-se.
— Desculpe-me. Pensei que fosse outra pessoa.
Julia sorriu e sentou-se ao lado da cama.

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