Capítulo 10

79 9 1
                                    


O

que era temido aconteceu e Heloísa sequer percebeu. O tempo passou. Meses se passaram. E a única coisa que Heloísa conseguiu nesse tempo todo foi... Viver, amar e ser amada. Desejar e ser desejada. Suas confissões para a pequena Victória, nada mais foram do que simples relatos. Relatos de um dia na praia com Rodrigo. Da primeira vez em que lavou uma roupa. Da vez em que ambos resolveram tomar um porre juntos porque era feriado e não iriam trabalhar. Do dia em que Rodrigo lhe preparou um lindo jantar para comemorarem a promoção dela para gerente da pequena loja de doces. Contou também sobre Julia, a sua amiga que sempre estava pronta para o que ela precisar.

Esses foram os dias de Heloísa Aparecida, mas que viveu intensamente como Senhora McGarden, porque a senhora McGarden, apaixonou-se e sequer se deu conta de que em todo esse tempo, encontrar o assassino de Victória já nem fazia mais parte de seus objetivos. Quando isso mudou? Não saberia dizer, afinal, ainda não percebera tamanho problema ou o que ela julgaria ser um problema quando se desse conta.

Meu pequeno anjo.

Sua mãe está vivendo os melhores dias da vida dela. Não sei quando foi que comecei a cogitar essa possibilidade, mas estou. Confesso que estou pensando em contar a Rodrigo quem eu realmente sou, torcer pelo seu perdão, e dizer ao mundo que estou viva e retomar meus direitos como senhora McGarden. Mas ao mesmo tempo penso em não fazer nada disso. Penso que posso estar me enganando, que isso seja apenas uma ilusão. Nessa idade, talvez não passe de uma burrice, ou talvez seja a chance de recomeçar a ser feliz. A felicidade que me foi roubada no dia em que me tiraram você.

Era um lindo dia, porém segunda-feira.

Heloísa agora como gerente, mudou de horário. Trabalhava menos, mas entrava mais cedo. Acordou primeiro que Rodrigo e foi fazer o café. Com o tempo aprendeu e aperfeiçoou no mesmo. Rodrigo logo acordaria. Heloísa comprara um despertador daqueles antigos e que ficava ao lado da cama deles. Ela ouviu o despertador lá da cozinha. O barulho dos passos pesados anunciava que Rodrigo acordara, mas que queria dormir um pouco mais. Ela arrumava a mesa enquanto ele fazia sua higiene. Quando o mesmo chegou à cozinha, tinha a cara um tanto emburrada.

— Bom dia, Rodrigo.

— Amor! Por que não me deixou dormir mais? Hoje é minha folga.

— Nossa! Havia me esquecido completamente. Mas você vai ficar em casa a tarde inteira. Pode dormir depois e me fazer companhia no café agora — sorrindo.

Ele aproximou-se dela e a beijou.

— E tem como dizer não pra esse sorriso lindo? — rindo.

Assim que tomou o primeiro gole do café, logo a elogiou:

— Nossa! Esse café está divino. Está chegando à perfeição. Logo podemos montar uma cafeteria, hum? O que você acha?

— Acho que hoje eu tenho um dia muito cheio e tenho que ir me arrumar — levantando-se da mesa.

— E qual era a parte em que tomávamos o café juntos?

Heloísa já estava a caminho do quarto, quando respondeu:

— Você fica falando em vez de tomar o café, bem feito!

E assim eram as manhãs de Rodrigo e Heloísa.

Ela estava pronta, depois de quase uma hora.

Após subir para o cargo de gerente, Heloísa voltou a cuidar mais de si, maquiar-se, a vestir-se com roupas que valorizavam seu corpo.

— Hum, acho que a dona daquela doceria deveria aumentar o seu salário. Provavelmente 90% dos clientes, vão até lá apenas para ver a linda gerente que trabalha naquele lugar.

Memórias [Concluída]Where stories live. Discover now