Memórias [Concluída]

Capítulo 11

Era uma tarde de domingo abafada, provavelmente choveria mais tarde. Heloísa aguardava Julia em sua casa. Havia comprado um chá inglês e convidara a amiga. Com o passar das semanas, Heloísa e Julia ficaram mais próximas, tanto que em duas vezes, Heloísa quase contou para Julia que na verdade era Heloísa McGarden.

A mesa estava posta. Rodrigo estava cobrindo um evento público na cidade. Heloísa escrevia em seu caderno quando a campainha tocou. Guardou o mesmo em uma gaveta ali mesmo na cozinha, afinal, antes de Rodrigo chegar, ela o guardaria em seu devido lugar. Quando abriu a porta, Julia logo a cumprimentou com um carinhoso abraço. Heloísa não pôde esconder o calafrio que sentiu invadir seu corpo ao ver o que Julia usava.

Heloísa O que foi? Heloísa? Heloísa — chamando sua atenção.

— No seu... Seu pescoço — gaguejando.

— Ah! Linda, não é? — pondo a mão sobre a gargantilha.

— É uma linda joia. Onde foi que comprou?

— Foi uma de minhas viagens com meu ex-marido. Acho que foi em... Em...

— Madrid?

— Isso! Madrid. Como sabe? — estranhando.

Heloísa não dizia nada, apenas a olhava com os olhos vidrados.

— Helô? Está tudo bem?

— Sim, sim está tudo bem. E eu só falei Madrid, porque foi o primeiro lugar que me veio à cabeça. Mas entra. Vamos até a cozinha. O chá já está posto.

Julia a seguiu até a cozinha. Realmente o chá estava posto, e de uma maneira que nunca vira.

— Nossa, até parece que é a Rainha da Inglaterra quem vai tomar chá aqui — sentando-se depois de Heloísa.

Heloísa riu, mas o sorriso fechou-se quando Julia ficou séria e perguntou olhando nos olhos de Heloísa:

— Quem realmente é você?

Os olhos de Heloísa olhavam para toda a cozinha, menos para Julia.

— Eu não sei o que você está dizendo. Como assim quem sou eu? Eu sou Heloísa Aparecida.

— Não.

— Sim.

— Não!

— Qual é o seu problema, Julia?

— Eu já sei de toda a verdade. Heloísa Aparecida não existe. Nunca existiu.

Ela não tinha mais saída. Quando foi que Julia chegou a essa conclusão? Talvez nunca saiba, mas agora está cercada. Não tem mais saída. Terá que abrir o jogo com Julia. Mas ao contrário do que imaginou, não se sentiu obrigada a contar tudo, pelo contrário, sentiu-se aliviada após contar tudo.

— Heloísa McGarden...

— Por favor, Julia. Rodrigo não pode nem sonhar que...

— Não será pela minha boca que ele saberá disso.

Heloísa encontrou em Julia uma aliada, ou melhor, uma amiga.

— Muito obrigada — segurando as mãos dela — Não sabe o quanto me sinto aliviada por ter te contado.

— Pode confiar em mim. Eu juro que se meu ex-marido não estivesse vigiando todos os meus gastos, eu contrataria um detetive para te ajudar a encontrar esse assassino de sua filha. Heloísa, o que foi que houve com o primeiro assassino que você soube o paradeiro?